"Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, abençoando-o, o partiu e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. Tomando o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos" (Mateus 26:26,27).
Nos primórdios a celebração da Ceia do Senhor nas ADs era realizada com um ou mais obreiros partindo o pão e servindo o fruto da videira em cálices coletivos. Interpretava-se literalmente as palavras de Cristo na última ceia: "bebei dele todos". Assim, portanto, todos os participantes do ato litúrgico deveriam tomar do fruto da videira na mesma taça ou cálice.
Porém, em 1931, a AD em Belém do Pará acatou as orientações do dr. Amilcar Carvalho da Silva, médico e membro da igreja para a substituição do cálice comum por cálices individuais. O objetivo era evitar a transmissão de doenças contagiosas muito frequentes na cidade por aqueles dias. É provável, que de imediato a decisão tenha gerado muitas controvérsias, porque era descumprimento da ordem bíblica: "bebei dele todos".
Na CGADB de 1933, no Rio de Janeiro, o missionário Nils Kastberg aconselhou que a ceia deveria ser ministrada somente aos membros batizados por imersão e em plena comunhão com a igreja. Outra orientação foi que a ceia deveria ser oferecida somente nas congregações; salvo algum caso de impedimento por problemas de saúde ou de idade.
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Ceia na AD em São Cristóvão/RJ - igreja com cálices individuais |
Na CGADB de 1935, em João Pessoa/PB, as controvérsias sobre a instituição do cálice coletivo ou individual foram alvo de debates. Tentou-se estabelecer uma uniformidade na liturgia, mas após muito debates foi resolvido que cada igreja servisse a ceia da forma que achasse conveniente.
É possível que o debate tenha se originado pelo uso do cálice individual nas igrejas do norte do país. Seriam críticas a AD em Belém? É provável, mas anos depois outras igrejas seguiram o exemplo da Igreja-Mãe. Dessa forma, refletindo suas especifidades regionais e ministeriais, a instituição do cálice individual nas ADs brasileiras não foi uniforme no tempo e no espaço.
Na década de 1950, os Ministérios de Madureira/RJ, Belenzinho/SP e do Brás/SP conservavam o cálice coletivo. As ADs em São Cristóvão/RJ, Abreu e Lima/PE e Joinville/SC já usavam taças individuais. Aliás, a AD em Abreu e Lima por essa atitude foi acusada de quebrar a tradição sueca do cálice comum, por parte da AD em Recife, a qual pelo menos, até os anos 80 ainda seguiam a liturgia deixada pelos suecos.
Na década de 1950, os Ministérios de Madureira/RJ, Belenzinho/SP e do Brás/SP conservavam o cálice coletivo. As ADs em São Cristóvão/RJ, Abreu e Lima/PE e Joinville/SC já usavam taças individuais. Aliás, a AD em Abreu e Lima por essa atitude foi acusada de quebrar a tradição sueca do cálice comum, por parte da AD em Recife, a qual pelo menos, até os anos 80 ainda seguiam a liturgia deixada pelos suecos.
No geral, Brasil afora, as igrejas foram rompendo com parte da antiga (e anti-higiênica) liturgia. Em Governador Valadares, o pai do historiador Jacó Santiago comprou cálices individuais para a congregação que dirigia por volta de 1962. Em Porto Alegre/RS e Criciúma/SC, o uso da taça comum foi abolido por volta da década de 1980. Nessa mesma época na AD do Belenzinho/SP, o pastor José Wellington Bezerra da Costa instituiu o cálice individual; não sem antes fazer com a igreja um cuidadoso estudo bíblico para justificar a mudança.
Mas antes do Belenzinho, as igrejas no interior do estado de São Paulo já usavam o cálice individual e até o fim da década de 1970, o copo coletivo entrou em desuso. O pastor Jesiel Padilha conta que em Corumbá/MS por volta de 1974, a ceia seguia o modelo das congregações paulistas.
Ao que tudo indica, o Ministério de Madureira foi mais resistente às mudanças na ceia. O uso do cálice individual no templo da Rua Carolina Machado só se deu nos anos 90. Na AD em Volta Redonda no sul fluminense, o uso do cálice coletivo ainda se manteve até meados da década de 1990 e no Ministério do Brás/SP até o ano de 2000.
Isso não quer dizer que o que aconteceu em Madureira, Brás ou Volta Redonda tenha sido padrão em todo Ministério. Assim como no Belenzinho, congregações filiadas podem ter se precipitado nas mudanças litúrgicas da ceia. Os assembleianos mais antigos sabem muito bem: certas transformações ou permanências dependem muito do líder da igreja. Para o bem ou mal...
* Com a colaboração de Clayton Guerreiro, Cléia Rocha, Hermes Carvalho, Jessé Silva, Jessé Sadoc, Jesiel Padilha, Josias Santos, Geremias Couto, Onésimo Loureiro, Oséias Balsaretti, Jacó Rodrigues Santiago, João de Souza Filho, Vânio de Oliveira e outros amigos do grupo de WhataApp Memórias das Assembleias de Deus.
Fontes:
ARAÚJO, Isael de. José Wellington - Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
ARAUJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
MENSAGEIRO DA PAZ. 1º quinzena de novembro de 1935. Rio de Janeiro: CPAD.
NELSON, Samuel. Nels Nelson - O Apóstolo Pentecostal Brasileiro. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.
SANTOS, Roberto José. (Org.). Assembleia de Deus em Abreu e Lima - 80 Anos: síntese histórica. Abreu e Lima: FLAMAR, 2008.
Ao que tudo indica, o Ministério de Madureira foi mais resistente às mudanças na ceia. O uso do cálice individual no templo da Rua Carolina Machado só se deu nos anos 90. Na AD em Volta Redonda no sul fluminense, o uso do cálice coletivo ainda se manteve até meados da década de 1990 e no Ministério do Brás/SP até o ano de 2000.
Isso não quer dizer que o que aconteceu em Madureira, Brás ou Volta Redonda tenha sido padrão em todo Ministério. Assim como no Belenzinho, congregações filiadas podem ter se precipitado nas mudanças litúrgicas da ceia. Os assembleianos mais antigos sabem muito bem: certas transformações ou permanências dependem muito do líder da igreja. Para o bem ou mal...
* Com a colaboração de Clayton Guerreiro, Cléia Rocha, Hermes Carvalho, Jessé Silva, Jessé Sadoc, Jesiel Padilha, Josias Santos, Geremias Couto, Onésimo Loureiro, Oséias Balsaretti, Jacó Rodrigues Santiago, João de Souza Filho, Vânio de Oliveira e outros amigos do grupo de WhataApp Memórias das Assembleias de Deus.
Fontes:
ARAÚJO, Isael de. José Wellington - Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
ARAUJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
MENSAGEIRO DA PAZ. 1º quinzena de novembro de 1935. Rio de Janeiro: CPAD.
NELSON, Samuel. Nels Nelson - O Apóstolo Pentecostal Brasileiro. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.
SANTOS, Roberto José. (Org.). Assembleia de Deus em Abreu e Lima - 80 Anos: síntese histórica. Abreu e Lima: FLAMAR, 2008.