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Mostrando postagens com o rótulo Política

Comissão Afonso Arinos - os indicados das ADs

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No livro “Evangélicos na Política: História ambígua e desafio ético”, o sociólogo Paul Freston narra as idas e vindas dos protestantes na política nacional. Do Império à Redemocratização, é traçado o perfil dos evangélicos na vida pública brasileira. Sobre os pentecostais na política partidária, Freston aponta que as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte (ANC) foram o grande catalisador do “mergulho” das denominações herdeiras do movimento da Azusa Street.  Mas antes das eleições (1986) e instalação da ANC (1987), foi criada pelo Poder Executivo (Decreto n. 91.450, de 18 de julho de 1985), uma comissão provisória para a elaboração de um anteprojeto, ou seja, um texto básico para a elaboração da nova Constituição. Porém, o anteprojeto não foi enviado oficialmente ao Congresso. O grupo de membros ficou conhecido como Comissão Afonso Arinos, pois seu presidente era o jurista, ex-deputado federal e ex-senador Afonso Arinos de Melo Franco, famoso pela sua participação na "B...

Maria de Lourdes do Agreste

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O ministério feminino dentro das Assembleias de Deus (ADs) sempre foi motivo de intensos debates. Seja para defender o legado das pioneiras, e assim legitimar a ordenação de mulheres ao ministério, ou para combatê-lo como se isso fosse a maior das heresias assembleianas, o papel das mulheres na igreja e o seu reconhecimento divide os assembleianos. Oficialmente, a discussão ficou restrita nas CGADBs de 1930, 1983 e 2001. Em todas essas Convenções Nacionais, a possibilidade de ordenação ou reconhecimento formal do ministério das mulheres foi rejeitada. Porém, no mundo real, a realidade sempre se impôs sobre os “dogmas” eclesiásticos. Como exemplo disso, deixo na íntegra aos leitores do blog, a matéria da revista A SEARA (edição maio/junho de 1961) onde publicou-se a história da irmã Lurdes (Maria de Lourdes) Alencar, que no ano de 1957, iniciou o trabalho da AD em Ipubi, na época distrito do município de Ouricuri, no sertão pernambucano. Segundo o colaborador do periódico, o irmão João ...

Sucessões pastorais - modus operandi

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Na postagem anterior tratou-se da resolução da CGADB de 1937 sobre as sucessões pastorais nas ADs e como a proposta convencional (utópica) foi atropelada pela realidade do crescimento da denominação e da sua estrutura hierárquica em formação  (ler aqui) .  Com a consolidação do modelo episcopal e da organização burocrática da maioria dos ministérios, as sucessões passaram a ser muito bem controladas pelos pastores-presidentes, que no topo da hierarquia ministerial pavimentam o caminho para os seus "escolhidos", geralmente um parente próximo e de confiança. E como isso acontece? No modelo assembleiano o pastor-presidente possui o controle da administração e dos recursos financeiros. Na prática é um patrão com poder para admitir ou demitir os funcionários da igreja-empresa. Muitos dos obreiros ligados ao ministério por dependerem financeiramente da instituição não se opõem as determinações do líder maior. O receio de desligamento ou da transferência para locais mais distantes d...

Alfredo Reikdal - o candidato

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O Pastor Alfredo Emílio Reikdal (1915-2010) liderou por 67 anos a Assembleia de Deus - Ministério do Ipiranga em São Paulo. Um recorde nacional e mundial, segundo sua biografia oficial. Não por acaso, é impossível falar ou escrever sobre a ramificação assembleiana da zona sul paulistana, sem interligar Reikdal/Ipiranga. Nos últimos anos do seu ministério, o líder do Ipiranga fazia questão de declarar-se "assembleiano ortodoxo e sectário". Alfredo reprovava com veemência os movimentos ecumênicos e as inovações nas ADs, chegando a fundar a Convenção dos Ministros Ortodoxos da Assembleia de Deus no Estado de São Paulo e Outros (COMOESPO) por discordar dos rumos da Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado de São Paulo e Outros (COMADESP); entidade que ajudou a organizar. Se por um lado Reikdal era tão conservador, por outro, sua ousadia na seara política foi muito controversa. Segundo seu biógrafo oficial Eliézer Cohen: "Com relação à política nosso pastor...

