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Mostrando postagens de 2019

Fotos e fatos das Assembleias de Deus - Pernambuco

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Quando surgiu no final do século XIX, muitos acreditaram que a fotografia seria o “espelho do real”. Hoje a conceituação mudou. A fotografia congela um momento do tempo e espaço, mas é sujeita a interpretações e manipulações por parte de diversas mídias. Ela (a foto) pode reforçar ou mascarar realidades. A proposta nessa postagem é analisar algumas fotos históricas e refletir sobre os bastidores e desdobramentos históricos das mesmas. A imagem abaixo é o registro do culto fúnebre do pastor José Amaro da Silva, que liderou a AD em Pernambuco de 1956 a 1977. José Amaro era um obreiro respeitado e dinâmico e seu desaparecimento repentino, em 14 de abril de 1977, além da grande comoção entre os assembleianos, causou, segundo Moisés Germano, uma "divisão branca" na igreja pernambucana. Em reunião convocada no dia 04 de julho de 1977, sob a mediação do missionário Eurico Bergstén, a Convenção da Assembleia de Deus no Estado de Pernambuco (CONADEPE) teve que escolher en

As ADs e o problema educacional (2ª parte)

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Como observou-se na última postagem, antes do editorial escrito na revista A SEARA , em 1956, pelo pastor João Pereira de Andrade e Silva, intitulado "As Assembleias de Deus e o problema educacional", alguns Ministérios já tinham tomado algumas iniciativas nessa área. A Escola São Paulo, em Madureira/RJ, já era uma realidade, assim como a Escola Primária Nels Nelson, em Manaus/AM. Naquele mesmo ano de 1956, no bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo, o pastor Alfredo Reikdal fundou uma escola primária e, em 1957, um concorrido curso de datilografia. Há também o registro fotográfico de 1956 de um educandário em Dourados no atual Mato Grosso do Sul. Em 1959, o pastor Alcebiades Vasconcelos, ao dar autonomia as congregações da AD em São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro, criou o Instituto Filantrópico Evangélico para gerenciar as 07 escolas de nível primário com mais 780 crianças matriculadas. Era um número expressivo de estudantes na rede de ensino da igreja ca

As ADs e o problema educacional (1ª parte)

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Durante a 8ª Assembleia Geral Extraordinária (AGE) realizada em Ananindeua, na região metropolitana de Belém (PA), a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) tomou uma decisão histórica ao aprovar a criação da Rede Assembleiana de Ensino (RAE). A proposta, visa criar instituições de ensino de nível fundamental, médio e superior dentro das ADs seguindo o exemplo de igrejas evangélicas históricas. A preocupação com a criação de instituições escolares dentro das ADs não é nova. Em 1956, a revista A SEARA  (novembro/dezembro), no seu editorial, reconhecia o crescimento e os avanços da denominação nas questões sociais com a criação de asilos e orfanatos, mas apontava que pouco havia feito até então na questão escolar. Segundo A SEARA , algumas igrejas mantinham educandários em funcionamento, mas outras de elevado número de membros, infelizmente, não possuíam nem mesmo escolas primárias ou ginásios (nome dado ao antigamente ao atual ensino fundamental). A preocupaçã

Silas Malafaia - a contradição gospel (2ª parte)

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Silas Lima Malafaia desperta sentimentos contraditórios e as redes sociais estão ai para provar isso. Herdou, do pai e dos tios, o temperamento forte e do sogro recebeu a AD na Penha, bairro de classe média da cidade do Rio de Janeiro. No começo da década de 1980, o jovem pregador começou o seu programa na televisão, quando o aparelho ainda era um tabu na denominação. Quando fundou a Central Gospel em 1999, o contexto da economia internacional favorecia os países emergentes como o Brasil. A alta das commodities (mercadorias produzidas em larga escala e que podem ser estocados sem perda de qualidade, como petróleo, suco de laranja congelado, boi gordo, café, soja e ouro) gerava caixa para o governo federal investir em obras públicas e programas sociais. Houve uma enorme expansão do consumo através do acesso ao microcrédito a pessoas físicas. Nesse ambiente favorável aos negócios, a empresa de Malafaia prosperou. Seu programa ganhou mais audiência e ajudava na divulgação dos prod

Silas Malafaia - a contradição gospel (1ª parte)

