Paulo Macalão - origem e autonomia

O Ministério de Madureira é uma das maiores ramificações das Assembleias de Deus no Brasil. Está presente em todo território nacional, e é inegável a força política de sua Convenção Nacional. Desde a suspensão da CGADB em 1989, Madureira tem se destacado por suas supostas inovações. 

Mas, ao longo da história das ADs, percebe-se, que o signo das inovações está presente em Madureira desde sua origem na década de 1920 na cidade do Rio de Janeiro, na época, Capital da República do Brasil. E isso se deu por obra de um novo convertido de perfil inusitado para a maioria dos líderes assembleianos: Paulo Leivas Macalão.

Nascido em Santana do Livramento (RS), em 1903, Macalão era filho de um general, procedia de família culta e havia estudado em bons colégios no Rio. A conversão ao pentecostalismo se deu na incipiente AD em São Cristóvão, bairro operário no Rio de Janeiro.

"Macalão era gaúcho numa igreja de nortistas e nordestinos. Era filho de um general numa igreja de pobres", observou o sociólogo Paul Freston. A origem social do líder de Madureira nunca escapou das narrativas oficiais e das análises acadêmicas. Gedeon Alencar destaca ainda, que além da origem culta e abastada, o nacionalismo do líder de Madureira teria sido a possível causa da cisão informal com a AD da Missão Sueca.

Diário de Vingren: à direita observações sobre Macalão

Na versão da história oficial das ADs, fala-se de certa "censura" e "incompreensão" sentida por Macalão na igreja de São Cristóvão, causa da suas incursões evangelísticas a partir de 1926 nos subúrbios do Rio. Estudos acadêmicos apontam para o "desentendimento" entre ele os suecos, como a causa da criação do ministério. É clássica a citação do diário de Vingren com a seguinte observação: "Elle é muito independente."

Douglas Fidalgo, em sua dissertação de mestrado De Pai para Filhos, aponta para essa postura autônoma de Macalão, pois "não sendo ele submisso aos suecos e nem aos nordestinos, uma vez que nunca precisou deles, nem na fundação da AD de São Cristóvão, muito mesmo nas igrejas que iam surgindo no subúrbio carioca." Tanto que criou um ministério inter-regional e manteve o controle sobre todas a congregações espalhadas pelas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

David Cabral, pastor do Ministério de Madureira em seu livro Assembleias de Deus: A Outra Face da História, argumenta anda que Macalão não se aliou aos brasileiros na reivindicação dos trabalhos abertos no Brasil. Por isso ele sempre teve "deferência muito especial" da Missão Sueca. Constata-se também, a presença do líder de Madureira como preletor em várias Escolas Bíblicas da AD em São Cristóvão na época da liderança dos escandinavos no Rio.

Para os familiares, o patriarca teria saído aos subúrbios do Rio, porque ninguém queria deixar o conforto da igreja em São Cristóvão e pregar nas áreas mais distantes da cidade. André Macalão (neto do pastor Paulo e líder da AD em Caldas Novas/GO), destaca que seu avô era forte aliado de Gunnar Vingren e de Lewi Pethrus (pastor da Igreja Filadélfia na Suécia). O fato de Macalão ter sido presidente da 8º Conferência Mundial Pentecostal realizada no Brasil em 1967, seria a confirmação das afinidades com os suecos e não o contrário.

Aliás, parece que foi com os brasileiros, sucessores dos suecos, é que o líder de Madureira se desentendeu no Rio de Janeiro. Há memórias e registros de sérios desacordos com Alcebiades Vasconcelos e Túlio Barros Ferreira.

Por ter essa origem social diferenciada, Macalão impôs um ritmo de administração singular em seu ministério. Causava admiração e desconforto ao mesmo tempo. Era afável e conciliador, porém, não cedia às pressões externas. Queria e fez da sua Assembleia de Deus referência em unidade e estética.

Fontes:

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CABRAL, Davi, Assembleia de Deus: A outra face da história. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Betel, 2002.

DANIEL, Silas, História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Os principais líderes, debates e resoluções do órgão que moldou a face do movimento pentecostal brasileiro, Rio de janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro, “Onde a luta se travar”: a expansão das Assembleias de Deus no Brasil urbano (1946-1980), (Tese de Doutorado em História) Assis-SP: UNESP, 2015.

FIDALGO, Douglas Alves. “De Pai pra Filhos”: poder, prestígio e dominação da figura do Pastor-presidente nas relações de sucessão dentro da “Assembleia de Deus Ministério de Madureira”. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da UMESP.

FRESTON,  Paul, Breve história do pentecostalismo brasileiro, In:  ANTONIAZZI, Alberto.  Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. 

Comentários

  1. Conheci pessoalmente com Paulo Macalão, sua esposa Zélia e o filho Paulinho. O Macalão proibia seus membros de tomarem guaraná mas em casa de meu pai ele enchia a cara de guaraná. Quando minha mãe perguntou para ele pq dessa proibição ele respondeu que era devido ser em garrafa.
    Ele proibia os crentes de tomar banho de praia, mas a família dele tinha uma casa na beira da praia na Ilha do Governador e nós minha família Nelson íamos com eles tomar banho de praia, ele tomava banho vestido com calça e camisa para não ter queimaduras e para não aparecer perante seus membros. A irmã Zélia tomava banho vestida e com uma touca na cabeça. O Paulinho tomava banho só de calção. Era assim com a família Macalão, Ass. Samuel Nelson.

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    1. SIM SAMUEL, SE ELE TOMAVA BANHO DE CALÇA E CAMISA COMPRIDA, ELE ESTAVA TOTALMENTE DENTRO DAQUILO QUE ELE ENSINAVA, POIS EU TENHO CERTEZA QUE ELE NÃO ERA CONTRA O BANHO DE PRAIA, E SIM A EXPOSIÇÃO DO CORPO AO BANHAR NA PRAIA.

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  2. Com certeza meu comentário será censurado...

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  3. Eu faço parte da História da Assembléia de Deus de Belém do Pará e do Campo de São Cristóvão no RJ. Só não conheci pessoalmente Gunnar Vingren e Frida pq faleceram nos anos 30. Mas Daniel Berg e esposa Sara conheci bastante e principalmente Samuel Nyström e sua esposa Lina. Morei com eles vários anos na Suécia, mesmo após a partida de Samuel Nyström para a Glória, fiquei residindo com a irmã Lina que me tratava como seu filho. Samuel Nelson,

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  4. Sam - Samuca, você conviveu com Paulo Macalão e Daniel Berg? Você deve ter mais de 70 anos.

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    1. Verdade, Sam - Samuca. eu conheci Daniel Berg. Só não conheci pessoalmente Paulo Macalão porque sempre vivi em Santos. Por isso tenho mais de 70.

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  5. Huuuum, difícil de acreditar hein... quantos vc teria para que tal coisa fosse verdade????

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  6. Sam - Samuca, você é filho do Missionário Nels Nelson?

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