Não é novidade entre os estudiosos das Assembleias de Deus a difícil relação da denominação com os meios de comunicação eletrônicos, principalmente o rádio e a televisão. Segundo o sociólogo Gedeon Alencar, as ADs por priorizarem a mídia escrita, principalmente o Mensageiro da Paz, e optarem por "uma tradicionalização receosa de toda e qualquer alteração e novidade", a denominação resistiu em aceitar o rádio como meio de evangelização, ou permitir que seus membros possuíssem um aparelho em casa.
Visto como "mundano" por possuir programações de entretenimento consideradas não apropriadas para os crentes, os debates sobre seu uso começaram na CGADB do ano de 1937 e se estenderam pelo menos até o final da década de 60, sempre com opiniões controversas entre seus líderes.
Em meio a essas polêmicas foi o missionário estadunidense Nels Lawrence Olson que começou em 1947 o primeiro programa de rádio dentro das Assembleias de Deus. Com a experiência adquirida nos EUA, Olson iniciou as transmissões direto dos cultos no templo da AD em Lavras (MG). Mesmo com grande repercussão e forte impacto evangelístico, o missionário sofreu forte oposição e críticas. Dentro da mentalidade assembleiana "ouvir rádio era pecado". Não foram poucos os crentes disciplinados e excluídos por terem ou ouvirem a perigosa "caixa mágica de som".
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Fidelis: pioneirismo no rádio e ameaça de expulsão |
Alexander Fajardo em seu mestrado - A atuação dos evangélicos no rádio brasileiro: origem e expansão - trata com muita propriedade em um dos capítulos da tese, a relação conflituosa das ADs com o rádio e aponta o pioneirismo do pernambucano Paulo Fidelis, o qual em 1966, na localidade de Jaboatão dos Guararapes (região metropolitana do Recife)na Rádio Veneza começou um programa chamado O Semeador, o qual na década de 80 foi rebatizado como Ide e anunciai.
Segundo Fajardo, o "pastor de Fidelis foi contra o rádio para pregação, o apresentador não foi excluído da Igreja, entretanto houve boicote contra seu programa". Numa típica reação denominacional da época, "os membros da Igreja eram orientados a não ouvir o programa". Porém, na firme convicção de estar realizando a Vontade Divina, Fidelis continuou com seu projeto evangelístico.
Passou por diversas emissoras, resistiu aos preconceitos e ameaças de expulsão e ainda hoje continua na sua missão evangelizadora. Conforme o relato de Fajardo, o veterano radialista atualmente auxiliado uma funcionária devido à avançada da idade, desloca para o estúdio uma vez por semana "onde grava os programas da semana toda".
A história desse pioneirismo local, é um exemplo do clima da época sobre o tema da radiodifusão. Iniciativas como a de Paulo Fidelis, fora do apoio institucional são consideradas "avulsas" e de pessoas que viam no sistema radiofônico não uma ameaça, mas um aliado a evangelização das massas.
Gradualmente, conforme os debates sobre o uso do rádio avançaram, logo as ADs se viram em outra polêmica: a televisão, a qual igualmente gerou suas exclusões e fortes oposições da liderança, mas também com o passar do tempo teve seus pioneiros, e boas histórias para contar da Assembleias de Deus.
Fontes:
ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011. Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2013.
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
A história desse pioneirismo local, é um exemplo do clima da época sobre o tema da radiodifusão. Iniciativas como a de Paulo Fidelis, fora do apoio institucional são consideradas "avulsas" e de pessoas que viam no sistema radiofônico não uma ameaça, mas um aliado a evangelização das massas.
Gradualmente, conforme os debates sobre o uso do rádio avançaram, logo as ADs se viram em outra polêmica: a televisão, a qual igualmente gerou suas exclusões e fortes oposições da liderança, mas também com o passar do tempo teve seus pioneiros, e boas histórias para contar da Assembleias de Deus.
Fontes:
ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011. Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2013.
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
FAJARDO, Alexander. A atuação dos evangélicos no rádio brasileiro: origem e expansão. São Bernardo do Campo, Universidade Metodista de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, Dissertação de Mestrado, 2011.