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Criada em 1999, a Central Gospel, empresa controlada pelo pastor Silas Malafaia "comemora" de forma amarga esse ano seu 20º aniversário de fundação ao pedir recuperação judicial. Um duro revés para uma família que tem uma longa trajetória de influência na área editorial. O pai de Silas, o pastor Gilberto Malafaia por muitos anos exerceu cargos da CGADB e na CPAD. A mãe, por sua vez, a professora Albertina Malafaia, colaborou na estruturação pedagógica das revistas da escola dominical, principal produto da editora. Atribui-se a Malafaia pai, o desligamento em 1989, do então diretor de publicações da CPAD, Nemuel Kessler devido a séria divergências envolvendo Albertina. O poderio dos Malafaia na CPAD, demonstrava-se não só na blindagem dos seus membros na empresa, o que causou a demissão de Kessler, mas no fato de alguns interesses familiares serem contemplados. Exemplo disso, eram as compras que a Casa fazia dos livros da JUERP, na época patrocinadora do programa tele

Assembleia de Deus em Mato Grosso - contra o aggiornamento

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Causou espanto e, em muitos casos, indignação para muitos evangélicos, a divulgação da resolução da Mesa Diretora da Convenção de Ministros das Assembleias de Deus do Estado no Mato Grosso (COMADEMAT), na qual reafirma "o seu ponto de vista no tocante aos sadios princípios" implantados pelas Assembleias de Deus no Brasil. O documento é praticamente a cópia de outras normativas muito conhecidas pelos estudiosos assembleianos,  mas que gradativamente estão sendo relaxadas ou até mesmo abandonadas por muitas igrejas e ministérios. As igrejas do Mato Grosso, assim, pretendem ir na contramão do "aggiornamento" do pentecostalismo brasileiro, conceito trabalhado pela historiador Moab César Carvalho em seu livro "O Aggiornamento do Pentecostalismo Brasileiro". Uma rápida pesquisa nos acervos do Mensageiro da Paz apontam para a persistente postura tradicional do pastor Sebastião Rodrigues de Souza. Eleito presidente da CGADB para o biênio 1993/95, o in

Irmã Wanda - o adeus da matriarca do Belenzinho

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Partiu para a eternidade, a irmã Wanda Freire da Costa, esposa do pastor José Wellington Bezerra da Costa. Nascida em Fortaleza/CE, no dia 22 de setembro de 1934, ela era filha de comerciantes e a mais velha das mulheres num total de nove irmãos. Começou a frequentar a Assembleia de Deus ainda criança e participava ativamente dos departamentos da igreja. Nesse contexto, Wanda conheceu José Wellington. Os dois começaram a se aproximar na adolescência e para ser notado pela moça, ele ficava na porta saudá-la com a "Paz do Senhor". Numa viagem de evangelização promovida pela juventude da igreja os dois iniciaram a aproximação. Estavam com 15 anos de idade e Wellington brincava de desamarrar as tranças do cabelo dela cuidadosamente presas com fitinhas.  No dia 14 de janeiro de 1950, o convite para o namoro foi feito na Praça da Lagoinha depois da saída dela do colégio. Sentado no banco da praça ao lado do jardim, o jovem Costa arriscou o pedido. Wanda queria ainda pensar u

Igrejas e Ministérios - a busca pela legitimidade

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As Assembleias de Deus no Brasil vivem nos últimos anos, uma intensa fragmentação ministerial. CGADB, CONAMAD, CADB e outras convenções menores disputam espaço e representatividade no mundo eclesiástico e, principalmente, no político. Na última postagem do blog, refletiu-se sobre a importância e utilização da história e memória na busca pela legitimação institucional, pois diante da cada vez mais acirrada concorrência ninguém quer ficar à margem da história ou parecer um simples genérico dentro do sistema. Por esse motivo, entre as igrejas cresceu a valorização e a utilização de substantivos que reforçam suas origens. Exemplo disso é a valorização que a AD em Belém/PA dá cada vez mais ao título Igreja-Mãe. As ADs em Santos/SP e em Macapá/AP também enfatizam sua primazia em seus estados com a nomenclatura "a pioneira". Mas há casos inusitados. Em Manaus/AM, nos anos 2000, uma cisão gerou a AD Tradicional. Nascida em oposição aos métodos controversos da AD liderada

