Previsto para o início de 2014, o lançamento da biografia da pioneira Frida Vingren, esposa do missionário Gunnar Vingren, um dos fundadores das Assembleias de Deus no Brasil está gerando uma grande expectativa entre estudiosos, pesquisadores e interessados na história da AD. Escrita pelo jornalista Isael de Araújo, o livro promete mais informações sobre a missionária, uma personagem que se tornou emblemática dentro das ADs nesses últimos anos.
Frida, sua vida e ministério tem sido alvo de muitas discussões, principalmente através dos estudos do sociólogo Gedeon Alencar, o qual destaca não só a atuação da esposa de Gunnar, mas o quanto ela foi vítima do machismo sueco-nordestino, o qual calou a pioneira, e fez que Gunnar Vingren, o mítico pioneiro das ADs, fosse voto vencido na disposição de apoiar o ministério feminino dentro da denominação. Para o sociólogo, a derrota do casal Vingren na CGADB de 1930, foi também a derrota de um modelo de igreja desejado por eles, onde homens e mulheres em pé de igualdade desenvolveriam seus ministérios.
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Casal Vingren: pioneiros da AD |
Ao contrário disso, se consolidou o predomínio masculino no ministério, sendo reservado as mulheres um papel secundário dentro de uma igreja de maioria feminina, a qual, mesmo dependente do seu trabalho, não lhes oferece espaço em suas instâncias de poder. Situação essa que ainda hoje perdura dentro das ADs.
Além disso, Frida teria sido incompreendida, perseguida e relegada ao esquecimento após sua partida para a Suécia. Com a morte do esposo teve seu o retorno ao Brasil impedido, seus filhos foram tirados de sua guarda, e ela internada num sanatório onde morreu louca, sendo sepultada ingloriamente como indigente.
Provavelmente a obra lançada pela CPAD, trará mais detalhes sobre a missionária. Será com certeza, uma resposta oficial ao que já foi divulgado no meio acadêmico e entre os estudiosos do assunto. Porém o que se percebe, é a disputa pela memória da senhora Vingren. Esquecida pela história oficial, agora é alvo de diversos debates e estudos sobre a realidade passada e presente do ministério feminino dentro das ADs.
Algumas questões talvez sejam ignoradas na obra, ou com a ajuda de outras fontes históricas serão reinterpretadas. Quem estuda a História e suas teorias, sabe que as possibilidades de versões, discursos e interpretações para um fato histórico são múltiplos. Seria a pioneira uma vítima do sistema e seus algozes homens embrutecidos pelo preconceito? Será que nesse assunto tão polêmico pode-se ter uma visão simplesmente mecânica da História ignorando nuances e detalhes que ainda podem vir a público?
As respostas a essas indagações ainda estão sendo formuladas. A polêmica ainda vai longe...
Fontes:
ALENCAR, Gedeon Freire de. Assembleias Brasileiras de Deus: Teorização, História e Tipologia- 1911-2011. Pontifícia Universidade Católica: São Paulo.
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.