AD em São Cristóvão, RJ - surpresas no centenário

Há cem anos, Gunnar e Frida Vingren organizaram a Assembleia de Deus (AD), em São Cristóvão, na Zona Central da cidade do Rio de Janeiro. A congregação implantada no antigo Distrito Federal, em pouco tempo expandiu-se pelas regiões próximas. Dessa expansão surgiu o Ministério de Madureira, liderado pelo jovem Paulo Leivas Macalão.

Os principais missionários suecos no Brasil lideraram a AD carioca. Pastores pioneiros como Francisco Pereira do Nascimento, Alcebiades Pereira Vasconcelos, José Pimentel de Carvalho e Túlio Barros Ferreira em muito contribuíram para o crescimento do ministério. O Mensageiro da Paz, a CPAD, o CAPED e tantas outras belas iniciativas de evangelismo e missões tiveram na AD do Bairro Imperial suas origens. A igreja carioca foi essencial para modelar e expandir o pentecostalismo no país. 

Porém a política eclesiástica destruiu a AD São Cristóvão. Com idade avançada, o então pastor da igreja Túlio Barros entregou a liderança em 2004, para o seu filho caçula Jessé Maurício. Nesse tempo, o saudoso pastor Túlio já estava rompido com a CGADB e no processo de transição, a instituição pioneira do pentecostalismo no Rio aderiu a "novas doutrinas" causando um cisma denominacional.

Apóstolo Jessé e Bispo Abner: transição na igreja histórica no RJ

Com o desligamento do pastor Túlio Barros da CGADB, a AD liderada por ele desapareceu das páginas do Mensageiro da Paz. Os membros egressos de São Cristóvão fundaram a AD em Benfica, deixando um vazio no templo e nas finanças da igreja. O resultado foi a tentativa de alugar ou vender o antigo templo na mesma rua da atual sede. Com a criação da Convenção Nacional da Assembleia de Deus (CADB), a histórica casa de oração foi reativada.

Todavia a decadência continuou: congregações continuaram a ser vendidas para, supostamente, cobrir déficits financeiros. No atual templo da AD Missão Apostólica da Fé (ex-São Cristóvão) a liturgia e pregações em nada lembram uma "Assembleia de Deus". Algumas reformas em sua estrutura (aumento do palco que serve de púlpito e redução da nave interna do templo) tentaram disfarçar a reduzida assistência aos cultos.

Agora em março de 2024, no centenário da igreja carioca, o Apóstolo Jessé Maurício em comunicado nas redes sociais declarou que "após 2 anos de oração e incessante busca de Direção Divina, tomei a difícil decisão de encerrar meu ciclo como Pastor Presidente da Assembleia de Deus de São Cristóvão/Assembleia de Deus Missão Apostólica da Fé...".

Segundo o caçula do pastor Túlio, após o centenário da igreja em junho próximo, o Bispo Abner Ferreira do Ministério de Madureira no Rio de Janeiro, será o novo pastor da instituição, respeitando a identidade histórica e a personalidade jurídica da mesma.

O Ministério de Madureira foi fundado por um membro da antiga AD em São Cristóvão: Paulo Leivas Macalão. Macalão foi secretário da igreja e formou sua primeira banda musical. Do Bairro Imperial ele se aventurou pelos subúrbios do Rio para pregar o evangelho. Sempre fez questão de dizer que nunca rompeu com a igreja-mãe, mas ganhou autonomia dos suecos. 

Agora no centenário, a história faz convergir os dois ministérios que no passado tiverem seus momentos de tensão. Na repercussão do caso, os pastores ligados à CGADB gostariam de ver a igreja novamente em seus quadros. Por outro lado, os obreiros de Madureira estão felizes com o reatamento histórico das duas principais Assembleias no Rio. 

Entre tantas trocas de mensagens, alguns irmãos da "Nação Madureira" dizem que Macalão sonhava em abrir uma igreja no centro da Cidade Maravilhosa...

Fontes: 

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011 (2ª edição ampliada). São Paulo: Recriar; Vitória: Editora Unida, 2019.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CABRAL, David. Assembleias de Deus: a outra face da história. 3 ed. Rio de Janeiro: Betel, 2002. 

CORREA, Marina. Assembleia de Deus: Ministérios, Carisma e Exercício de Poder. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

https://www.pointrhema.com.br/2024/03/bp-abner-ferreira-ad-madureira-rj.html?m=0

https://mariosergiohistoria.blogspot.com/2017/12/retrospectiva-o-resgate-de-um-simbolo.html

https://mariosergiohistoria.blogspot.com/2018/03/ad-sao-cristovao-o-retorno.html

Comentários

  1. Parabéns pela notícia

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  2. Glórias Senhor Jesus. Obrigado Jeová. Abraça o teu Povo meu Senhor.

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  3. Eu fiz parte da história da Assembleia de Deus em São Cristóvão por Treze anos e tive o privilégio de ser um dos últimos Ministros a quem PR Túlio Barros Ferreira ordenou ao santo Ministério e hoje fiquei triste com essa situação mais Deus abençoe a nova fase da igreja

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  4. Poderia passar a Igreja para a Assembleia de Deus no Rio de Janeiro em Benfica. La estao os antigos membros da AD em Sao Cristovao..

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  5. A politização e a disputa pelo poder entre as lideranças das maiores denominações históricas do Brasil, são a vergonha do evangelho diante da sociedade, corrupção,poder, imoralidade,enriquecimento ilícito, ostentação e nepotismo, porém graças a Deus que enquanto a igreja visível se corrompe,a igreja invisível é santificada pelo Espírito Santo e se prepara para volta triunfante de Cristo, Maranata Jesus,volta logo!

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  6. Muito triste! O que encerra sua carreira de pastor nunca foi pastor. Filho de pastor não é pastorzinho. Precisa unção de Deus !

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  7. Tá aí uma notícia inesperada, mas não muito.
    Alguns anos atrás os dois líderes chegaram a ensaiar uma aproximação entre as igrejas, reprisando as visitas mútuas que eram feitas nos tempos de Paulo Macalão.
    Agora é aguardar os próximos capítulos.

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  8. Muito triste a notícia. Vão colocar logo logo na fachada "AD Brás Rio".
    Deveria passar para a igreja de Benfica. Tem muitos membros antigos lá. Antidemocrática esta decisão do "apóstolo". No RJ a AD só piora.

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  9. O Jessé tinha que conclamar uma assembléia extraordinária com a presença dos membros antigos que estão e os que saíram e deixar a assembléia deliberar sobre os novos rumos de um patrimônio que é a AD de São Cristovão. Eu ficaria muito feliz como carioca. E o SENHOR também ficaria muito feliz.

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  10. Quem concorda comigo neste blog que o Jessé deveria devolver a igreja ao movimento pentecostal da Suécia?

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