Alfredo Reikdal - o candidato

O Pastor Alfredo Emílio Reikdal (1915-2010) liderou por 67 anos a Assembleia de Deus - Ministério do Ipiranga em São Paulo. Um recorde nacional e mundial, segundo sua biografia oficial. Não por acaso, é impossível falar ou escrever sobre a ramificação assembleiana da zona sul paulistana, sem interligar Reikdal/Ipiranga.

Nos últimos anos do seu ministério, o líder do Ipiranga fazia questão de declarar-se "assembleiano ortodoxo e sectário". Alfredo reprovava com veemência os movimentos ecumênicos e as inovações nas ADs, chegando a fundar a Convenção dos Ministros Ortodoxos da Assembleia de Deus no Estado de São Paulo e Outros (COMOESPO) por discordar dos rumos da Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus no Estado de São Paulo e Outros (COMADESP); entidade que ajudou a organizar.

Se por um lado Reikdal era tão conservador, por outro, sua ousadia na seara política foi muito controversa. Segundo seu biógrafo oficial Eliézer Cohen: "Com relação à política nosso pastor presidente foi pioneiro e se lançou pela primeira vez no Brasil, abrindo caminho para que, hoje em dia, os obreiros e, especialmente, os pastores de todo país pudessem usufruir da liberdade que têm de serem eleitos para os mais diferentes cargos eletivos".

Propaganda do líder da AD Ministério do Ipiranga

Ao aventurar-se nessa seara, ainda na década de 1970, o pastor Alfredo lutou "com todas as suas forças contra o pensamento dos chamados líderes" das ADs. Muitos o "excomungaram" e o tiveram como um "herege" num tempo em que a política era vista por muitos crentes como coisa do "Diabo" ou mundana demais para um cristão se envolver.

Ignorando a contrariedade de muitos dos seus pares e membros da igreja, Reikdal debutou na política em 1970, concorrendo a deputado estadual no estado de São Paulo. Em 1971, fez sua filiação no antigo partido de sustentação do Regime Militar, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). No ano seguinte, em 1972, foi indicado pela COMADESP para concorrer (desta vez pela oposição) mais uma vez ao legislativo paulista. Em 1976, foi a vez de tentar uma cadeira na Câmara de Vereadores na capital paulista. Em 1978, 1982, 1986 e 1989 tentou sem sucesso o cargo para deputado estadual.

Para decepção do veterano pastor, o crescimento numérico de membros do seu ministério não se traduziu em votações expressivas para colocá-lo entre os eleitos em cada pleito que participou. Reikdal não conseguiu superar as barreiras ou desconfianças em torno dos seus objetivos políticos. O Jornal do Brasil (edição de domingo, 14 de setembro de 1986) chegou a ironizar as tentativas do líder do Ipiranga: "Como pastor, ele [Reikdal] agrada tanto os seus fiéis, que eles preferem mantê-lo na igreja a elegê-lo para a Assembleia Legislativa".

As ambições políticas de Alfredo Reikdal e de outros líderes levaram a Convenção Geral de 1981, em Belo Horizonte, MG, a debater sobre o assunto. Segundo Silas Daniel, a "questão do pastor e a política" foi impulsionada pelo "aumento de interesse pela política que começava a surgir no país durante o processo paulatino de abertura". Ao fim das discussões, a CGADB deliberou que um pastor, titular ou não de uma igreja, deveria licenciar-se cargo para disputar eleições.

Pelo histórico eleitoral do pastor Alfredo, ele não fez isso nem antes nem depois. Mesmo se autointitulando um obreiro "assembleiano ortodoxo e sectário" e crítico das inovações e movimentos ecumênicos, o conservadorismo do genro do pioneiro Bruno Skolimowski não passava pelo senso comum assembleiano sobre política. Reikdal era conservador, mas nessa área nem tanto!

Voltaremos ainda ao assunto...

Fontes:

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

COHEN, Eliezer. E Deus confirmou os seus passos: biografia do pastor Alfredo Reikdal. São Paulo: s/e, 2006.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Brasil - 1930 a 2021 (Edição Revista e Ampliada). Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

Comentários

  1. infelizmente na atualidade, a ganância e a sede pelo poder tem levado a muitos a unirem-se
    com a corrupção e lavagem de dinheiro levando a queda de muitos líderes religiosos..

    ResponderExcluir
  2. a maioria dos pastores de hoje brigam, processam uns aos outros, promove seus familiares na igreja, que diga isso a AD

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O caso Jimmy Swaggart - 30 anos depois

Iconografia: quadro os dois caminhos

Assembleia de Deus e a divisão em Pernambuco (continuação)