Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Usos e costumes

O Natal assembleiano - controvérsias históricas

Imagem
São muitas as controvérsias sobre as origens das celebrações natalinas. Ao pesquisar na internet , o leitor terá diante de si as mais variadas informações que, justificam ou condenam, os símbolos do Natal (Papai Noel, árvore de Natal, troca de presentes etc.). Na história assembleiana, as polêmicas sobre esse tema são antigas. No longínquo ano de 1938, na convenção de pastores na Paraíba, que contou com a presença do pastor Cícero Canuto de Lima, foi lançada a pergunta que até hoje não quer calar: “Podem as Assembleias de Deus fazer árvores de Natal?”. A convenção foi realizada em janeiro de 1938, e a pergunta, provavelmente, refletiu certos questionamentos do Natal anterior. “Após costumeiras trocas de opiniões, foi estabelecido que não é pecado fazer-se árvores de Natal, por isso que a palavra de Deus não o proíbe” 一 concluíram os convencionais, que ainda citaram um versículo bíblico. Na contramão desta resolução, consolidou-se em muitas igrejas a ideia de que a árvore de Natal era i...

O aggiornamento da AD em Belém do Pará

Imagem
Em seu livro O Aggiornamento do Pentecostalismo Brasileiro , o historiador Moab César reflete sobre o processo de “atualização” (aggiornare) das ADs, principalmente a partir da década de 1980. Segundo o escritor, o processo de adaptação à sociedade de consumo levou muitas lideranças das ADs a empreender “novos projetos expansionistas, mais ajustados ao mercado consumidor e às novas possibilidades que se apresentavam”. Todavia, esse processo não foi (e ainda não é) uniforme dentro de uma denominação como as ADs no Brasil. Alguns ministérios e convenções saíram na frente no movimento de “aggiornamento” e outros resistiram (e ainda resistem) ao máximo às novas tendências. Matéria do MP sobre o Vale da Benção Dos líderes de envergadura nacional, talvez o pastor Firmino da Anunciação Gouveia tenha sido o que realmente mergulhou de cabeça nesse projeto de adaptação aos novos tempos. Nos últimos anos de sua gestão em Belém, o patriarca resolveu apostar em novos métodos de evangelismo na Igrej...

Sou do tempo... (parte 01)

Imagem
“A verdadeira viagem se faz na memória.” Marcel Proust Sou do tempo... em que nas reuniões administrativas da congregação discutia-se, entre outras coisas, a necessidade de arrumar o bicicletário para o pequeno templo de madeira. Eram poucos os membros que possuíam carro, moto ou caminhonete. Hoje, os estacionamentos das igrejas são insuficientes para a grande quantidade de veículos. E para ir ao exemplo mais extremo, tem líder que só visita uma filial do seu ministério se tiver heliporto à disposição. Congregação da AD no bairro Boehmerwald em Joinville em 1983: muitas bicicletas e poucos automóveis Sou do tempo... em que se cantavam os hinos da Harpa Cristã (HC). Obrigatoriamente eram três. Hoje, dependendo do dia e do evento se canta um ou dois. Tem ADs que nem utilizam mais a HC. A liturgia dessas igrejas dispensou definitivamente o hinário que completou cem anos em 2022. Talvez até por coerência teológica: não tem sentido cantar "Na Assembleia de Deus tu estejas / Humilde aos...

Assembleia de Deus em Mato Grosso - contra o aggiornamento

Imagem
Causou espanto e, em muitos casos, indignação para muitos evangélicos, a divulgação da resolução da Mesa Diretora da Convenção de Ministros das Assembleias de Deus do Estado no Mato Grosso (COMADEMAT), na qual reafirma "o seu ponto de vista no tocante aos sadios princípios" implantados pelas Assembleias de Deus no Brasil. O documento é praticamente a cópia de outras normativas muito conhecidas pelos estudiosos assembleianos,  mas que gradativamente estão sendo relaxadas ou até mesmo abandonadas por muitas igrejas e ministérios. As igrejas do Mato Grosso, assim, pretendem ir na contramão do "aggiornamento" do pentecostalismo brasileiro, conceito trabalhado pela historiador Moab César Carvalho em seu livro "O Aggiornamento do Pentecostalismo Brasileiro". Uma rápida pesquisa nos acervos do Mensageiro da Paz apontam para a persistente postura tradicional do pastor Sebastião Rodrigues de Souza. Eleito presidente da CGADB para o biênio 1993/95, o in...

