O "Timoneiro" e o "Trovão" - epílogo

Nas postagens anteriores, o leitor pode acompanhar as circunstâncias da cisão ocorrida em 1972, quando o pastor Eliseu Feitosa de Alencar, na época líder da AD em Campo Grande/MS, rompeu com o Belenzinho/SP e causou grande alvoroço dentro do Ministério.

O principal veículo de comunicação das ADs, o Mensageiro da Paz informou a exclusão do pastor Eliseu feita por uma comissão de 21 pastores, a qual foi referendada por mais de 100 ministros no dia 02 de maio do mesmo ano, na antiga sede do Belenzinho na Rua Antônia Alcântara Machado, nº 616. 

Tempos depois, com o remanescente dos fiéis que não seguiram o pastor Eliseu, o Belenzinho iniciou outra congregação em Campo Grande. Para a árdua tarefa do recomeço, Cícero de Lima chamou o pastor Vicente Guedes Duarte, que já havia trabalhado na cidade anos antes. Para marcar a reabertura dos trabalhos da congregação filiada ao Belém, estudos bíblicos foram realizados e muitos líderes compareceram para dar seu apoio.

Mas é importante destacar, que a cisão em Campo Grande não foi um acontecimento isolado dentro do contexto em que vivia o Ministério do Belenzinho. Seu líder máximo estava em idade avançada, sem sucessor definido e questões ministeriais minavam a autoridade do pastor Cícero.

O pastor José Wellington comenta em sua biografia sobre a formação de uma convenção e o desejo de autonomia das igrejas do Cento-Oeste em relação ao Ministério do Belém. Fato que trouxe muita tristeza ao velho "timoneiro" e só não prosperou devido as hábeis negociações do pastor Wellington.

Outro caso desgastante foi por conta de uma antiga ligação do pastor Cícero com a AD em Aribiri, Vila Velha (ES). Com o intuito de ajudar a igreja que passava por dificuldades, Lima filiou a congregação capixaba ao Belém. O auxílio a AD em Vila Velha gerou uma enorme crise só resolvida pela Junta Executiva da CGADB.

Eliseu e Nicodemos no Diário da Serra 12/06/83

Nove anos depois, em janeiro de 1983, a AD em Campo Grande liderada pelo pastor Eliseu foi admitida na CGADB em Aribiri/ES cujo tema foi "A unidade da Igreja". É importante destacar, que a integração aos quadros da Convenção Geral só se deu, após a morte do pastor Cícero (1982) e sob protestos de alguns convencionais da região Centro-Oeste. Ainda em março de 1983, Eliseu Alencar com mais 170 ministros foram admitidos na Convenção Nacional de Madureira. 

Aliás, a relação do pastor Alencar com o Ministério de Madureira já vinham sendo trabalhadas há muito tempo. Pregações de Eliseu disponíveis no YouTube falam da solidariedade hipotecada a ele em momentos cruciais pelo Bispo Manoel Ferreira. O jornal Diário da Serra (edição 12/06/1983) informa a visita a Campo Grande do pastor Nicodemos José Loureiro da AD em Volta Redonda para, juntamente com Eliseu Feitosa, supervisionar e organizar uma convenção de Madureira no estado de Rondônia. 

Voltando para a CGADB, o pastor Eliseu voltou a fazer parte da Mesa Diretora e a escrever artigos para o Mensageiro da Paz e na CONAMAD fez parte da diretoria da instituição. Quis o destino, que em 1989, o pastor Alencar e seu campo eclesiástico fossem suspensos novamente da CGADB pela desvinculação do Ministério de Madureira da Convenção Geral.

O pastor Eliseu Feitosa de Alencar faleceu em 23 de agosto de 2007. Na biografia do pastor Wellington consta a seguinte informação: "pastor Eliseu pediu perdão ao Ministério do Belém. Também pastor José Wellington o perdoou". Para confirmar essa fato, o Mensageiro da Paz noticiou a morte do "Trovão".

Agora, sem juízos de valor ou condenações, Cícero e Eliseu repousam em paz. O que aconteceu faz parte de um dos capítulos mais tensos da história das ADs. História essa escrita por homens falhos, limitados e nem sempre conscientes do alcance das suas decisões. Todavia deixaram seu legado ministerial.

Fontes:

 ARAÚJO, Isael. José Wellington – Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil - Curitiba: Editora Prisma, 2017.

Diário da Serra, Campo Grande/MS, 12 de junho de 1983.

Mensageiro da Paz, ano 42, 30 de julho de 1972, nº 14, p.10.

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