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Mostrando postagens de 2010

AD em São Cristóvão (RJ): a descaracterizarão de uma igreja histórica

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Na grandiosa festa de comemoração do 60º aniversário da CEADAM (Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Amazonas), cujo tema foi "Avivamento para transformar o Planeta", vários pastores, cantores e pregadores abrilhantaram os trabalhos. A multidão de membros e obreiros de todo estado lotaram o sambódromo de Manaus para celebrar o evento. Entre os preletores estava um jovem pastor com pinta de galã: elegantemente trajado, penteado impecável, eloquente e teatral nas suas prédicas, o pregador fazia a multidão delirar com suas mensagens.  Obreiros, crentes, homens e mulheres caiam ao serem atingidos pelos "mísseis" divinos lançados sobre os fiéis, ou com um simples sopro caíam ao chão extasiadas do poder de Deus. Ele mesmo, empolgado com os acontecimentos ao seu redor, entre efusivas manifestações de louvor do povo ali reunido, cambaleava como se estivesse embriagado. O pregador cuja performance foi brevemente descrita nas linhas acima, é o Apóstolo Je

Benedita da Silva - mulher, negra, favelada e política assembleiana

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Para Paul Freston em seu livro Evangélicos na Política Brasileira , Benedita da Silva é uma pentecostal atípica. Filha de um operário de construção (décima-segunda numa prole de treze) e de uma lavadeira, ambos analfabetos, Benedita trabalhou de empregada e camelô. Tornou-se auxiliar de enfermagem, e posteriormente já vereadora, graduou-se em Serviço Social. Freston observa ainda, que a sua politização se deve aos pais. Sendo filha de mãe de santo, ela herdou de sua genitora a capacidade de liderança, e nas associações comunitárias ela desenvolveu sua formação política. Tornou-se membro da Assembleia de Deus aos 24 anos, "adaptando-se aos costumes mas não ao apoliticismo." (Freston 1994: 108) Durante toda sua atuação política foi vista com reservas e desconfianças pela liderança assembleiana. Era filiada ao PT numa época em que o partido era visto como a encarnação do mal. Ao defender os direitos dos negros, mulheres e homossexuais, ela causava desconfianças entre

Memória fotográfica - Líderes da Assembleia de Deus em Santa Catarina

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A fotografia nos permite reviver momentos alegres e tristes, permite também realizar uma viagem ao tempo. Ela capta um momento, um instante, um evento e o eterniza. Nessa fotografia você observa um desse momentos eternizados. Cedida gentilmente pela família Loureiro, esse encontro de pastores e obreiros catarinenses ficou para posteridade através dessa foto. No livro O Reino entre príncipes e princesas  - 75 anos de história da Assembleia de Deus em Joinville encontramos a informação de que esse registro se fez na Convenção de obreiros, realizada em Florianópolis em 1958. Na primeira fila sentados da esquerda para a direita encontramos os pastores João Ungur e esposa, Antonieto Grangeiro, Antonio Lemos, missionário Simon Lundgren, Manoel Germano de Miranda, Agnelo José da Costa, Osmar Cabral e esposa, Satyro Loureiro e esposa. Em pé, entre vários convencionais se observa a presença de Artur Montanha, Liosés Domiciano e José Vieira. Ainda em pé na quarta fila (o ter

Tim Tones - paródia com ares proféticos

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V ocê lembra de Tim Tones? Os mais jovens provavelmente nunca ouviram falar dele, mas Tim Tones era um personagem do famoso humorista Chico Anysio. Talvez seja um dos precursores da teologia da prosperidade no Brasil. O nome do cômico personagem lembrava o pregador norte americano Jim Jones, que alguns anos antes ficou famoso por liderar um suicídio coletivo na Guiana.   O quadro humorístico, era também uma clara alusão ao programa do famoso televangelista Rex Humbard, apresentado em vários países, inclusive no Brasil. Exibido em meados dos anos 80, o quadro causou forte reações no meio cristão (principalmente nas lideranças), os quais, não gostaram da forma estereotipada da representação dos evangélicos no horário nobre da Rede Globo de televisão. Tal foi a indignação, que a revista Veja numa matéria intitulada De mal humor: personagem de Chico Anysio descontenta igrejas descreve assim a polêmica: O pastor Tim Tones, um personagem que Chico Anysio apresenta há dois meses na TV Globo,

