O Natal assembleiano - controvérsias históricas

São muitas as controvérsias sobre as origens das celebrações natalinas. Ao pesquisar na internet, o leitor terá diante de si as mais variadas informações que, justificam ou condenam, os símbolos do Natal (Papai Noel, árvore de Natal, troca de presentes etc.).

Na história assembleiana, as polêmicas sobre esse tema são antigas. No longínquo ano de 1938, na convenção de pastores na Paraíba, que contou com a presença do pastor Cícero Canuto de Lima, foi lançada a pergunta que até hoje não quer calar: “Podem as Assembleias de Deus fazer árvores de Natal?”.

A convenção foi realizada em janeiro de 1938, e a pergunta, provavelmente, refletiu certos questionamentos do Natal anterior. “Após costumeiras trocas de opiniões, foi estabelecido que não é pecado fazer-se árvores de Natal, por isso que a palavra de Deus não o proíbe” 一 concluíram os convencionais, que ainda citaram um versículo bíblico.

Na contramão desta resolução, consolidou-se em muitas igrejas a ideia de que a árvore de Natal era idolatria. Nem nas congregações e nas casas dos crentes, o ornamento deveria estar presente. Vale lembrar, que nessa época e por muito tempo, outros símbolos ditos cristãos (a cruz principalmente) eram evitados nos templos assembleianos.

Para sedimentar esses conceitos, contribuiu para isso os escritos do teólogo e pastor Abraão de Almeida. Nas décadas de 1970/80, Almeida foi um dos autores mais lidos nas ADs e num dos seus livros intitulado Babilônia Ontem e Hoje (leia aqui), o escritor afirmou que o pinheiro era a árvore preferida do deus sumério Tamuz e que a gênese da árvore de Natal estava descrita negativamente na Bíblia, onde se lê: “Porque os costumes dos povos são vaidade; pois cortam do bosque um madeiro, obra das mãos do artífice, com machado. Com prata e com ouro o enfeitam, com pregos e com martelos o firmam, para que não se mova.” (Jeremias 10.3,4).

AD em Porto Alegre, anos 70: árvore de Natal sem preconceitos

Porém, com árvores enfeitadas ou não, muitas apresentações, cantatas e programações eram realizadas nas igrejas para celebrar o Natal. Mas até nisso houve contestações. Nas páginas do Mensageiro da Paz, no ano de 1969, o pastor José Menezes na coluna Está Errado (leia o artigo aqui), manifestou sua preocupação com apresentações feitas “à moda dos palcos teatrais, com finalidades e demonstrações carnais”.

Menezes chegou a citar que numa congregação até um Papai Noel havia aparecido com sua “roupa de palhaço, barba de algodão, como fazem no mundo”. Assim, depois de descrever algumas apresentações, o veterano obreiro fez o seu veredito: “tudo verdadeira hipocrisia sem nenhuma demonstração de espiritualidade, sem expressão bíblica” colhidas nos livros de “denominações frias”.

Mesmo com esse alerta, as apresentações continuaram pelo Brasil afora. Atualmente, cada igreja procura criar suas programações natalinas conforme suas condições humanas e materiais. E nas questões teológicas, ou seja, se a árvore de Natal é pecado ou não, até alguns empedernidos defensores da “ortodoxia” bíblica renderam-se a modernidade que tanto condenam.

Fontes: 

ALMEIDA, Abraão Pereira de. Babilônia, ontem e hoje - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1982.

Mensageiro da Paz, ano VIII - 1ª quinzena de maio de 1938, Rio de Janeiro. 

Mensageiro da Paz, ano 39 - junho de 1969 - nº 11, CPAD, Rio de Janeiro. 

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