Sucessões pastorais - modus operandi

Na postagem anterior tratou-se da resolução da CGADB de 1937 sobre as sucessões pastorais nas ADs e como a proposta convencional (utópica) foi atropelada pela realidade do crescimento da denominação e da sua estrutura hierárquica em formação (ler aqui)

Com a consolidação do modelo episcopal e da organização burocrática da maioria dos ministérios, as sucessões passaram a ser muito bem controladas pelos pastores-presidentes, que no topo da hierarquia ministerial pavimentam o caminho para os seus "escolhidos", geralmente um parente próximo e de confiança.

E como isso acontece? No modelo assembleiano o pastor-presidente possui o controle da administração e dos recursos financeiros. Na prática é um patrão com poder para admitir ou demitir os funcionários da igreja-empresa. Muitos dos obreiros ligados ao ministério por dependerem financeiramente da instituição não se opõem as determinações do líder maior.



O receio de desligamento ou da transferência para locais mais distantes dos grandes centros é algo que pesa na conformação com as decisões gerais do líder maior. Ainda mais quando o obreiro não tem qualificações profissionais. Somente nas igrejas menores com um ministério assalariado reduzido e com um amplo corpo de auxiliares (em geral os presbíteros) sem vínculo financeiro com a igreja é encontrada resistências aos ditames do pastor-presidente. 

Outro detalhe: muitos obreiros se submetem ao sistema, porque também almejam um dia chegar ao topo dele, ou seja, serem pastores-presidentes de algum campo eclesiástico. Poucos conseguem, pois o nepotismo agrava a concorrência. As maiores igrejas sempre estarão no controle firme das oligarquias convencionais.

Nesse caso entra outra extensão do nepotismo: a política. O controle do ministério favorece as aspirações políticas dos familiares de pastores. Por todo o Brasil multiplicam-se os candidatos a vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais e senadores com alguma ligação parental com os líderes da igreja. 

E quando há outros membros com vocação política? Não há lei que possa proibir alguma forma de concorrência. Mas já se sabe que ele (ou ela) estará numa disputa desigual. Os pastores distritais ou setoriais fazem das eleições e da quantidade de votos dirigidos para o candidato oficial uma forma de fazer "média" com o seu chefe eclesiástico. 

Nas próximas postagens iremos aos exemplos históricos!

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011 (2ª edição ampliada). São Paulo: Recriar; Vitória: Editora Unida, 2019.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina Aparecida Oliveira dos Santos. Dinastias assembleianas: Sucessões familiares nas igrejas das Assembleias de Deus no Brasil. São Paulo: Recriar, 2020.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

FRESTON, Paul. Evangélicos na política: história ambígua e desafio ético. Curitiba: Encontrão Editora, 1994.

Comentários

  1. As Assembléias de Deus vem sofrendo a muito tempo na mão do Coronelismo...
    Supostos "pastores" que amam o poder, e odeiam e destroem tudo e todos que vão na contra mão de suas ordenanças.
    Taís coronéis se acostumaram a luxúria e corrupção, comprando e vendendo "igrejas" com porteira fechada como gado no curral.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O caso Jimmy Swaggart - 30 anos depois

Iconografia: quadro os dois caminhos

Assembleia de Deus e a divisão em Pernambuco (continuação)