CGADB de 1987 - a eleição

Descrita como "monumental" e "a maior de todas" por um dos seus participantes, a CGADB de 1987 entrou para a história das Assembleias de Deus, infelizmente, como a manifestação de um monumental conflito entre os Ministérios da Missão e Madureira.

No dia 20 de janeiro no Centro de Eventos em Salvador (BA) ocorreu a eleição da nova Mesa Diretora da CGADB. Antes mesmo da votação, alguns líderes já manifestavam que as tentativas de novamente se chegar a um acordo não seriam possíveis. Havia um exacerbado clima de rivalidade, e o discurso de união já estava sendo abandonado para frases cuidadosamente construídas, as quais, lidas dentro do contexto histórico apontava para as incontornáveis dissenções assembleianas. 

Pouco antes da votação, o pastor Luiz Bezerra da Costa, falou em "não ter favoritismo, mas esperava que a unidade permanecesse intacta". O irmão de José Wellington, como bom político, adotava o discurso da neutralidade. Mas era evidente em suas palavras a fragilidade da suposta "unidade" assembleiana.

O abraço de Ferreira em Alcebiades: gesto longe da realidade 

O líder do Ministério do Belenzinho José Wellington disse na ocasião ser favorável a uma chapa de união. Para ele sendo a igreja única, não deveria haver um "grupo vencedor ou perdedor", mas "como igreja, nós devemos estar sempre juntos, combinar e juntos escolher os irmãos que irão compor a Mesa." Porém, naquele momento, o futuro presidente da CGADB  não observava "ambiente favorável a uma chapa do consenso".

Infelizmente, por interesses diversos, um grupo teria que sair derrotado. E esse grupo, seria o Ministério fundado por Paulo Leivas Macalão. O próprio pastor José Wellington estava nas articulações para derrotar Madureira. E de fato foi uma vitória esmagadora para a Missão. O Mensageiro da Paz informava a inscrição de três mil obreiros, e Alcebiades venceu a disputa com 2.140 votos.

Após a proclamação do resultado, pastor Alcebiades declarou: "O meu sentimento é favorável a que desapareça todo e qualquer sentimento de divisão e haja paz em nossa igreja...porque unida a igreja pode fazer um grande trabalho, enquanto que, com essa aparente divisão, poderá ser um desastre muito grande." Como se percebe, amenizava-se as grandes discórdias com belas declarações de unidade, como se as palavras fossem criar um sentimento diferente daquele vivido antes, durante e depois da convenção.

Com a confirmação da vitória da Missão, pastor Manoel Ferreira diplomaticamente se dirigiu ao seu oponente para um "afetuoso" abraço. Esse gesto, muito bem explorado na matéria do Mensageiro da Paz, na verdade não refletia a realidade, e nem sua declaração de que "Deus fez sua vontade e o nosso propósito é o de somar.... Colocamo-nos ao lado da nossa presidência, para lutar em favor da unidade de nossa Igreja e esperamos que a nova Mesa Diretora seja um canal aberto para o diálogo." 

Meses depois essas palavras não teriam mais sentido. Segundo José Wellington em suas memórias, Alcebiades e Manoel Ferreira entraram em uma triste rota de colisão, a ponto de cortarem relações. Contraditoriamente, a Mesa Diretora para o líder de Madureira não se tornou um canal de diálogo e sim um instrumento de pressões para que o ministério se enfraquecesse, o que levou a diretoria da CGADB, já na gestão de José Wellington a desligar Madureira da Convenção Geral.

Assim, a CGADB de 1987 terminou: entre discursos vazios, abraços teatrais e uma crise que se prolongou até 1989, com a saída de Madureira da Convenção Geral. Porém, a história mostrou que a saída de Madureira só amenizou momentaneamente a antropofagia ministerial assembleiana. Outras crises como uma tempestade se formariam, tendo como consequências outros embates nas convenções seguintes.

Para suprema ironia, o jornal do Ministério de Madureira O Semeador (edição de fevereiro de 1987) informava aos seus leitores que Alcebiades havia tomado posse da Mesa Diretora da CGADB "num ambiente de paz e harmonia..."

Fontes

ARAÚJO, Isael de. José Wellington - Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FERREIRA, Samuel (org.) Ministério de Madureira em São Paulo fundação e expansão 1938-2011. Centenários de Glórias. cem anos fazendo história 1911-2011 s.n.t.


FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.


VASCONCELOS, Alcebíades Pereira; LIMA, Hadna-Asny Vasconcelos. Alcebíades Pereira Vasconcelos: estadista e embaixador da obra pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, janeiro de 1985

Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, junho de 1986

Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, julho de 1986

Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, março de 1987

Comentários

  1. Paz Reverendo. Poucos em nossa denominação preocupam -se em com o registro e preservação de nossa história com um olhar crítico, mas também com fidelidade. Parabéns!

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  2. Parabéns, por este pelo post.

    Tenho 49 anos de idade e todos dentro da Assembleia de Deus do Belém (congregações e Sede).Realmente um olhar crítico é sempre bom

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  3. É muito importante citar, que a chapa de consenso da AGO de 1985 em Anápolis-GO, deu-se mediante um acordo que não foi honrado posteriormente na AGO de 1987 pela Missão. A crise se dá, exatamente pela quebra deste acordo firmado com o Ministério de Madureira, na AGO anterior.

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