Pastor Germano Zucchi - "O Bispo da Serra"

Germano Domingos Zucchi nasceu em Bento Gonçalves, município da Serra Gaúcha, em 08 de outubro de 1920. Originários da região montanhosa do Trento no norte da Itália, os Zucchi seguiram os passos de milhares de italianos, que no fim do século XIX migraram das suas províncias para o exterior devido à forte crise econômica e social no país e se instalaram na Região Serrana do Rio Grande do Sul.

Os Zucchi eram uma típica família de italianos: católicos, eles trabalhavam na agricultura, pecuária, comércio ou como artesãos. Germano seguiu o script e cedo trabalhou como ferreiro, profissão que herdou do pai, montando sua própria oficina aos 21 anos de idade. Na área religiosa era capelão da Igreja Católica e casou-se com Eudoxia Szura, no dia 19 de fevereiro de 1944.

Germano estava bem estabelecido e realizado, quando um dia, sem imaginar as consequências, o sogro lhe presenteou com uma Bíblia: um livro, segundo lhe fora instruído desde a infância era "altamente perigoso". Conforme os relatos do próprio Zucchi: "Ao ler o bendito Livro, a Bíblia, sua mensagem imediatamente começou a penetrar no meu coração, minha mente foi iluminada, meu coração compungido, e senti perdoados os meus pecados". 

Zucchi (à esquerda) na ferraria e Dunha na janela

Convertido e liberto dos vícios, logo procurou uma igreja evangélica. Foi na Assembleia de Deus Russa em Parobé, em Erechim, no dia 20 de setembro de 1944, que ele publicamente aceitou a Cristo como Salvador. Ao converter-se, Zucchi experimentou o que muitos crentes sentiam ao aceitar Jesus: perseguições, repulsa familiar e isolamento. 

O padre da igreja procurou-o oferecendo dinheiro para desistir da fé, orientou-o também para queimar a Bíblia, um livro de "protestantes e por isso muito perigoso". Passados alguns dias, Germano visitou seus parentes e eles nem sequer queriam ouvira à leitura das Escrituras Sagradas. O seu pai, em meio aos lamentos dos familiares pela decisão do filho em se tornar um "herege", o abraçou num gesto de despedida e disse-lhe: "Você não será mais meu filho". Ainda não conformado, o velho Ricardo Zucchi fez-lhe promessas "emocionantes e tentadoras" para ele deixar a Bíblia dos crentes.

Os apelos, tentações e dificuldades foram realmente grandes. Germano tinha sua ferraria montada no terreno da família, mas teve que abandonar o local por imposição do seu pai, pois havia sido deserdado. Mas com a ajuda dos irmão da igreja, a ferraria foi remontada num terreno doado pelos fiéis. Longe de se abater, o futuro pastor começou a cooperar como professor da Escola Bíblica Dominical para jovens e crianças na congregação e, no ano seguinte, em 15 de abril de 1945, passou pelas águas batismais. 

Há um fato curioso sobre o batismo nas águas do futuro pastor: o rio no qual se realizavam os batismos estava seco devido há um período de estiagem na região. Os familiares de Zucchi duvidavam que tal cerimônia fosse realizada com um nível de água tão escasso. Chegaram a contratar um fotógrafo para registrar o fiasco que se avizinhava. Mas no dia anterior, uma copiosa chuva regou a terra e encheu os córregos, possibilitando assim, a confissão de fé pública de Germano Zucchi através da imersão nas águas. 

Pastor Germano Zucchi e família, na década de 1960

Em 14 de novembro de 1947, veio a ordenação a evangelista da igreja. Trabalhou em Carazinho, Erechim, Porto Alegre e, principalmente, em Passo Fundo, assumindo a liderança da Assembleia de Deus na região em janeiro de 1954. Durante o tempo do seu pastorado, fundou mais de 20 trabalhos na região. Por essa razão ficou conhecido como o "O Bispo da Serra".

Homem de profunda comunhão com Deus, Zucchi tinha uma estratégia para averiguar os acontecimentos do seu rebanho no seu dia-a-dia: semanalmente se reunia com os porteiros (atuais recepcionistas) da congregação para saber dos acontecimentos e conversas na porta da igreja e o nome dos que estavam faltando aos cultos para serem visitados. Não havia redes sociais, mas Germano sabia como obter informações precisas do povo. 

Depois de tantos anos pastoreando o campo de Passo Fundo, a década de 1990 foi atravessada com muita tristeza pelos Zucchi. Em 23 de agosto de 1995, a irmã Eudoxia Szura Zucchi faleceu. Pouco mais de um ano depois, o Pastor Zucchi teve sua vida ceifada em decorrência de um grave acidente automobilístico, quando voltava de Porto Alegre, onde foi buscar recursos para obras sociais mantidas pela igreja em Passo Fundo.

Com Zucchi estavam os pastores Júlio Ávila, que morreu no momento da colisão e Everton Machado, único sobrevivente do desastre. O Pastor Germano foi atendido no local e levado ao Hospital São Vicente de Paula, em Passo Fundo, onde faleceu uma semana depois, no dia 26 de outubro de 1996. Antes de partir para Porto Alegre, o seu filho mais novo, Gerson se ofereceu para ser o motorista, mas como que pressentindo o que havia de vir, o Pastor Zucchi mandou o filho desarrumar a mala e lhe disse: "– Meu filho, agora é minha hora, não a tua...".

Num momento em que a AD gaúcha vive momentos de crise de liderança, homens como o Pastor Germano Zucchi fazem falta. Revisitar sua memória pode ser para muitos uma inspiração e a lição de que a obra pentecostal em solo rio-grandense foi feita com muita renúncia e amor.

Fontes: 

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

FERREIRA, Ely Evangelista. Galeria dos Pastores da Assembleia de Deus. Belo Horizonte, (s.e) 1ª edição 1971.

Informações da família Zucchi cedidas ao autor desse blog.

Comentários

  1. Nossa que história linda sou neta do irmão do saudoso pastor Germano no caso Aquelino Zucchi o meu vó foi batizado nas águas meses antes de falecer. Muitos membros da família do meu vó são evangélicos. Fruto de sementes plantadas

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    1. Que bênção, sou feliz pois sei que tio Aquelino é salvo e está com o Senhor. (Elza ZUCCHI)

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  2. Graças à Deus hoje temos muitos Zucchi evangélicos e os que não são, reconhecem o trabalho de Germano Domingos Zucchi como pregador do evangelho de Cristo.

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  3. Pasto Zucchi, de saudosa memória. Me lembro, de certa ocasião, em uma semana de Estudos Bíblicos, como era normal em Porto Alegre, o Missionário Nils Taranger, fazia Anualmente, e sempre convidava o Pastor Germano Zucchi, para também com outros Pastores, ministrar o Estudo das Escrituras Sagradas.

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