CGADB, CONAMAD, CADB - memórias e símbolos em disputa

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A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), a Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira (CONAMAD) e a Convenção da Assembleia de Deus no Brasil (CADB) são instituições congêneres que competem entre si na grande comunidade assembleiana. A rivalidade entre as convenções não se dá somente na área dos poderes terrenos e eclesiásticos. Há também uma intensa disputa pela memória assembleiana e os símbolos que a representam. Nos últimos anos, essa rivalidade ficou mais explícita, principalmente entre as lideranças da CGADB e da recém-criada CADB. A saída da CONAMAD da CGADB em 1989 também gerou turbulências. Mas, no campo da memória, o Ministério de Madureira é muito mais direcionado para o mito do pastor Paulo Leivas Macalão, seu fundador e líder por mais de cinco décadas. Painel colocado no aeroporto de Belém: disputa pela memória  Todavia, na década de 1990, Madureira quase sofreu um abalo, quando o pastor da AD em Bangu, Ades dos Santos, proc

Matheus Iensen - chegou a hora de partir (2ª parte)

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Matheus Iensen já era conhecidíssimo por sua atuação no rádio e pelo ministério de louvor, quando foi apoiado pela Convenção das Igrejas Assembleias de Deus do Estado do Paraná (CIEADEP) para concorrer a uma vaga de deputado federal e participar da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), a qual elaboraria no processo de redemocratização, uma nova Constituição para o país. Segundo Paul Freston e seu livro "Evangélicos na Política Brasileira", a escolha do nome de Iensen encaixava-se no perfil de muitos outros candidatos apoiados pelas ADs: a do cantor ou pregador conhecido e detentor de capital político para alavancar uma candidatura e a do empreendedor bem sucedido; sinal da benção de Deus sobre seus negócios. Freston também salienta, que a mística da ANC ajudou na mobilização das minorias na defesa de seus valores. Assim, o discurso dos candidatos evangélicos em defesa da família ou sobre a suposta ameaça a liberdade de culto era a tônica das campanhas pentecostais

Matheus Iensen - chegou a hora de partir (1ª parte)

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Faleceu no dia 18 de abril de 2019, um dos ícones do evangelismo radiofônico e da música sacra evangélica: o empresário, cantor, pastor e ex-deputado federal pelo estado do Paraná, Matheus Iensen, aos 82 anos de idade. Segundo sua biografia, Matheus nasceu na madrugada do dia 07 de janeiro de 1937, na pequena Imbituva, na época distrito de Guamiranga, na região sudeste do Paraná e a 136 quilômetros de Curitiba. Era o sexto filho de uma família de sete irmãos de família humilde e pobre. Como a maioria das crianças de famílias do interior, Iensen conheceu cedo o trabalho na lavoura e na criação de animais. Na adolescência foi ajudar o pai em uma ferraria no distrito de Três Vendas em Faxinal. Infelizmente, a ferraria foi consumida num incêndio e, despertados por Matheus na madrugada, a família Iensen conseguiu sair da casa anexa ao local de trabalho e se salvar de uma grande tragédia. Da perca total da ferraria, os Iensen foram trabalhar numa serraria e posteriormente começa

As Assembleias de Deus e a geopolítica das convenções

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Gedeon Alencar, em sua obra “Matriz Pentecostal Brasileira”, afirma que relacionar as cidades ou igrejas hospedeiras da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) seria uma "forma didática de entender os sistemas geopolíticos das entranhas dessa igreja". Receber uma CGADB é sinal de poder econômico e político da liderança da igreja escolhida. Alencar observa que a "politização geográfica" da Convenção Geral nasceu em 1930, em Natal/RN, com a intimação feita pelos pastores da região Norte/Nordeste para resolver problemas que atrapalhavam o "progresso e harmonia da causa do Senhor" - conforme a convocação publicada no Boa Semente . O sociólogo também chama a atenção para o fato de que nenhuma CGADB foi realizada no Ministério de Madureira. Paulo Macalão até tentou hospedar a Convenção Geral de 1971, no templo da Rua Carolina Machado, mas a Junta Executiva resolveu escolher a cidade de Niterói/RJ. A CGADB de 1971 não foi realizada em Mad

IEADJO - primórdios da igreja na década de 1930

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"Joinville, a mais importante cidade onde as indústrias em atividade (dia e noite) e o povo ordeiro procura a paz e o trabalho, não poderia ficar sem a visitação da fé pentecostal."  (Albert Widmer) Foi com essas palavras escritas ao Mensageiro da Paz (1ª quinzena de março de 1938) que o missionário suíço Albert Widmer abriu o seu relatório na seção "Na Seara do Senhor" sobre os trabalhos da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Joinville (IEADJO). Na época, a "Cidade dos Príncipes" contava em média com 30 mil habitantes e um promissor parque industrial e comercial. Quando os leitores de todo o Brasil leram as informações divulgadas por Widmer, a IEADJO já possuía cinco anos de atividades na "Manchester Catarinense". Fundada em 1933, por Manoel Germano de Miranda, a congregação reunia-se primeiramente na região do atual bairro Itaum e, posteriormente, devido às perseguições, alugou uma casa na antiga Katharinenstrasse, nome original d

