A Assembleia de Deus na Cidade das Bicicletas

Houve um tempo em Joinville, Santa Catarina, que o progresso do município era observado não pela quantidade de automóveis em circulação, mas pelo número de bicicletas conduzidas pela grande maioria dos operários das principais empresas cidade.

Essa era pelo menos a observação dos jornalistas que visitavam a cidade e ficavam admirados com a grande circulação de ciclistas por suas vias. Em junho de 1941, a revista semanal Carioca  destacou em uma matéria especial sobre Joinville a quase onipresença dos "automóveis de pedal" na Cidade das Flores. Segundo a publicação, o município possuía uma frota de 5 mil bicicletas.

Em carta à extinta revista O Cruzeiro, Gilberto J. Campos morador de Joinville, em 1950, destacou dados da Prefeitura Municipal e da Delegacia de Polícia para afirmar a circulação de 8 mil "magrelas" na cidade. Os números oficiais de 1950, porém, apontam para uma quantidade maior: 9.795 bicicletas para 46.550 habitantes, fazendo da cidade uma referência na prática do ciclismo.

É desse período (década de 1950), que o título de joinvilense de "Cidade das Bicicletas" começou a tomar forma. Fato é que em outra reportagem, desta vez na Revista da Semana em 1956, garantiu-se que a "Manchester Catarinense" não tinha problemas em relação aos transportes, pois 25 mil ciclistas desfilavam "num espetáculo magnífico" pelas "amplas e bem calçadas" ruas da cidade.

Em 1958, outro leitor d'O Cruzeiro (Hamilton Rocha de Curitiba) indicou dados do IBGE contabilizando 22.181 bicicletas licenciadas no município. Conforme as indústrias e a urbanização se expandiam na região, os números dos "automóveis de pedal" evoluíam: no ano de 1972, havia 70 mil bicicletas para 126 mil habitantes; em 1987, 100 mil bicicletas para 350 mil joinvilenses.

Não por acaso, que as "cabrinhas" eram dominantes na paisagem local e provocavam congestionamentos nas saídas das fábricas e nas ruas. Sinais específicos de trânsito destinavam-se aos ciclistas e na hora do rush, os motoristas de automóveis davam passagem para as bicicletas. Era um tempo, em que a supremacia do ciclismo desafiava carros, motos, caminhões e até pedestres.

Supremacia hoje impensável na Joinville do século XXI, com seus quase 400 mil veículos para uma população em torno de 600 mil habitantes, onde os ciclistas disputam espaço com muita desvantagem - no caótico trânsito da maior cidade catarinense.



Dentro desse contexto, ao observar a foto acima, onde vários membros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Joinville (IEADJO) enfileiraram suas bicicletas em frente ao antigo templo sede na Avenida Getúlio Vargas, pode-se considerar então, que a denominação estava em franco progresso.

O ano do registro, possivelmente foi feito na década de 1940, quando a hegemonia das "magrelas" em Joinville era notável. Nessa época, para muitos romântica e cheia de saudosismo, as preocupações dos pastores nas construções não era com estacionamentos, mas com os bicicletários.

Aliás, nas memórias e fotos dos pioneiros das ADs no Brasil, destaca-se o uso da bicicleta para a evangelização e visitas às congregações. Os automóveis só começariam a ser utilizados, quando as igrejas tiveram condições de comprar seus veículos próprios.

O missionário norte-americano Virgil Smith (último à direita) foi feliz no emblemático registro. Conseguiu eternizar uma cultura e prática de uma Joinville que não existe mais.

Fontes:

POMMERENING, Claiton Ivan (Org.). O Reino entre príncipes e princesas: 75 anos de história da Assembléia de Deus em Joinville. Joinville: REFIDIM, 2008.

VIEIRA, Adelor F. (Org.). 1983 - ano do cinquentenário da Igreja Evangélica Assembléia de Deus Joinville - SC. Joinville: Manchester.

https://ndonline.com.br/joinville/noticias/confira-como-joinville-ganhou-o-titulo-de-cidade-das-bicicletas

https://acervo.oglobo.globo.com/

http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/

As revistas Carioca, O Cruzeiro, Revista da Semana estão disponíveis no site da Biblioteca Nacional. Sistema de buscas do acervo é prático e de fácil acesso.

Comentários

  1. Que dados interessantes....
    Há hoje alguns remanescentes destes Pastores que pedalam, hehe...
    parabéns pelo texto,
    att. Pr Daniel jr

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  2. Há alguns anos um "pastor" Assembleiano conversando com um amigo meu, que congrega na Assembleia,que presidente de campo que não tem uma pickup de cabine dupla não é presidente de campo.

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