As ADs e o problema educacional (1ª parte)

Durante a 8ª Assembleia Geral Extraordinária (AGE) realizada em Ananindeua, na região metropolitana de Belém (PA), a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) tomou uma decisão histórica ao aprovar a criação da Rede Assembleiana de Ensino (RAE). A proposta, visa criar instituições de ensino de nível fundamental, médio e superior dentro das ADs seguindo o exemplo de igrejas evangélicas históricas.

A preocupação com a criação de instituições escolares dentro das ADs não é nova. Em 1956, a revista A SEARA (novembro/dezembro), no seu editorial, reconhecia o crescimento e os avanços da denominação nas questões sociais com a criação de asilos e orfanatos, mas apontava que pouco havia feito até então na questão escolar.

Segundo A SEARA, algumas igrejas mantinham educandários em funcionamento, mas outras de elevado número de membros, infelizmente, não possuíam nem mesmo escolas primárias ou ginásios (nome dado ao antigamente ao atual ensino fundamental). A preocupação com o bem estar e formação dos filhos de crentes em instituições escolares "ostensivamente contrários aos princípios evangélicos" era evidente.

Como se pode perceber, as preocupações e as críticas sobre o tema dispensado pela denominação é antiga. Alguns educandários foram criados como bem apontou o pastor João Pereira de Andrade e Silva, mas dentro da história das ADs, nunca se chegou a propor uma rede escolar idêntica a de outras igrejas evangélicas.

Entretanto, algumas medidas estavam sendo tomadas para amenizar a situação. Uma década antes do editorial, o Mensageiro da Paz da 1ª quinzena de maio de 1946, informou que a AD em Belém/PA, "conseguiu nomear professores e professoras para todas as Escolas Públicas da Capital, onde centenas de alunos ouvem o Evangelho e ficam no abrigo da intolerância de certos religiosos". O ambiente nas escolas seculares era realmente problemático para os pentecostais. A fé dos crentes chocava-se ante a "intolerância" da religião dominante.

Outra ação conhecida foi a criação pela a AD, em Manaus/AM em 1951, da Escola Primária "Nels Nelson", que contava na época, com o número de 176 alunos matriculados de ambos os sexos. Descrita como "uma grande vitória" resultante das "orações fervorosas" dos crentes, a instituição foi criada justamente com a intenção de "atender as crianças da igreja".

MP sobre a Escola São Paulo em Madureira no RJ

Nesse mesmo período, o jornal Mensageiro da Paz trazia uma matéria intitulada "Grande vitória para o Evangelho", onde relatava a inauguração das novas instalações da Escola São Paulo na AD em Madureira (RJ). Segundo o informativo, o pastor Paulo Macalão "há muitos anos desejava fundar uma escola, para beneficiar os filhos dos crentes em Cristo". 

Porém, detalhes da matéria sobre a Escola São Paulo chamam a atenção para o pioneirismo de Madureira nessa área. Segundo o relato do diretor da escola Geraldo Batista de Araújo, a instituição já funcionava sob sua responsabilidade há três anos, ou seja, desde 1948. Foi também amplamente destacado a transferência da instituição para sua nova sede e a visita de um conhecido e polêmico político paulista: Adhemar de Barros.

A Escola São Paulo, além de ser uma instituição pioneira dentro das ADs, era gratuita, mas com aceitação de ajuda espontânea por parte dos alunos. Também foi destacado o projeto do pastor Macalão de "abrir várias escolas, onde existam igrejas sob sua direção para instruir os filhos dos crentes, dentro das normas do cristianismo ...".

Saído de um contexto social privilegiado, Paulo Leivas sabia o valor da boa educação. Em sua biografia consta passagens por tradicionais colégios do Rio de Janeiro. Com a expansão do Ministério de Madureira e sua gradativa institucionalização, os planos de expandir a rede de ensino seria uma das formas de legitimar e de dar visibilidade social à igreja. Suas ligações com políticos conhecidos possivelmente seriam também uma forma de angariar recursos para outros projetos sociais em andamento.

Todavia, por motivos que serão apontados à frente, Macalão e outros líderes não criaram uma rede escolar e o editorial da revista A SEARA ficou como testemunho histórico da antiga preocupação de alguns líderes.

Fontes:

A SEARA (novembro/dezembro) de 1956.

Mensageiro da Paz, 1ª quinzena de setembro de 1946.

Mensageiro da Paz, 2ª quinzena de fevereiro de 1948.

Mensageiro da Paz, 2ª quinzena de julho de 1949.

Mensageiro da Paz, 2ª quinzena de maio  de 1951.

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