Ministério de Madureira - política e ataques da imprensa na década de 1950

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Nas últimas postagens, observou-se as relações do Pastor Paulo Leivas Macalão com o polêmico Adhemar de Barros. Ligação essa que resultou no lançamento do cunhado de Macalão, o também pastor Sylvio Brito para o cargo de vereador pelo Brito, no Rio de Janeiro pelo Partido Social Progressista (PSP), identificado pela imprensa como o partido ademarista. Entretanto, a imprensa da época, representada pelo Gazeta de Notícias, não poupou o líder pentecostal, fazendo fortes denúncias. O ataque foi mencionado no Mensageiro da Paz (2º quinzena de maio de 1951), na matéria sobre a inauguração da Escola "São Paulo", quando fez referências ao "inimigo" que havia se levantado para caluniar o Pastor Paulo. Vale observar que todas as ilações feitas sobre a fortuna, luxo e enriquecimento de Macalão nunca se comprovaram. Outro ponto importante: inexistiu na matéria qualquer abertura para o contraditório, ou seja, o espaço destinado para a defesa do acusado. Gazeta de Notícias: Adh...

Adhemar de Barros e Paulo Macalão: amizade político-pentecostal

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Em época de eleições gerais, não são poucas as críticas que muitos evangélicos (tradicionais ou pentecostais) fazem em relação aos seus principais líderes e à demasiada exposição destes em favor de determinados candidatos. Muitos até falam em tom nostálgico: "antigamente não era assim" ou "naquele tempo os pastores não se metiam em política".    Nesta postagem vamos revisitar um caso muito antigo de uma inusitada "amizade" entre um grande líder pentecostal (Paulo Macalão) com um dos mais controversos políticos brasileiros (Adhemar de Barros). A simbiose entre ambos trouxe ao pastor da AD em Madureira proveitos, mas também muitos ataques movidos pela imprensa carioca da época. Adhemar de Barros (1901-1969) ficou conhecido por realizar grandes obras públicas como governador de São Paulo e prefeito da capital paulista, o que levava a ser sempre um nome viável para a disputar a presidência da República. Populista e autor da famosa frase "fé em Deus e pé n...

Sylvio Brito - pastor pentecostal e vereador no RJ

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Na postagem anterior, observou-se que Sylvio Brito foi, possivelmente, o primeiro caso dentro das ADs de uma candidatura política feita com o apoio de um dos mais importantes ministério da igreja. Como na atualidade, o "vocacionado" e "escolhido" para a missão parlamentar foi um familiar do principal líder eclesiástico: Sylvio Brito, cunhado do Pastor Paulo Leivas Macalão.  Como se percebe, desde tempos antigos as carreiras políticas desenvolvidas com apoio institucional da igreja estão atreladas ao controle e afinidades com as lideranças dos ministérios. Mais do que representantes dos segmentos evangélicos em geral, os atores políticos no pentecostalismo atuam na defesa de interesses muito específicos, além de garantir para as famílias eclesiásticas status na sociedade. Brito candidatou-se ao cargo de vereador no Rio de Janeiro pelo Partido Social Progressista (PSP), identificado pela imprensa como o partido ademarista. Conquistou 1.685 votos, empatando com outro ...

