A Catedral de Madureira - simbolismos e contrastes

Inaugurado com grande festa e pompa no dia 1º de maio de 1953, o templo sede ou a catedral da AD em Madureira, no Rio de Janeiro, segundo o sociólogo Gedeon Alencar, personificava em seu esplendor e imponência, o líder máximo do ministério carioca, o gaúcho Paulo Leivas Macalão.

Alencar, em seu livro Matriz Pentecostal Brasileira, aponta para o simbolismo dos templos da AD em Madureira e o da AD em São Cristóvão. O primeiro com seu estilo gótico, apontava para o conservadorismo de Macalão; o segundo, construído em 1970, com seu prédio de seis andares, dotado de elevador e estacionamento, revelava à modernidade do ministério da Missão.

Citada na extinta publicação Subúrbios em Revista, em 1955, à construção localizada na Rua Carolina Machado, foi descrita como "uma das mais belas obras de arte da Capital da República". A revista ainda informava, que o majestoso templo de Madureira, era uma das maiores e mais belas obras arquitetônicas das Américas e do mundo.


Para o historiador Maxwell Fajardo, enquanto os líderes do Norte/Nordeste enfatizavam o "mito da simplicidade", Macalão por ser de origem social abastada rompia com essas ideias dominantes no meio assembleiano e procurava dar ao Ministério por ele fundado projeção pública e social. Então, as discussões sobre o famoso templo, estavam (e ainda estão) para além dos estilos arquitetônicos. Falam muito da visões ministeriais opostas nas ADs no Brasil.

Na época, o belo e grandioso templo de Madureira, não contrastava somente com as expectativas estéticas dos templos da AD no norte do país. O Ministério mais próximo ao de Macalão no Rio, o de São Cristóvão, no mesmo período, possuía um edifício que ficava muito distante do projeto arquitetônico do pastor gaúcho.

No ano de 1945, à equipe da Revista da Semana, antiga publicação do Rio, visitava às dependências da AD em São Cristóvão. A reportagem descreveu o antigo templo do ministério carioca como um "sobrado cinza", idêntico "a muitos prédios do bairro". Internamente, notaram os jornalistas do periódico que "O templo é simples, de paredes nuas, sem requintes de arte ou florões de luxo."

Não dá para evitar comparações históricas e estéticas com Madureira, quando o jornalista registra o seguinte: "Não se nota aqui aquela grandiosidade constrangedora nos abate e nos oprime quando visitamos as velhas catedrais. Tudo é singelo e natural." Nada no templo em São Cristóvão em 1945, pelo menos na arquitetura, lembra o de Madureira em 1953, a não ser pela identificação: Assembleia de Deus.

Em Madureira, os vitrais, cujos desenhos lembram o Dia de Pentecoste com suas línguas de fogo reproduzidas nos vidros vermelhos; as flores estampadas no teto e paredes; e o piso com desenhos caprichados, era (e é ainda) a pompa e o fausto. Na AD em São Cristóvão, as paredes nuas, sem imagens coloridas, tudo era simples e claro. "O templo é amplo, mas sua estrutura arquitetônica, como todo o mobiliário, não apresenta retoques de luxo" - observou a Revista da Semana.

O contraste entre as sedes dos Ministérios era evidente. Mais uma vez, Macalão demonstrava seu perfil diferenciado nas ADs e, é claro, que tamanho luxo e imponência gerou muitas críticas dos opositores de Macalão. Por outro lado, na história assembleiana há relatos de verdadeiros milagres ocorridos durante o tempo da construção. 

Narrativas que serão relembradas na próxima postagem.

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CABRAL, Davi. Assembleia de Deus: A outra face da história. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Betel, 2002.

DANIEL, Silas, História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Os principais líderes, debates e resoluções do órgão que moldou a face do movimento pentecostal brasileiro, Rio de janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. Curitiba: Editora Prismas, 2017.

Revista da Semana. Rio de Janeiro, ano XLVI - nº 28 - 14/07/1945. pág.11-17, 50.

SUBÚRBIOS EM REVISTA. Rio de Janeiro. Ano VII. nº 78. Set.1955.

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