Refúgio para um pardal - a autobiografia do Pr. Nirton Santos

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Deixando agora a política um pouco de lado, gostaria de informar que li recentemente o livro autobiográfico do Pr. Nirton dos Santos, intitulado  Refúgio para um pardal  (Editora Letra Moderna). O título é uma alusão ao pássaro que a Bíblia apresenta como o de menor valor. Pr. Nirton em sua trajetória de vida se compara a essa ave, a qual mesmo sendo de valor insignificante, contudo é alvo do cuidado divino. Pr. Nirton: refúgio para um pardal Nas páginas desse livro, encontramos a história de um menino, cuja vida é desde cedo marcada por tragédias familiares, abandono, trabalho árduo e solidão. É realmente comovente, e impressionante o relato do suicídio da sua mãe, bem como o destino trágico das suas irmãs. Entre tantas perdas, miséria e desconforto, o jovem Nirton se converte ao evangelho de Cristo, e consegue formar um lar, desenvolver seu ministério de pastor pentecostal. Os pontos altos de sua narrativa são: o indiscutível pioneirismo, abnegação e renúncia do Pr. Santo

Ainda sobre as eleições: o perfil dos candidatos pentecostais

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Ainda continuando sobre a eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, é importante destacar o perfil dos candidatos apoiados pelas igrejas, ou seja, quem a liderança buscou para fazer a representação da denominação como um todo. Paul Freston descreve em seu livro Evangélicos na Política Brasileira , as qualidades ou as qualificações dos primeiros candidatos pentecostais. Em suma eles eram pregadores ou cantores conhecidos dos fiéis. Portanto tinham projeção eclesiástica, pois numa eleição majoritária, ter um nome já conhecido ajudava no projeto de eleição do candidato oficial. Lançar um desconhecido talvez não seria um bom negócio. Outra qualificação era a de empresário de origem humilde, mas bem sucedido na carreira profissional. Outro fator para indicação foi a ligação do pretendido candidato com a mídia evangélica. Geralmente um candidato reunia em si duas , ou senão três dessas qualificações citadas acima. Um exemplo é o caso de Matheus Iensen. Eleito deputado constitu

Constituição: liberdade religiosa ameaçada?

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Um dos capítulos mais interessantes da história dos pentecostais é justamente a adesão desse grupo religioso a política partidária. O sociólogo Paul Freston em seu clássico livro Evangélicos na Política Brasileira: história ambígua e desafio ético trata com muita propriedade essa questão. Para o referido autor questões como a consciência de crescimento numérico, e as disputas no campo religioso por acessos e meios de fortalecimento das instituições evangélicas (esses meios seriam segundo o autor: concessões de rádio e televisão, bem como doações e verbas para as entidades filantrópicas dirigidas pelas igrejas), são um exemplo dos motivos da adesão pentecostal a política partidária. Soma-se a isso o status que a política pode dar a uma família pastoral, e o desejo dos partidos políticos de diversificarem sua clientela. Porém, para romper com as resistências históricas de um povo, que não via a política dentro das igrejas com bons olhos, qual fator ou discurso se destacou naquela é

A Assembleia de Deus e eleições: 1986 um ano decisivo

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Uma das notícias mais comentadas nos meios de comunicação a cada eleição legislativa, é o aumento, ou a diminuição da chamada "bancada evangélica" no Congresso Nacional. Nesse ano de 2010, verificamos que o número de parlamentares evangélicos aumentou, saltando de 43 para 71 congressistas. A Assembleia de Deus maior igreja protestante e pentecostal do Brasil, fez jus ao seu gigantismo, e agora na proximidade do seu centenário, conseguiu eleger (ou em alguns casos reeleger) 23 deputados federais, superando assim as dificuldades da eleição legislativa de 2006, quando vários de seus representantes não conseguiram a reeleição. Mas como será que a maior denominação evangélica do país se comportava em matéria de política partidária  há alguns anos atrás? Segundo alguns estudiosos, a origem estrangeira dos missionários suecos que fundaram a Assembleia de Deus no Brasil, a baixa condição social dos seus membros nas primeiras décadas de sua expansão e as perseguições ferren

Uma visita histórica na CGADB de 1959

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A CGDB de 1959, realizada na Assembleia de Deus em São Cristóvão (RJ) foi marcada por uma visita ilustre. Os convencionais receberam o então ministro da Guerra, o Marechal Henrique Dufles Teixeira Lott. Segundo o escritor Silas Daniel em seu livro História da Convenção Geral das Assembleias de Deus (CPAD 2004), essa "visita foi considerada histórica porque foi a primeira vez que uma autoridade pública do alto escalão do estado visitava a Convenção Geral".  Ainda segundo Daniel, a presença de Lott "teve um significado enorme para os convencionais", pois a igreja estava sofrendo perseguições por parte de líderes católicos, os quais mantinham um vínculo muito estreito com as autoridades brasileiras. No registro de seu discurso na CGADB, o marechal cita suas "origens evangélicas de sua ancestralidade"  e promete que a "liberdade será por ele defendida a todo o transe e os crentes gozarão de todas as garantias que a lei prescreve na Magna Carta".