Matheus Iensen - chegou a hora de partir (2ª parte)

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Matheus Iensen já era conhecidíssimo por sua atuação no rádio e pelo ministério de louvor, quando foi apoiado pela Convenção das Igrejas Assembleias de Deus do Estado do Paraná (CIEADEP) para concorrer a uma vaga de deputado federal e participar da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), a qual elaboraria no processo de redemocratização, uma nova Constituição para o país. Segundo Paul Freston e seu livro "Evangélicos na Política Brasileira", a escolha do nome de Iensen encaixava-se no perfil de muitos outros candidatos apoiados pelas ADs: a do cantor ou pregador conhecido e detentor de capital político para alavancar uma candidatura e a do empreendedor bem sucedido; sinal da benção de Deus sobre seus negócios. Freston também salienta, que a mística da ANC ajudou na mobilização das minorias na defesa de seus valores. Assim, o discurso dos candidatos evangélicos em defesa da família ou sobre a suposta ameaça a liberdade de culto era a tônica das campanhas pentecostais ...

Retrospectiva 2017 - Canalhas

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Na 43ª Assembleia Geral Ordinária da CGADB, o deputado federal e pastor da AD em Campinas, Paulo Freire da Costa resolveu desabafar sobre as liminares contrárias a posse do seu irmão, o pastor Wellington Júnior na presidência da instituição. Isso aconteceu durante o tumulto entre os adversários e os aliados do pastor José Wellington Bezerra da Costa. Indignado, o nobre deputado chamou de "canalhas" todos os opositores do seu pai. O vídeo com as fortes declarações de Paulo Freire viralizou nas redes sociais e provocou muitas críticas. Milhares de obreiros sentiram-se incluídos nas acusações do tribuno sem merecer. Por essas e outras, o saudoso pastor Túlio Barros, na condição de presidente da Convenção Geral realizada em Santo André (SP) em 1966, proibiu "a gravação magnética" dos debates por um convencional. Atualmente, como já sabemos, é quase impossível esse tipo de ordem. Para terminar: meses depois, um menos indignado Paulo Freire votou a favor do arquivamen...

Valéria Vilhena - feminista evangélica

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* do site UOL De berço evangélico pentecostal, Valéria Vilhena se incomodou na juventude com as restrições ao corte de cabelo, ao modo de se vestir e de se comportar impostos pela igreja. "Me vi feminista muito cedo", diz a teóloga, que é mestre em ciências da religião e doutora no programa Educação, História da Cultura e Artes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ao longo da vida, frequentou diferentes templos cristãos, percebeu outras restrições às mulheres e, sem encontrar o seu lugar, decidiu abandonar a igreja, mas não sua fé. Em 2015, fundou, ao lado de outras mulheres, o EIG (Evangélicas pela Igualdade de Gênero), movimento para discutir temas relacionados à violência contra a mulher e à igualdade de oportunidades nas estruturas religiosas. Em novembro de 2016, Vilhena viu sua pesquisa virar notícia, sem crédito, em sites e nas redes sociais sob o título "40% das mulheres que sofrem violência doméstica são evangélicas". O dado está em seu li...

Minhas memórias - 1988, eleições e ressentimentos

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O ano de 1988, foi um ano marcante politicamente para o Brasil. Promulgada no dia 5 de outubro, a nova constituição consolidou a transição política no país após 20 anos de ditadura militar. Chamada de "Constituição Cidadã", a nova carta magna ampliava direitos dos cidadãos brasileiros. Naquele ano, ainda havia certa euforia pelo sucesso das eleições de 1986, quando as ADs conseguiram eleger vários representantes para a Assembleia Nacional Constituinte (ANC). Eleger em 1988, um representante para o legislativo municipal, seria apenas um passo natural e consequente do processo de despertar político da igreja. Kennedy: candidato polêmico Satyro Loureiro, na época pastor da igreja, lançou como candidato um dos seus principais auxiliares: o presbítero Adelor Francisco Vieira. Na verdade, o evangelista Francisco de Assis Meirinho também foi lembrado para a empreitada. Meirinho era um excelente pregador e ensinador, porém por questões familiares abriu mão da indicação ...

