IEADJO - perseguição e preconceito em seus primórdios

Não é novidade para os estudiosos da história do pentecostalismo, que as primeiras congregações pentecostais implantadas no Brasil sofreram fortes perseguições. A intolerância partia tanto da Igreja Católica Romana como de outros grupos protestantes, que viam nas "seitas pentecostais" uma nova ramificação do espiritismo, onde os fiéis eram acusados de práticas imorais e fanatismo religioso.

Com a Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Joinville (IEADJO) não foi diferente. Com seus trabalhos iniciados em 1933, na casa da irmã Ana Salvador, na Avenida Cubas, a congregação, tempos depois, foi transferida para a residência do irmão Sérgio Segal, na rua Monsenhor Gercino, no bairro Itaum. 

Nesse local, próximo à linha férrea, o núcleo pentecostal sofreu forte perseguição com o apedrejamento da casa, onde os cultos eram realizados. Além disso, os primeiros crentes foram denunciados por estarem fazendo "macumba" todas as noites  com "uma gritaria ensurdecedora". Logicamente, os caluniadores estavam confundindo o fervor dos fiéis com as práticas de outras religiões de matriz africana.

Incriminados pelos moradores do bairro, o delegado Mimoso Ruiz e mais alguns agentes policiais "deram uma batida no antro", onde prenderam os participantes da reunião. O pastor Manoel Germano de Miranda encabeçou a lista dos detidos, seguido de outros pioneiros da história da IEADJO. Na delegacia, "os macumbeiros" foram identificados e depois liberados. 

Edição no "A NOTÍCIA" do dia 30 de novembro de 1935 

A atuação policial no imbróglio foi parar na edição no jornal "A NOTÍCIA" do dia 30 de novembro de 1935 com a chamada "Macumba assaltada". Pelo sensacionalismo e os termos usados de forma pejorativa (macumbeiros, antro, gritaria), percebe-se o preconceito contra a nova ramificação de cristianismo popular.

Todavia, a matéria contém informações interessantes. Aparecem os nomes de todos os detidos com suas respectivas ocupações profissionais; inclusive pessoas que nunca apareceram em outros registros sobre os primórdios da igreja.

Como todas as coisas para o bem daqueles que amam a Deus e foram chamados de acordo com o seu propósito (Romano 8. 28), a perseguição contra os fiéis assembleianos levou o delegado Ruiz a aconselhar o pastor Miranda a procurar um local mais centralizado para os cultos. Assim, Mirandinha rapidamente transferiu a congregação para a "Katharinenstrasse" entre os anos de 1935 e 1936.


 

Fontes:

GUEDES, Sandra P.L. de Camargo (org.). História de (I)migrantes: o cotidiano de uma cidade. Joinville: Univille, 2000.

POMMERENING, Claiton Ivan (Org.). O Reino entre príncipes e princesas: 75 anos de história da Assembléia de Deus em Joinville. Joinville: REFIDIM, 2008.

TERNES, Apolinário. História de Joinville: uma abordagem crítica. 2. ed. Joinville: Meyer, 1984.

VIEIRA, Adelor F. (Org.). 1983 - ano do cinqüentenário da Igreja Evangélica Assembléia de Deus Joinville - SC. Joinville: Manchester.

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