Joaquim Marcelino da Silva - entrevista histórica

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O pastor Joaquim Marcelino da Silva foi um dos principais pastores das ADs no Brasil e por duas vezes exerceu a vice-presidência da Junta Executiva da CGADB. No período que liderou a AD em Santo André/SP, a igreja paulista hospedou a Convenção Geral em 1966 e 1975. O Mensageiro da Paz , em janeiro de 1969, publicou uma rara entrevista com o líder assembleiano, que no fim da década de 1940, era carregador da mala do pastor Cícero Canuto de Lima e por ele foi ordenado pastor em 1948. É possível que sonhasse ser sucessor do velho "timoneiro", pois era um dos obreiros mais preocupados com a sucessão de Cícero. Na entrevista, Marcelino comenta assuntos reveladores de como os pastores assembleianos encaravam o que eles chamavam de "inovações". Também não faltou críticas à televisão, na época considerado o grande perigo para a vida espiritual. Vale lembrar que foi gestão do pastor Joaquim Marcelino, em Santo André, que a CGADB de 1975 produziu o famoso documento norma

José Wellington Bezerra da Costa - entrevista histórica

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No mês de julho de 1988, o Mensageiro da Paz trouxe aos seus leitores uma entrevista exclusiva com o pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da AD Ministério de Belenzinho/SP e, após o falecimento do pastor Alcebíades Pereira Vasconcelos, presidente da CGADB, no dia 12 de maio do mesmo ano. José Wellington foi entrevistado em seu escritório no Belenzinho pelo jornalista e pastor Geremias Couto. No texto de abertura da matéria destacou-se as "considerações [do pastor Wellington] da maior atualidade, que devem ser, também, motivo de reflexão para as demais lideranças de nossa igreja". Nessa postagem selecionou-se alguns pontos interessantes para se refletir sobre a história e os rumos que as ADs tomaram nessas últimas décadas. Na época da entrevista, o líder do Belenzinho contava com 53 anos de idade e estava apenas há oito anos na presidência do ministério paulista. Pastor Alcebíades Pereira Vasconcelos - "Tínhamos no pastor Alcebíades aquela coluna d

Paulo Macalão - entrevista histórica

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Em novembro de 1979, o Mensageiro da Paz publicou um encarte especial para comemorar os 50 anos da fundação do Ministério de Madureira. Além das informações de praxe sobre o início dos trabalhos do pastor Paulo Leivas Macalão nos subúrbios do Rio de Janeiro, o Mensageiro trouxe uma entrevista com o próprio Macalão. No encontro conduzido e gravado em fitas cassetes pelo jornalista e pastor Geremias Couto, o mítico líder de Madureira opinou "com seu jeito simples, porém objetivo e sem meias palavras" sobre vários assuntos. Entre os temas tratados na matéria, selecionou-se aqui pontos interessantes por sua atualidade e controvérsias. Como descreveu Couto, as palavras do pastor Paulo fluíam "lentamente, revolvendo os fatos" que estavam em sua memória. Sempre é bom revisitar os pensamentos do memorável líder. Pastor Paulo Macalão (1903-1982) Ministério Feminino - Ao comentar sobre o eficiente trabalho da Confederação de Irmãs Beneficentes Evangélicas (CIBE),

João Kolenda Lemos e as flores à beira do abismo

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Entre os dias 18 a 23 de julho de 1967, a cidade do Rio de Janeiro recebeu a 8ª Conferência Mundial Pentecostal. O evento de grande repercussão internacional entre os evangélicos, mobilizou a liderança das ADs brasileiras e foi aguardada com grandes expectativas. Para comportar tantos pentecostais do Brasil e do exterior, as celebrações de fé foram realizadas no ginásio do Maracanãzinho e o inesquecível encerramento no dia 23, no Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, na época, o maior estádio de futebol do mundo com capacidade para mais de 155 mil pessoas. Algumas comissões foram criadas para atender aos participantes de várias regiões do planeta: a Comissão de Intérpretes ficou aos cuidados do missionário norte-americano Bernhard Johnson, a Comissão de Som na liderança do pastor Nicodemos José Loureiro e a Comissão de Alimentação sob a responsabilidade do pastor João Kolenda Lemos. Ao chegar ao Rio, o pastor Lemos percebeu no filho Mark de apenas 10 anos, no olhar do