Escola Bíblica da Guanabara - 1960
Durante um mês (03 de maio a 03 de junho) realizou-se nas dependências da Assembleia de Deus (AD) em São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro, a tradicional Escola Bíblica de obreiros com a presença de diversos pastores, evangelistas, presbíteros, diáconos e membros da igreja de diversas partes do país.
Segundo o jornalista Emílio Conde, a Escola Bíblica reuniu representantes de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Ceará e do estado do Rio de Janeiro. Como sinal das mudanças políticas da época, Conde também registrou a participação de obreiros do recém-fundado Estado da Guanabara, onde estava o templo da AD em São Cristóvão. Era necessário agora nomear as coisas conforme a nova geopolítica nacional.
Para recordar: o Estado da Guanabara nasceu em 1960, em consequência da transferência da Capital Federal do Rio para Brasília. Assim, o Rio de Janeiro, agora ex-capital da República, virou uma cidade-estado. Somente em março de 1975, houve a fusão entre o Estado da Guanabara e do Rio de Janeiro.
![]() |
Obreiros na Escola Bíblica da Guanabara, 1960 |
Para as congregações assembleianas, esses dias foram muito proveitosos. Durante o dia os obreiros participavam das ministrações e estudos bíblicos e à noite visitavam as igrejas na região. Segundo Conde “Essa atividade ou exercício, sem dúvida, é proveitoso tanto para o obreiro que prega, como para aqueles que ouvem, e ainda para a igreja que se edifica através dos resultados mediatos ou imediatos que a sementeira da Palavra da vida proporciona”.
Para além dos estudos bíblicos foi aprovada a reforma dos estatutos Caixa de Beneficência e Jubilação dos Pastores e Evangelistas das Assembleias de Deus no Brasil (Cabejupase) e eleita a nova diretoria da instituição. Fundada em 1955, a Cabejupase visava prestar auxílio-natalidade, funeral, médico e conceder pensão às famílias dos associados, seja por morte ou incapacidade física para exercer suas funções. Infelizmente, a Cabejupase teve suas atividades encerradas em 1970.
Refletindo a mudança da capital da República para o Centro-Oeste brasileiro, os ministros reunidos em São Cristóvão aprovaram a dissolução da Convenção do Distrito Federal para “dar maior flexibilidade às relações entre as igrejas”. Futuramente seriam fundadas a CEADER e a CREFAD.
![]() |
Fragmento do MP com a notícia da EB da Guanabara |
Alguns pontos históricos específicos desta convenção: o líder da AD em São Cristóvão era o pastor Francisco Pereira do Nascimento, que havia assumido à igreja em janeiro de 1960, permanecendo no cargo até janeiro de 1964. Em 1968, o pastor Nascimento faleceu deixando saudades entre os seus familiares e amigos.
Os preletores da Escola Bíblica foram os pastores: Nels Nelson, Eurico Bergstén, Armando Chaves Cohen e Paulo Leivas Macalão. Muitos comentam que Macalão havia rompido com a AD em São Cristóvão no início do seu ministério, mas o fato de ele estar entre os ensinadores é evidência da colaboração do Ministério de Madureira nos eventos das igrejas da Missão. Daniel Berg fundador da AD no Brasil também estava no evento.
Nesses dias foi restaurado o ministério do pastor André Bernardino da Silva, fundador da AD em Santa Catarina. Bernardino entre idas e vindas colaborou na AD catarinense de 1931 até 1943, até que em nota no Mensageiro da Paz (1ª quinzena de agosto de 1943) os ministros catarinas informaram que ele não faria mais parte do ministério estadual.
Há relatos de que nesse período (1943 a 1960), André Bernardino esteve distante da igreja, reconciliando-se e, como já visto, tendo seu ministério restaurado na Escola Bíblica da Guanabara. Tempos depois, Bernardino aparece em Brasília e coopera na congregação ligada ao trabalho da AD carioca.
Dos três obreiros recomendados ao ministério de evangelista, aparece o nome de Geziel Nunes Gomes, filho do pastor maranhense Francisco de Assis Gomes, líder da AD em Pedreiras, MA. Funcionário da CPAD, Geziel estava com 19 anos de idade e era considerado o mais jovem ministro das ADs no Brasil.
Talvez o pastor Geziel seja o único remanescente daquela memorável Escola Bíblica. O Estado da Guanabara fundiu-se ao do Rio de Janeiro, a AD em São Cristóvão esfacelou-se e a maioria dos obreiros participantes já descansou das suas obras.
Fontes:
ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011 (2ª edição ampliada). São Paulo: Recriar; Vitória: Editora Unida, 2019.
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Brasil -1930 a 2021 (Edição Revista e Ampliada). Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.
MENSAGEIRO DA PAZ, ano 30, nº 17, 1ª quinzena de setembro de 1960.
A História Deve Ser Sempre Relembrada Para Ficar Viva Na Memória Dos Erdeiros De UM Legado Que Não Pode Ser Apagado Do Cenário. Alcontrario Com Orgulho Deva Se Dizer Eu Faço Parte Da História.
ResponderExcluir"Muitos comentam que Macalão havia rompido com a AD em São Cristóvão no início do seu ministério, mas o fato de ele estar entre os ensinadores é evidência da colaboração do Ministério de Madureira nos eventos das igrejas da Missão."
ResponderExcluirAcrescento o fato de que, no livro "Traços da vida de Paulo Leivas Macalão", escrito pela missionária Zélia Macalão, ela faz questão de informar que nunca houve "ruptura", especialmente nos primeiros dias após PLM iniciar seus trabalhos no subúrbio, dizendo que ele levava os irmãos para São Cristóvão para os batismos e ceias.