Ruptura na CGADB e suas histórias (1ª parte)

As Assembleias de Deus no Brasil estão em polvorosa. O anúncio do desligamento dos pastores Jônatas Câmara (AD Manaus), e Samuel Câmara (AD Belém/PA) foi o assunto mais comentado nos sites e redes sociais. Junto com os irmãos Câmara, os líderes das ADs em Macapá (AP) também divulgaram a mesma decisão.

A decisão dos líderes assembleianos anunciada recentemente, torna-se assim, a maior ruptura denominacional desde a suspensão do Ministério de Madureira em 1989, e é mais um capítulo da história de uma instituição (CGADB), que já nasceu em 1930 sob o estigma da divisão. Divergências sobre o ministério feminino, transferência dos templos e da liderança da Missão Sueca para os brasileiros foram os pontos mais polêmicos da primeira Convenção Geral.

Nem mesmo a história oficial assembleiana disfarça, que ao longo de todos esse anos, a CGADB foi palco dos mais diversos confrontos. Conforme cresciam as ADs, os embates também surgiam com mais força. Jurisdição eclesiástica, rejeição ao uso das mídias (rádio e televisão), formação de novos Ministérios e os dilemas da modernidade, foram alguns assuntos tratados e nem sempre superados com facilidade.

Na política eclesiástica desenvolvida nesses anos, surgiu a polarização entre as igrejas originárias da Missão Sueca e o Ministério de Madureira. No fim da década de 1980, as divergências chegaram ao ápice. Madureira foi suspensa da CGADB, gerando a primeira grande ruptura institucional.

Pastores Ailton, Samuel Câmara e JW da Costa

A suspensão, deu início ao que o historiador das ADs Maxwell Fajardo em seu livro Onde a luta de travar: uma história das Assembleias de Deus chamou de "Era Wellington". Nesse tempo igrejas históricas saíram da Convenção Geral. As ADs em São Cristóvão (RJ) e em Santos (SP), pioneiras em suas regiões por questões teológicas e políticas deixaram de ser representadas na CGADB.

Um ponto que parece ser positivo nesse período, é a recuperação da CPAD. A editora assembleiana por longo tempo apresentava problemas administrativos e financeiros. Hoje, a Casa Publicadora é uma potência, mas por outro lado foi instrumentalizada para garantir a hegemonia dos atuais líderes da Convenção Geral.

Quanto mais o pastor da Igreja-Mãe em Belém e seus aliados lutavam contra o status quo da Convenção Geral, menos visibilidade tinha no Mensageiro da Paz, no CPADNews ou nos programas do Movimento Pentecostal. Assim, ironicamente, a Igreja-Mãe sumiu da própria história recente da CPAD.

Entre os assembleianos, os que amam e acompanham sua rica e acidentada história, há um clima de consternação com mais esse cisma institucional. Para alguns estudiosos da denominação, o desligamento de pastores e convenções já era esperado. Outros interpretam como rebeldia as ações dos pastores do norte.

Mas isso não é tudo. Antigos desafetos aparecem como aliados e citam passagens bíblicas com grande ousadia. Assuntos para a próxima postagem...

Fontes:


ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CABRAL, Davi, Assembleia de Deus: A outra face da história. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Betel, 2002.

DANIEL, Silas, História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Os principais líderes, debates e resoluções do órgão que moldou a face do movimento pentecostal brasileiro, Rio de janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro, “Onde a luta se travar”: a expansão das Assembleias de Deus no Brasil urbano (1946-1980), (Tese de Doutorado em História) Assis-SP: UNESP, 2015.

FIDALGO, Douglas Alves. “De Pai pra Filhos”: poder, prestígio e dominação da figura do Pastor-presidente nas relações de sucessão dentro da “Assembleia de Deus Ministério de Madureira”. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da UMESP.

