O caso Frida Vingren - CPAD desmente versão da BBC Brasil

A reportagem produzida pela BBC Brasil e replicada por vários sites de informação no país, inclusive o G1 do Grupo Globo, fez o livro Halleljua Brasilien!, da jornalista sueca Kajsa Norrel, publicado em 2011, sobre a vida e morte da missionária Frida Vingren ficar conhecido do grande público evangélico e secular.

As controversas informações da matéria, geraram uma nova onda de debates sobre o ministério feminino e o triste destino de Frida Vingren, esposa do mítico fundador das Assembleias de Deus no Brasil, Gunnar Vingren; esquecida e morta na Suécia em setembro de 1940.

Por se tratar de uma figura emblemática da história assembleiana e em parte pelo "vazamento" de notas polêmicas, o Mensageiro da Paz (edição de outubro de 2018) trouxe em suas páginas, um texto-resposta escrito pelo jornalista e historiador Isael de Araújo, autor de uma biografia sobre a pioneira publicada pela CPAD em 2014.

Chamada do MP: tentativa de controle da História

O posicionamento oficial da CPAD através do biógrafo de Frida é mais uma tentativa de controlar a narrativa histórica sobre a senhora Vingren, a qual nos últimos anos tem sido alvo de várias pesquisas acadêmicas, que fogem dos conhecidos padrões narrativos da história eclesiástica e institucional.  A iniciativa da CPAD, portanto, tenta blindar a imagem da pioneira diante do grande número de fiéis assembleianos.

Os pontos da matéria da BBC Brasil mais questionados por Araújo foram: o desejo de Frida exercer o ministério pastoral, gerando, assim, perseguição dos líderes brasileiros e o suposto affair da missionária com um obreiro nativo. Tópicos, que no entendimento do jornalista, carecem de confirmações documentais e necessitam ser analisados cientificamente levando em conta o contexto da época.

Araújo afirma que, apesar de Frida ser lembrada como grande ensinadora, evangelista, compositora, musicista, poetisa, redatora esposa e mãe, ela nunca empunhou a "bandeira de militância ao engajamento feminino ao pastorado" ou encorajou as mulheres a desejarem o cargo de pastora. Porém reconhece que ela estimulava as irmãs a participarem mais na obra pentecostal.

Se Frida não desejava ou exercia a liderança de uma das principais igrejas do país no Rio de Janeiro, antiga Capital da República, como entender o trecho da carta de 1931 dos pastores brasileiros a Lewi Pethrus, no qual reclamam dos artigos escritos por Frida no Mensageiro da Paz sobre a conduta ministerial? Na missiva os obreiros avisam: "A velha questão acerca da mulher como dirigente ascende-se de novo, é certo é, se continuar como está, haverá um levante, talvez de um caráter mais melindroso do que o primeiro".

Se não houvesse problemas nesse assunto, a própria resolução da CGADB de 1930 não teria sentido algum quando diz: "...não se considera que uma irmã tenha função de pastor de uma igreja ou de ensinadora, salvo em casos excepcionais mencionados em Mateus 12. 3-8. Isso deve acontecer somente quando não existam na igreja irmãos capacitados para pastorear ou ensinar".

Gedeon Alencar, em seu livro Matriz Pentecostal Brasileira, transcreve o comunicado de exclusão de um membro da igreja assinado por Frida e mais dois obreiros no jornal Boa Semente em 1930. Não seria a evidência do exercício da sueca no cargo de dirigente (na ausência ou presença do esposo) da congregação carioca?

Talvez, o que poderia ser melhor analisado na questão da esposa de Frida são as circunstâncias históricas da época ou, como enfatiza Araújo, analisar o contexto histórico. Um dos maiores erros dos historiadores é o anacronismo, ou seja, atribuir valores do presente aos fatos do passado. Sendo assim, as posturas dos opositores em relação à missionária não seriam tão destoantes dos princípios da sociedade das primeiras décadas do século XX, marcada pelo forte patriarcalismo de suas relações sociais.

Ao refletir sobre isso e tentar recolocar devidamente os personagens e seus dramas na estrutura social e histórica da época, evita-se, assim, uma narrativa maniqueísta do tipo "o bem contra o mal". Mas as fontes mostram isso; o casal Vingren lutou sim pelo reconhecimento do ministério pastoral das mulheres no Brasil.

Contudo, o pentecostalismo moderno, originalmente aberto para a ascensão de negros e mulheres no ministério, não encontrou em sua implantação no Brasil e posteriormente nos EUA, respaldo na sociedade vigente. Foi engessado pelas mentalidades e cultura do seu tempo.

Entretanto, o ponto mais delicado da matéria da BBC Brasil é o suposto affair de Frida com um obreiro brasileiro; um segredo guardado anteriormente a sete chaves e só agora conhecido do grande público para desconforto dos guardiões da narrativa histórica da CPAD. Seria só um boato "infundado" como diz Araújo?

É o tema da próxima postagem!

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael de. Frida Vingren: uma biografia da mulher de Deus, esposa de Gunnar Vingren, pioneiro das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

https://www.bbc.com/portuguese/geral-44731827

Comentários

  1. Aguardando a continuação da saga !!
    Otimos artigos !! 👊

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  2. Pelo que li na história, Frida quando perseguida na igreja Filadélfia na Suécia e antes de ser internada lá, quis voltar ao Brasil.

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  3. Mulher de Deus,cheia do ESPÍRITO SANTO trabalhou incansavelmente na do SENHOR.

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  4. Pastora Frida Vingren em ato e de fato! A polêmica sobre o envolvimento com um pastor brasileiro, provavelmente tinha o objetivo de denegri-la e desqualificá-la. Sua história demonstra que foi uma obreira atuante e com muitos frutos. O machismo que impera nas ADs precisa acabar em nome de Jesus!

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