Política, uma visão cristão - Geremias Couto

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O livro Visão Cristã sobre - Política , é um ensaio de autoria do pastor Geremias Couto sobre a participação dos crentes na política. Logo em sua introdução, o autor avisa que seu objetivo não é "enaltecer a política como meio de redenção, nem fornecer um passaporte puro e simples de integridade aos políticos." Mas refletir, biblicamente, sobre um tema tão mal compreendido entre os evangélicos em geral.  Afinal, deve o cristão atuar na política? Reconhece o escritor, que o quadro atual não é muito animador. Candidatos em tempos de eleição apresentam-se como defensores dos valores cristãos, mas tão logo eleitos, abandonam o discurso para se dedicar a "negócios escusos, visando a satisfação de seus interesses pessoais." Com tantas decepções, a atitudes de muitos crentes é de alienação e apatia aos assuntos vinculados ao tema. Com clareza e objetividade, o jornalista aborda o conceito de política e o equívoco do ensino da suposta dicotomia entre o sagrado e o ...

Eduardo Cunha - o assembleiano

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Nunca antes na história, um assembleiano teve tanto destaque no Brasil. Como presidente da Câmara dos Deputados em Brasília, ele está diretamente na linha de sucessão da presidência da República. Em outros tempos, isso seria motivo de orgulho para os milhões de fieis das ADs espalhados pelo Brasil. Hoje, é sinal de constrangimento.  Nos últimos meses, Eduardo Cunha tem sido um dos principais protagonistas da nossa conturbada política. Cunha começou na vida política em 1989, através de Paulo César Farias, tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello. A queda de Collor, também resultou na saída de Cunha do cargo de presidente da Telerj, estatal de telefonia do estado do Rio de Janeiro. Tempos depois, Eduardo aproxima-se do deputado evangélico Francisco Silva, filia-se a igreja Sara Nossa Terra e trabalha como radialista na Melodia FM. Cunha: membro da AD Amplia consideravelmente sua fama no programa O povo merece respeito . Bom comunicador, Cunh...

O dia de Benedita na Constituinte

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Ela sempre destoou dos políticos evangélicos por seu perfil inusitado. Trabalhou como empregada doméstica, faxineira, camelô, auxiliar de enfermagem e assistente social. Em 1982, foi a única vereadora eleita pelo PT na cidade do Rio de Janeiro. Quatro anos depois chegou à Assembleia Nacional Constituinte com o lema "Mulher, negra e favelada". Benedita da Silva nunca se enquadrou (ou se enquadra) dentro do modelo conhecido de parlamentar evangélico. A maioria dos colegas da deputada fluminense na Constituinte eram pastores, cantores sacros, ou empresários bem-sucedidos. Muitos deles, aliás, sem experiência política e defensores de teses conservadoras. Benedita: momento histórico "Bené", como carinhosamente é chamada, não chegou ao Congresso por indicação convencional ou apadrinhamento eclesiástico, mas construiu sua trajetória pública nas favelas e em constantes lutas sociais. Com visões e práticas políticas tão opostas aos dos seus pares evangélicos, os em...

Paulo Macalão e o político "esquerdista"

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Paulo Leivas Macalão foi sem dúvida um grande pioneiro nas Assembleias de Deus no Brasil. Evangelizou os subúrbios do Rio de Janeiro, expandiu e consolidou seu ministério em várias cidades e regiões do país. Tornou-se um personagem mítico ainda antes da sua morte em agosto de 1982. Quando seu nome é pronunciado, à lembrança que vem para muitos é do seu conservadorismo em relação a usos e costumes e  de suas composições e versões para o hinário das ADs, a Harpa Cristã. Mas, há outro lado não muito explorado pela historiografia oficial: as relações do pioneiro com "gente graúda" da sociedade secular. Não é novidade que pastor Paulo era de família militar, e segundo o sociólogo Paul Freston ele "sempre cultivou vínculos" com os mesmos. Mas a foto dessa postagem revela um contato um pouco mais além do líder de Madureira com os "senhores" desse mundo. Macalão e Café Filho: aproximação inusitada Nela, Macalão acompanhado de sua esposa Zélia Brito...