Joaquim Marcelino da Silva - entrevista histórica

Imagem
O pastor Joaquim Marcelino da Silva foi um dos principais pastores das ADs no Brasil e por duas vezes exerceu a vice-presidência da Junta Executiva da CGADB. No período que liderou a AD em Santo André/SP, a igreja paulista hospedou a Convenção Geral em 1966 e 1975. O Mensageiro da Paz , em janeiro de 1969, publicou uma rara entrevista com o líder assembleiano, que no fim da década de 1940, era carregador da mala do pastor Cícero Canuto de Lima e por ele foi ordenado pastor em 1948. É possível que sonhasse ser sucessor do velho "timoneiro", pois era um dos obreiros mais preocupados com a sucessão de Cícero. Na entrevista, Marcelino comenta assuntos reveladores de como os pastores assembleianos encaravam o que eles chamavam de "inovações". Também não faltou críticas à televisão, na época considerado o grande perigo para a vida espiritual. Vale lembrar que foi gestão do pastor Joaquim Marcelino, em Santo André, que a CGADB de 1975 produziu o famoso documento norma...

João Kolenda Lemos e as flores à beira do abismo

Imagem
Entre os dias 18 a 23 de julho de 1967, a cidade do Rio de Janeiro recebeu a 8ª Conferência Mundial Pentecostal. O evento de grande repercussão internacional entre os evangélicos, mobilizou a liderança das ADs brasileiras e foi aguardada com grandes expectativas. Para comportar tantos pentecostais do Brasil e do exterior, as celebrações de fé foram realizadas no ginásio do Maracanãzinho e o inesquecível encerramento no dia 23, no Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, na época, o maior estádio de futebol do mundo com capacidade para mais de 155 mil pessoas. Algumas comissões foram criadas para atender aos participantes de várias regiões do planeta: a Comissão de Intérpretes ficou aos cuidados do missionário norte-americano Bernhard Johnson, a Comissão de Som na liderança do pastor Nicodemos José Loureiro e a Comissão de Alimentação sob a responsabilidade do pastor João Kolenda Lemos. Ao chegar ao Rio, o pastor Lemos percebeu no filho Mark de apenas 10 anos, no olhar do...

A Ceia do Senhor nas Assembleias de Deus - outras histórias

Imagem
Na última postagem, destacou-se no blog sobre as mudanças do uso do cálice na ceia: da taça comum servida para os membros ao copo individual. Foi salientado também as controvérsias das alterações; para muitos uma inobservância do texto bíblico que diz "bebei dele todos". Outras normas, com o tempo, em relação ao culto de ceia foram flexibilizadas. Além de se determinar que somente os membros (e na grande maioria das igrejas ainda segue essa orientação) deveriam participar da ceia, a entrada para o culto deveria ser controlada: somente os crentes com carteirinha validada anualmente pelo pastor comungavam na igreja. O pastor João de Souza Filho lembra até uma situação inusitada: certo dia, Mary Taranger, esposa do líder da AD em Porto Alegre/RS, Nils Taranger, foi barrada na porta da igreja por não estar com sua carteira de membro. O caso só foi resolvido com a presença do próprio Nils para interceder pela missionária. As questões de se restringir os cultos de cei...

A Ceia do Senhor nas Assembleias de Deus - o uso do cálice

Imagem
"Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, abençoando-o, o partiu e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. Tomando o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos" (Mateus 26:26,27). Nos primórdios a celebração da Ceia do Senhor nas ADs era realizada com um ou mais obreiros partindo o pão e servindo o fruto da videira em cálices coletivos. Interpretava-se literalmente as palavras de Cristo na última ceia: "bebei dele todos".  Assim, portanto, todos os participantes do ato litúrgico deveriam tomar do fruto da videira na mesma taça ou cálice. Porém, em 1931, a AD em Belém do Pará acatou as orientações do dr. Amilcar Carvalho da Silva, médico e membro da igreja para a substituição do cálice comum por cálices individuais. O objetivo era evitar a transmissão de doenças contagiosas muito frequentes na cidade por aqueles dias. É provável, que de imediato a decisão tenha gerado muitas controvérsias, porque era descumprimento da o...

CGADB de 1973 - um chef entra para a História

Imagem
Entre os dias 22 a 26 de janeiro de 1973, em Natal, capital do Rio Grande do Norte (RN), foi realizada pela terceira vez, a XXII Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). Nessa época, a igreja estava sob a liderança do pastor João Batista de Silva e contava com quase 10 mil membros e congregados, distribuídos por 18 congregações na cidade. A Convenção em Natal não fugiu das tendências e dos debates, que marcaram outras CGADBs na época. Exemplo disso foram as discussões em torno da televisão. Apesar de ser aprovada na Convenção Geral de 1968 uma resolução proibindo os pastores e evangelistas de possuírem televisores, houve acusações de que alguns líderes do Rio de Janeiro estavam usando a televisão. Em meio a fortes controvérsias sobre a televisão, a Convenção aprovou por "maioria absoluta de votos de seus membros presentes, condenar o uso de TV pelos perigos espirituais que ela produz". Na sequência foi formada uma comissão para tratar dos casos de p...

