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A força de uma mulher

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O ano 2020 já entrou para a História como um ano atípico. A pandemia do COVID-19 afetou a economia mundial, desmontou discursos neoliberais, multiplicou o valor das "gigantes da tecnologia" e revelou amplamente as mazelas e inseguranças dos mais pobres. Enquanto essas linhas são escritas, o coronavírus segue atrapalhando planos de reeleição de governantes e, incrivelmente, já alterou uma calculada sucessão eclesiástica. A Assembleia de Deus (AD) em Cuiabá que o diga. Pastoreada desde dezembro 1974 pelo Pastor Sebastião Rodrigues de Souza, que também era vice-presidente da CGADB, a AD na "Cidade Verde" parecia ter uma sucessão previsível. Com quase 90 anos de idade, o Pastor Sebastião tinha como vice-presidente o seu filho Rubens Siro de Souza de 68 anos. Como tantos outros ministérios assembleianos, o clã dos Souza aguardava o momento certo para a transição. Mas a pandemia golpeou planos e criou um vácuo de poder na AD em Cuiabá. No final de junho, os pastores Sebas...

Revisitando as Convenções Gerais: 1999 - A CGADB da liminar

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"São teus inimigos todos aqueles que se sentem ofendidos pelo fato de ocupares o principado; e também não podes conservar como amigos aqueles que te puseram ali, pois estes não podem ser satisfeitos como pensam."   Nicolau Maquiavel, O príncipe, capítulo III Certamente, a CGADB realizada no Palácio de Convenções do Anhembi, em São Paulo/SP, entre os dias 11 e 15 de janeiro de 1999, foi a mais polêmica da década que se encerrava. Cyro Mello, colunista do Mensageiro da Paz , chamou-a de "Convenção da liminar", onde os "discursos e assuntos discutidos ficaram 95% só para quem entendessem de leis". As liminares (ordem judicial provisória que analisa um pedido urgente) foram a parte visível das intensas disputas de bastidores pelo controle da Convenção Geral.  No Anhembi, o Pastor José Wellington da Costa disputou novamente a presidência da CGADB com o Pastor Túlio Barros Ferreira, da AD em São Cristóvão/RJ. Na Convenção Geral em Belo Horizonte, MG, em 1997, We...

Revisitando as Convenções Gerais - de 1987 a 1997

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Está confirmado: na 45ª Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) prevista para abril de 2021, em Cuiabá, Mato Grosso, o pastor José Wellington da Costa Júnior será reconduzido à presidência da instituição, por aclamação. A chapa do atual presidente da CGADB foi a única inscrita no prazo legal. Como não surgiram concorrentes, a aclamação será inevitável. Desde que o pai do pastor Wellington Júnior chegou ao poder na CGADB, em maio de 1988, já se realizaram 14 Convenções Gerais, sempre com vitória do grupo comandado pelo líder da AD do Ministério de Belém em São Paulo. Portanto, se confirmada a aclamação e posse do pastor Duéliton, serão mais de três décadas de continuidade na CGADB e controle da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), empresa que reforça a linha doutrinária e política do status quo dominante.  Para melhor compreender a permanência do  establishment , é importante, ainda que de forma sucinta, revisitar as convenções anteriores e perceb...

Ensino teológico na AD em SC - oportunidade e oposição

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O ensino de teologia sempre foi um tema marcado pela discórdia dentro das Assembleias de Deus (ADs) no Brasil. Desde a CGADB de 1943, até meados da década de 1970, o debate sobre a necessidade de instrução teológica formal gerou discussões veementes. Para além das questões aparentes, Claiton Pommerening aponta em sua tese de doutorado "Fábrica de pastores", (referência pejorativa dada aos institutos bíblicos) a problemática das "relações de poder entre norte-americanos e suecos" que permeavam essas questões. Em meio aos embates nesse período, João Kolenda Lemos e sua esposa Ruth fundaram o Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, em Pindamonhangaba no interior de São Paulo, em 1958. João Kolenda era sobrinho do missionário John Peter Kolenda, que por sua vez foi árduo defensor da criação dos seminários teológicos. J. P. Kolenda, Virgil Smith e Orlando Boyer (este por bem menos tempo) foram os missionários dos EUA que trabalharam por anos nas ADs em Santa Catarina...

O "Timoneiro" e o "Trovão" - epílogo

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Nas postagens anteriores, o leitor pode acompanhar as circunstâncias da cisão ocorrida em 1972, quando o pastor Eliseu Feitosa de Alencar, na época líder da AD em Campo Grande/MS, rompeu com o Belenzinho/SP e causou grande alvoroço dentro do Ministério. O principal veículo de comunicação das ADs, o Mensageiro da Paz informou a exclusão do pastor Eliseu feita por uma comissão de 21 pastores, a qual foi referendada por mais de 100 ministros no dia 02 de maio do mesmo ano, na antiga sede do Belenzinho na Rua Antônia Alcântara Machado, nº 616.  Tempos depois, com o remanescente dos fiéis que não seguiram o pastor Eliseu, o Belenzinho iniciou outra congregação em Campo Grande. Para a árdua tarefa do recomeço, Cícero de Lima chamou o pastor Vicente Guedes Duarte, que já havia trabalhado na cidade anos antes. Para marcar a reabertura dos trabalhos da congregação filiada ao Belém, estudos bíblicos foram realizados e muitos líderes compareceram para dar seu apoio. Mas é importante destacar,...

O "Timoneiro", o "Trovão" e a tempestade (2ª parte)

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Como se observou na postagem passada, o pastor Eliseu Feitosa de Alencar voltou a Campo Grande/MS, em março de 1970, depois de cinco anos trabalhando em São Paulo, capital. Foi um tempo de acentuado progresso ministerial, mas também de desconfianças por parte dos principais pastores de Ministério do Belenzinho ao "Trovão Brasileiro". Em jogo, a sucessão do velho "timoneiro". Cícero já estava quase octogenário e ainda não havia definido um sucessor. Vale lembrar, que nas páginas da biografia do pastor José Wellington Bezerra da Costa essa inquietação era constante: Joaquim Marcelino da Silva, da AD em Santo André/SP, manifestou preocupações em relação à sucessão do veterano. Mas ele desconversava e negava-se a apontar diretamente alguém. Sendo um forte concorrente ao posto de líder máximo do Belenzinho, Eliseu Feitosa viveu dias tensos em São Paulo. A volta para Campo Grande, pode estar relacionada ao tal dossiê rejeitado por Cícero e motivador da crise no Ministério...

O "Timoneiro", o "Trovão" e a tempestade (1ª parte)

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Quase todos os grandes Ministérios ou igrejas dentro das ADs no Brasil têm um caso de divisão em sua história. Madureira, na década de 1960, perdeu a AD em Anápolis/GO para o pastor Antônio Carneiro. Ainda na mesma época, a AD em Fortaleza/CE viu sua congregação em Bela Vista conseguir sua emancipação por mãos e obra do pastor Luiz Bezerra da Costa. Porém, uma das rupturas mais traumáticas foi realizada pelo pastor Eliseu Feitosa de Alencar da AD em Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul, no ano de 1972. Alencar, que na época dirigia a AD campo-grandense pela segunda vez, causou uma enorme decepção ao seu protetor, o octogenário pastor Cícero Canuto de Lima líder do Ministério do Belenzinho em São Paulo, que caminhava para seus últimos anos de carreira. Além de conturbada, a perda da filial, ao que tudo indica, teve um contexto de ciúmes ministeriais e disputa pela sucessão de Cícero. A AD no Belenzinho era (e ainda é) o maior Ministério da Missão no Brasil e, na medida que...