FRESTON, Paul, Breve história do pentecostalismo brasileiro, In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

Comentários

  1. Dividiram-se oficialmente, porque dividida está a muito tempo a centenária instituição. A repercussão, é mais sobre algo que era previsível. Fragmentar-se, dividir-se, perder características de origem, é o desafio que enfrentarão daqui pra frente. Estudos existem que dizem que toda instituição com mais de cem anos começa a sofrer reveses dos erros praticados ao longo das suas décadas. Hoje estamos colhendo o que foi plantado.

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  2. DEUS CHAMARÁ A JUÍZO ESTES LÍDERES QUE QUEREM FAZER DO MINISTÉRIO UMA HERANÇA FAMILIAR,NÃO SE PODE REPASSAR MINISTÉRIO, INFELIZMENTE VIVEMOS EM DIAS EM QUE PARA SE CHEGAR AO MINISTÉRIO NÃO PRECISA NEM TER CHAMADA, BASTA SER FILHO OU GENRO DE PASTOR E LOGO É CONSAGRADO ESTA É UMAS DAS RAZÕES DO DESCRÉDITO E ESCÂNDALOS QUE VEMOS HOJE, QUE DEUS TENHA MISERICÓRDIA DE SUA IGREJA

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    1. Penso exatamente igual. O ministério das nossas igrejas se transformou em hereditariedade. Por isso estou na AD mas não defendo-a. Defendo o reino de Deus, a igreja espiritual que vai morar no céu e pronto. Desta instituição eu tenho é vergonha!

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  3. Considero esse "desligamento",uma divisão, embora haja uma conversa entre ambos,de falsa paz,falsa União, mas não vai adiantar, continua sendo divisão ridícula!

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  4. Muito triste este capítulo. Não queríamos ser este parte dessa história. Queremos ser o povo Unidos que iremos morar na Glória

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  5. Ótimo texto, e que deveria ser lido em todas as igrejas. Para que as pessoas cessem de espiritualizar o que é puramente humano.

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  6. O grande problema disso tudo é que o dinheiro tem sido o carro chefe a muito tempo nas convenções e grandes Igreja e ministérios,sem falar na sucessão de filhos que se quer tem algum chamado para presidir um ministério quem dera uma Igreja !!!!

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  7. Muita das vezes a ruptura e necessária para curar uma doença ou mesmo amenizar a mesma

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  8. agora haverá paz cada um no seu quadrado e crescendo sem brigas tava feio

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  9. Existe coisas que só Deus sabe explicar o porque disso tudo, então toda conversação nesse momento é apenas sem efeito...

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  10. Muito triste com tudo isso. Acho que Deus está vendo tudo e o Espírito Santo está gemendo, enquanto o inimigo de nossas almas deve estar dançando e pulando de alegria. Nós os membros (sem ocupações eclesiásticas) temos que nos cuidar. Jesus está chegando! Mas, esses grandes líderes também têm que se cuidarem, pois apesar dessas questões convencionais serem apenas administrativas, mas ultimamente tem trazido (por causa da mídia secular) muita conversa fiada e muitos escândalos, manchando o nome da Assembleia de Deus. E cada grande ministério quer ser o dono da verdade! Eles que se cuidem.

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    1. Concordo com o Irmão! DEUS se entristece com tudo isso porém é agora que MAIS DO QUE NUNCA, devemos firmarmo-nos nEle, o Autor e Consumador de nossa Fé. Ele está voltando.

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  11. Vamos ver o posicionamento da adjoinville quanto a isto. Pra qual lado vão ir...

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  12. A base de todo problema é a concentração de poder arraigada no sistema assembleiano.

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  13. Se foi de DEUS este desligamento irá prosperar espiritualmente (principalmente), do contrário...

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  14. Infelizmente é isso mesmo que está acontecendo falsos chamados estão assumindo nossas igrejas no Brasil aqui no MS temos um pastor que trocou sua mulher por uma mulher mais nova e não quer deixar a presidência da igreja mais Jesus está voltando.

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