AD em Curitiba - "nada há de novo debaixo do sol"

Muitos acreditam, que a chamada “política eclesiástica” é algo recente dentro das ADs no Brasil. Porém, alguns casos “esquecidos” da história oficial, revelam práticas e situações de tensão na busca pelo poder.

O pastor José Pimentel de Carvalho, ex-presidente da CGADB declarou certa vez, que assumiu a liderança da AD em Curitiba, em 1962, em um momento muito delicado. A igreja estava dividida, em crise, e contra sua vontade deixou a cidade do Rio de Janeiro para pastorear na capital paranaense.

Mas, por qual divisão e crise a igreja passava? No site oficial da AD curitibana, há uma menção sobre dificuldades ministeriais no ano de 1952, quando "um pequeno grupo de dissidentes deixou a igreja”. Indício de dificuldades futuras e de tensões no seio da denominação?

Matéria do Última Hora (PR)

O certo, é que antes da efetivação do longevo pastor Pimentel, a denominação teve três pastores em pouco mais de quatro anos. Delfino Brunelli (1957-1959), Daniel Tavares Beltrão (7 meses) e Agenor Alvez de Oliveira (1960-1962). Percebe-se, que por alguma razão, a instabilidade havia se instaurado na "Cidade Sorriso".

Sobre a mudança de Pimentel para o sul, o site da AD curitibana apenas narra que ele a “convite do pastor Agenor Alves de Oliveira, em 6 de março de 1962, transferiu-se para Curitiba onde assumiu a presidência da Assembléia de Deus." 

Contudo, entre a saída definitiva de Agenor e a posse de Pimentel, a igreja vivenciou uma polêmica eleição para a presidência com dois candidatos conhecidos dos membros: o pioneiro sueco Charles Leonard Simon Lundgren, e o pastor Alfredo Reikdal.

Lundgren, havia liderado a AD curitibana entre 1942 a 1955. Reikdal por sua vez, era genro do fundador da igreja, o pastor Bruno Skolimovski, o qual teve duas importantes passagens por Curitiba. A primeira como organizador da denominação pentecostal na capital do Paraná entre 1929 a 1939. Posteriormente, Skolimovski volta como substituto do próprio Lundgren entre 1955 a 1957.

Dois fortes candidatos para tentar acabar com a instabilidade, e representantes de tendências políticas e ministeriais na AD Local. Mas, por conta da rivalidade, o que seu viu, foi uma agitada disputa. Reikdal, na época, já era pastor na AD no bairro do Ipiranga em São Paulo. Além de ser genro do fundador da igreja, a família dele fazia parte do núcleo dos primeiros assembleianos em Curitiba. Em 1939, Alfredo foi separado para o ministério pastoral pelo próprio sogro. 

Assim, ao abrir as páginas do jornal Última Hora (edição Paraná) no dia 21 de fevereiro de 1962, causou espanto aos curitibanos, ao se depararam com a seguinte matéria: Politicagem na Igreja Provoca Descontentamento Entre os Fiéis. Segundo o periódico, circulava na cidade um "curioso impresso propugnando a candidatura do sr. Alfredo Helkedal [sic] para pastor-presidente" da AD em Curitiba.

No panfleto, Reikdal enumerava dez razões para os membros da AD o escolherem (vide imagem). Declarando-se jovem, espiritual, doutrinador, idealista, imparcial e de moral elevada, o candidato também afirmava que não concederia privilégios aos "filhos", "apadrinhados" ou "afilhados" na igreja.

Para o Última Hora, o método de campanha ao cargo era de fazer "inveja aos políticos”. O clima de acirrada disputa descambou para uma eleição conturbada. Os partidários dos candidatos tumultuaram a votação no templo central de Curitiba, com direito até ao reforço policial para garantir a ordem. 

Logicamente, tentou-se apagar da memória institucional toda a confusão. Na biografia de Reikdal tal episódio sequer é citado. Conhecido na história assembleiana por seu perfil ortodoxo, o saudoso pastor do Ministério do Ipiranga, colocou como uma das suas virtudes para assumir a igreja o fato de não usar de "politicagem ou politicaria na Igreja". 

Ironias e controvérsias das biografias eclesiásticas. Como disse o sábio “nada há de novo debaixo do sol.” Eclesiastes 1.9.

Fontes:

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

COHEN, Eliezer. E Deus confirmou os seus passos: biografia do pastor Alfredo Reikdal. São Paulo: s/e, 2006.

Última Hora, ano I, Curitiba, Quarta-feira, 21 de fevereiro de 1962, nº 224 - Acervo digital da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

http://www.assembleiadedeus.org.br/historia-da-ieadc/

Comentários

  1. Já algum tempo a AD brasileira precisa de uma Reforma.

    ResponderExcluir
  2. Vê-se que da época dos fatos narrados na postagem, a situação da política eclesiástica brasileira só fez piorar...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O caso Jimmy Swaggart - 30 anos depois

AD em São Cristóvão (RJ): a descaracterizarão de uma igreja histórica

Iconografia: quadro os dois caminhos