A Circular da AD catarinense - combate aos "modernismos"

Imagem
O jornalista Silas Daniel em seu livro História da CGADB , destaca a Convenção Nacional realizada em novembro de 1968, em Fortaleza (CE), como palco de um debate marcante: "os reflexos da Revolução Sexual" dentro das ADs. Debateu-se naquele ano sobre o perigo das minissaias e dos cabeludos, que estavam "tentando invadir as igrejas". No mesmo ano, mas em janeiro, à Convenção de Pastores de Santa Catarina publicou uma Circular (norma que padroniza comportamentos e regras em determinada instituição) antecipando o debate sobre as medidas contra à abertura ou tolerância da denominação sobre os usos e costumes. Talvez não seja mera coincidência, que o debate em Fortaleza acerca da Revolução Sexual, foi aberto pelo pastor Satyro Loureiro de Santa Catarina. Satyro era conhecido pelo seu rigor em seguir as determinações do Ministério local. Anos depois, ele mesmo viu-se refém e questionador das normas que ajudou a padronizar. A Circular do Ministério da Igreja E...

Billy Graham e o debate na CGADB de 1975

Imagem
O mundo cristão chora a morte do pastor batista William Franklin "Billy" Graham Jr (1918-2018). Desde 1948, Billy realizava suas cruzadas pelo globo. Estádios, parques e outros locais públicos eram usados para os eventos evangelísticos de massa. Dados apontam, que o reverendo Graham alcançou uma audiência direta de quase 210 milhões de pessoas em 185 países.  No Brasil, Graham pelo menos quarto vezes vezes pregando. A primeira vez foi em junho de 1960, no Rio de Janeiro, no 14º Congresso da Aliança Batista Mundial. O evento, realizado no Maracanãzinho, (outras fontes afirmam ser o Maracanã) reuniu milhares de crentes para ouvir "o maior pregador evangélico dos tempos modernos" para ouvir o sermão "Cristo crucificado" - divulgou o jornal O Globo  na época Dois anos depois, em setembro de 1962, o reverendo norte-americano realizou na cidade de São Paulo sua primeira Cruzada no país, lotando o estádio do Pacaembu. Em 1974, novamente, o Rio de Janeiro...

Reuniões e cultos nas ADs – novos significados

Imagem
As Assembleias de Deus em mais de cem anos de história, já passou por significativas transformações. Por ser uma denominação presente em todo território nacional, ela é também muito diversificada. Não há uniformidade em tudo, mas o  objetivo dessa postagem é somente refletir sobre certas mudanças.  Algumas retratam alterações sociais e econômicas. Outras, o direcionamento teológico e político da igreja. Conforme a participação dos leitores a lista pode ser aumentada. Vamos aos verbetes: Culto de doutrina : assim era chamado a reunião semanal, geralmente as terças-feiras, que em tese seria de ensinamentos bíblicos. Mas os crentes de boa memória sabem, que de Bíblia tinha muito pouco, e se havia alguma coisa, eram versículos descontextualizados para reforçar os usos e costumes. De tão desgastado, o termo "doutrina" é evitado. Hoje as igrejas preferem nomear as reuniões de culto de edificação cristã ou ensinamento. Vigília: reunião noturna de oração que atravessa a madru...

Minissaia - a grande vilã

Imagem
Na postagem  Moda, minissaia e o combate ao mundanismo nas ADs , observou-se os intensos debates sobre os modismos. Principalmente o uso da minissaia, que segundo um pastor da época, estava "tentando invadir as igrejas". O assunto foi levado a Convenção Geral de 1968 realizada em Fortaleza (CE). Silas Daniel, no livro História da CGADB , informou que os debates eram "reflexos da Revolução Sexual" sobre a denominação naqueles anos de grande efervescência cultural. Registros da época revelam que a minissaia era uma fonte grande de preocupação dos pastores. Na verdade, a sociedade assistia escandalizada aos novos padrões de vestimentas e consumo da juventude. Sedimentados pela popularização da TV e do movimento musical Jovem Guarda  capitaneado por um jovem cabeludo (Roberto Carlos), que mandou "tudo pro inferno", os jovens nunca mais voltariam aos marcos antigos. Vale lembrar, que na canção É papo firme  (1966),  Roberto fala de uma garota ...

Moda, minissaia e o combate ao mundanismo nas ADs

Imagem
A década de 1960 do século XX, foi um tempo de grandes transformações sociais e culturais no Brasil e no mundo. Durante os anos do pós-guerra, viveu-se uma era de intenso consumismo e de liberdade, influenciando totalmente a forma das mulheres se vestirem e comportarem. A moda deixou de seguir um padrão único, ditado pelos estilistas internacionais renomados. Passou-se então a se reproduzir modelos e roupas inspirados em pessoas comuns. O vestuário, como um veículo de comunicação, transmita agora mensagens e valores e passou a simbolizar os anseios de uma nova geração. As Assembleias de Deus dentro desse contexto viveram um período de grandes tensões internas, pois as transformações incidiam sobre toda à sociedade, a qual a igreja estava inserida. As ADs como instituição religiosa, conservadora dos bons princípios e costumes, se viu então em constante luta contra as transformações culturais.  Silas Daniel, no livro História da CGADB , informa que nos anos de 1960, "os...