A Assembleia de Deus e a Revolução Cultural

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Um dos momentos mais interessantes da História das Assembleias de Deus no Brasil foi o encontro da CGADB ocorrido em 1968 na cidade de Fortaleza, Ceará. Segundo o escritor Silas Daniel no livro História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil “os reflexos da Revolução Sexual já atingiam as igrejas, preocupando os convencionais”. As discussões começaram por um pastor catarinense; Satyro Loureiro, que perguntou: “Qual a atitude das Assembleias de Deus no Brasil em relação às minissaias e aos cabeludos que estão tentando invadir as igrejas?” Não é preciso dizer que nas páginas seguintes os debates foram intensos, sobrando até para o respeitável Mensageiro da Paz , órgão oficial da igreja, pois segundo um pastor, estaria o MP publicando em suas matérias “fotografias de moças e senhoras com vestidos curtos e cabelos com penteados fora do comum”. Como não poderia deixar de ser, as deliberações dos convencionais foram de condenação aos “costumes mundanos”, e de maior rigor

Algumas curiosidades da história assembleiana

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Meu propósito é pontuar algumas curiosidades históricas da Assembléia de Deus no Brasil. As informações aqui contidas nesse post estão disponíveis no livro História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil (CPAD 2004). Apenas estarão inseridos alguns comentários procurando contextualizar alguns fatos para que o leitor possa entender as razões de certas decisões ou debates. Na Convenção Geral de 1937 os convencionais desaprovaram uma proposta do missionário sueco Algot Svenson, líder da Assembléia de Deus em Belo Horizonte, de criar hospitais evangélicos em parceria com outras igrejas. A proposta foi rejeitada, pois entendiam os pastores que a função da igreja de Cristo deveria ser exclusivamente espiritual. Acreditavam ainda que a construção de hospitais fosse uma contradição à fé pentecostal, pois os enfermos deveriam antes de tudo receber orações e serem curados. Ainda na mesma convenção foi discutida pela primeira vez a utilização do rádio como forma de evangel

Um editorial histórico e polêmico

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No ano passado o Centro Evangélico de Educação e Cultura (CEEDUC) recebeu uma preciosa doação. A irmã Ady Lopes, conhecida historiadora e memorialista da Assembléia de Deus em Joinville, doou exemplares da revista evangélica “A Seara”. Entre os exemplares doados encontramos as primeiras edições da revista (fundada em 1957), e edições das décadas de 60, 70, 80 e 90. Capa da revista: em seus primeiros anos causou polêmicas dentro das Assembleias de Deus Para quem gosta de navegar nas páginas do tempo, as revistas oferecem um excelente panorama das Assembléias de Deus no Brasil. As primeiras edições são as mais emblemáticas, pois conforme registros, a “A Seara” foi criada para tentar quebrar certos paradigmas dentro da denominação.  E é através de seus artigos e reportagens que se percebem as tensões internas de uma denominação em franco processo de crescimento e consolidação no território nacional. Esse editorial escrito pelo saudoso pastor João Pereira de Andrade e Silva

O Mito Fundador e as Assembleias de Deus no Brasil

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Há três anos atrás, alguns blogs e postagens fizeram propaganda sobre o lançamento do selo comemorativo do centenário das Assembleias de Deus no Brasil. O selo possui a logomarca oficial do centenário, porém em forma de um quebra-cabeça, querendo assim demonstrar o grande mosaico que é a denominação, composta de vários ministérios e convenções. No selo aparecem ainda quatro mãos que ajudam a montar o quebra-cabeça, o qual significa a unidade dos diversos segmentos da denominação em torno do centenário. A iniciativa é louvável, e o selo é realmente um símbolo da realidade de uma denominação que a cada dia que passa mais se fragmenta em ministérios e convenções concorrentes entre si, tendo à única coisa em comum o nome: Assembleia de Deus.  Mas, não é só o selo comemorativo que simboliza a tentativa de unir facções assembleianas em torno de tão aguardada data. Já há algum tempo, a história da denominação tem sido um instrumento para de alguma forma, unir as igrejas em torno d