Visita histórica na CGADB de 1959
A CGADB, realizada na Assembleia de Deus em São Cristóvão, RJ, entre os dias 16 e 21 de novembro de 1959, foi marcada por uma presença ilustre. Os convencionais receberam, no plenário, o então Ministro da Guerra, Marechal Henrique Batista Dufles Teixeira Lott. Segundo o escritor Silas Daniel, no livro História da Convenção Geral das Assembleias de Deus, a “visita foi considerada histórica porque foi a primeira vez que uma autoridade pública do alto escalão do Estado visitava a Convenção Geral”.
Conforme Daniel, a presença de Lott “teve um significado enorme para os convencionais”, pois a igreja estava sofrendo perseguições por parte de líderes católicos que mantinham um vínculo muito estreito com as autoridades brasileiras. No registro de seu discurso na CGADB, o marechal citou suas origens evangélicas, mencionando a ancestralidade de sua família.
Lott herdara o catolicismo da mãe: rezava sempre após as refeições e levava a família à missa todos os domingos. Todavia, pelo lado paterno, o marechal tinha suas origens na Inglaterra. Provavelmente, seus familiares professavam o anglicanismo e seu avô, ao mudar-se para o Brasil, assimilou o catolicismo ao casar-se com uma brasileira.
Portanto, o ilustre visitante da CGADB era um homem aberto e compreensivo à pluralidade de denominações religiosas. Famoso por evitar um golpe e garantir a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek, em 1955, Lott prometeu aos convencionais que a liberdade religiosa seria por ele defendida “e os crentes gozarão de todas as garantias que a lei prescreve na Magna Carta”. Naquele momento, aquelas palavras, vindas do “marechal da legalidade”, devem ter causado um verdadeiro frisson no plenário.
Marechal Lott com os líderes das ADs
Entretanto, a visita de Lott tinha também outras intenções. No ano seguinte (1960), ele concorreria à presidência da República. Na CGADB, o candidato prometeu garantir a liberdade religiosa; contudo, defendia também propostas mais populares, como o voto do analfabeto, o monopólio da Petrobrás e a restrição de remessas de lucros para o exterior.
Usando como símbolo uma espada, símbolo do Exército Brasileiro, o oficial legalista seria derrotado pelo histriônico Jânio Quadros, que utilizava uma vassoura como emblema de campanha. A vassoura seria para “varrer” à corrupção do país. Jânio também fazia um forte apelo aos valores morais e conservadores da sociedade. Qual das propostas seria a mais atraente para os líderes pentecostais?
Do ponto de vista eleitoral, a visita pode também ser considerada um indício, já naquela época, de que os crentes não eram vistos apenas como uma massa de religiosos ignorantes e fanáticos, mas também como um forte reduto eleitoral. Num regime democrático, o voto de católicos e evangélicos têm o mesmo valor.
Momento em que Lott falava aos convencionais
Há ainda algumas curiosidades sobre essa visita ministerial (e eleitoral). Ao chegar ao templo da AD em São Cristóvão, o marechal foi recebido à porta por uma comissão de pastores. Já no recinto convencional, o pastor Cícero Canuto de Lima recusou-se a ser um dos oradores a saudar o ilustre visitante. “Irmãos, esse homem é muito grande!” — justificou-se.
Por fim, entre os convencionais estava um obreiro de 25 anos de idade, ligado ao Ministério do Belenzinho, em SP. Vindo do Ceará em cinco anos antes (1954) com sua esposa e um filho de poucos meses no colo; naquele ano de 1959, o jovem evangelista, depois de dirigir algumas congregações, foi convidado a assumir um dos setores do Belenzinho na capital paulista. Seu nome: José Wellington Bezerra da Costa.
Seria a primeira de muitas Convenções Gerais do pastor José Wellington. Trinta anos depois, ele estaria na liderança da instituição.
Fontes:
ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011 (2ª edição ampliada). São Paulo: Recriar; Vitória: Editora Unida, 2019.
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
ARAÚJO, Isael. José Wellington – Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Brasil -1930 a 2021 (Edição Revista e Ampliada). Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.
WILLIAN Wagner. O Soldado Absoluto: Uma Biografia do Marechal Henrique Lott. Rio de Janeiro: Record, 2005.
Amigão, quem diria que naqueles tempo o nosso querido votinho já eram bem vindos...
ResponderExcluirParabéns, gostei assunto, muito bom.
Jorge Luiz
Grande colega de trabalho. Exelente professor de História. Um homem ungido de Deus!
ResponderExcluirQue o Senhor continue te abençoando com as mais ricas bençaos dos céus...
Um grande abraço e fique na paz do Senhor...
By: Nili Barbi
Conheci o pr. Satyro Loureiro na decada de 70 quando o mesmo juntamente com o pr Montanha estiveram em Fortaleza com uma equipe de irmaos numa verdadeira cruzada evangelistica realizada na pça Gustavo Barroso..estiveram presentes ao evento alem de autorirades de outras denominaçoes, o pr. Emiliano Ferreira da Costa, presidente do Templo Central e o Ev. Ademir Siqueira, futuro fundador da Igreja Assembleia de Deus Betesda..(ambos ja dormen no senhor)
ResponderExcluirO pr. Satyro Loureiro é um referencial na evangelizaçao e pioneiriso das cruzadas evangelisticas principalmente no nordeste...quando na decada de 70 juntamente com o pastor Montanha e uma caravana de irmaos saidos da cidade de Joinville estiveram em Fortaleza e realizaram uma campanha que marcou o inincio de outros eventos com a presença de obreiros nacionais. Estiveram presentes o Pr Emiliano F. Costa - presidente do Templo Central e o Evangelista Ademir Siqueira, futuro fundador da Assembleia de Deus Betesda.
ResponderExcluirHermano Medeiros Cesar - cooperador
Meu querido irmão, agradeço sua visita e seus comentários. realmente pastor Satyro foi um grande evangelista e, juntamente com pastor Montanha realizou várias cruzadas pelo Brasil afora. Em breve estarei aqui nesse blog colocando algumas fotos dessas cruzadas, com algumas observações.
ResponderExcluirDeus abençoe!
Alguém sabe o endereço do templo da AD de São Cristovão da convenção de 1959?
ResponderExcluirO meu Pr. José Tito de Paula, ainda presidindo a AD em Piabetá com os seus 96, conta as histórias qie viveu com Paulo Leivas, com Margarida, e de quanto Deu se manifestava nessa época.
ResponderExcluirAtt. Michel P