CGADB de 1955 - Comissão Conciliadora e Rádio

Entre os dias 17 a 22 de outubro de 1955, realizou-se em Belém do Pará, a 14ª Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). Era a segunda vez que a Igreja Mãe recebia os convencionais de todo o país (a primeira foi em 1936). O evento também ocorreu no clima de comemorações do Jubileu de Prata da Convenção Nacional fundada em 1930.

Para a Mesa Diretora da histórica convenção foram eleitos os pastores: Francisco Pereira do Nascimento (presidente), Paulo Leivas Macalão (vice-presidente), Alcebíades Pereira Vasconcelos (1º secretário) e Eugênio Martins Pires (2º secretário). Da Mesa Diretora só Macalão da AD em Madureira, RJ, não da região Norte/Nordeste, os demais representavam os estados do Pará (Nascimento), Maranhão (Vasconcelos) e Rio Grande do Norte (Pires).

Interessante que, dias antes, no dia 03 de outubro, os brasileiros foram às urnas para escolher o novo presidente da república, o mineiro Juscelino Kubitschek (JK). Porém, o clima de instabilidade política se estabeleceu com a contestação por parte dos oposicionistas e militares, que tentaram impedir à posse de JK. Depois da CGADB no Pará, o Brasil viveria ainda muitas tensões políticas. Presidente eleito quase sendo impedido de assumir, oposição e militares tentando um golpe, campanha para deslegitimar o pleito; “não há nada novo debaixo do sol” (Eclesiastes 1:9).

Mesa Diretora da CGADB em Belém, PA, em 1955. Assentados (da esquerda para a direita), os pastores Alcebíades Pereira Vasconcelos, Francisco Pereira do Nascimento, Paulo Leivas Macalão e Eugênio Martins Pires. Em pé: Antônio Petrolino, Álvaro Motta, João de Oliveira, José Teixeira Rego e Antonieto Grangeiro Sobrinho.

Segundo o jornalista Silas Daniel, o destaque daquela CGADB foi a criação da Comissão Conciliadora. “Essa foi, sem dúvida, a principal resolução da Convenção de 1955.” O objetivo da comissão, órgão “orientador e pacificador”, seria o de resolver impasses e crises ocorridas durante os intervalos convencionais. Para essa finalidade, escolheu-se pastores para trabalhar na comissão conforme as regiões de sua atuação: Norte, Nordeste, Centro, Oeste e Sul.

As ADs viviam as contradições do seu próprio crescimento. A “Ministerialização” e a constante expansão das congregações filiadas aos principais líderes, gerava embates em várias partes do país. Não por acaso o termo “jurisdição eclesiástica” foi amplamente usado nesse período. A nomenclatura “Comissão Conciliadora” em si já revelava o paradoxo do momento histórico das ADs.

Porém outro assunto não menos polêmico foi ventilado em Belém: a concessão de uma emissora de rádio. O assunto foi abordado na revista A Seara (edição julho/agosto de 1957) pela colunista Cyléa Corrêa: “Conforme lemos na Ata da Convenção Geral, realizada em Belém, em 1955, este tema foi lembrado pelo irmão Antônio Barros, e aprovado em plenário que dirigiu uma oração a Deus, pedindo Sua aprovação e direção”.

A primeira vez que o debate sobre o uso da rádio para evangelização foi levantado ocorreu na CGADB de 1937, na cidade de São Paulo. Os convencionais aprovaram o uso do rádio para evangelizar, mas não o aparelho na casa dos crentes. Coube ao missionário norte-americano Lawrence Olson o pioneirismo na evangelização pelo rádio, quando em 1947, iniciou os programas na Rádio Cultura de Lavras, em Minas Gerais.

Conforme destacou Cyléa, o assunto da emissora não era novo e estava no “pensamento dos irmãos que se interessam pela ampliação da divulgação do evangelho”. Todavia, o projeto nunca foi à frente. Naquele momento histórico, somente iniciativas regionais surgiram no sentido de evangelizar pelo rádio. Assunto a ser tratado em outro momento.

Mas fica o reconhecimento de que na histórica CGADB de 1955, em Belém do Pará, além da Comissão Conciliadora, também se abordou a possibilidade de uma emissora de rádio própria para a evangelização do Brasil. As ADs estavam se sentindo pressionadas pelos novos tempos!

Fontes:

A SEARA, Revista Evangélica Ilustrada, ano II, nº 04, V. 05/julho e agosto de 1957.

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011 (2ª edição ampliada). São Paulo: Recriar; Vitória: Editora Unida, 2019.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Brasil -1930 a 2021 (Edição Revista e Ampliada). Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

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