Benedita da Silva - mulher, negra, favelada e política assembleiana

Para Paul Freston em seu livro Evangélicos na Política Brasileira, Benedita da Silva é uma pentecostal atípica. Filha de um operário de construção (décima-segunda numa prole de treze) e de uma lavadeira, ambos analfabetos, Benedita trabalhou de empregada e camelô. Tornou-se auxiliar de enfermagem, e posteriormente já vereadora, graduou-se em Serviço Social.

Freston observa ainda, que a sua politização se deve aos pais. Sendo filha de mãe de santo, ela herdou de sua genitora a capacidade de liderança, e nas associações comunitárias ela desenvolveu sua formação política. Tornou-se membro da Assembleia de Deus aos 24 anos, "adaptando-se aos costumes mas não ao apoliticismo." (Freston 1994: 108)

Durante toda sua atuação política foi vista com reservas e desconfianças pela liderança assembleiana. Era filiada ao PT numa época em que o partido era visto como a encarnação do mal. Ao defender os direitos dos negros, mulheres e homossexuais, ela causava desconfianças entre os evangélicos. Como podia uma cristã, ainda mais pentecostal defender temas tão antagônicos as diretrizes de sua própria denominação?

O fato é que, como bem foi observado por Freston é que: "ela não é produto político da AD. Nunca foi candidata oficial, e toda sua trajetória fere a mentalidade tradicional da igreja, que não incentiva membros comuns (sobretudo mulheres pobres) a conquistar posições na sociedade secular."

Logicamente pagou um preço por isso. Tendo carreira política independente, sendo de um partido de esquerda, e defendendo temas polêmicos, ela não foi apoiada pelos principais ministérios assembleianos na eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro em 1992. Recebeu apoio de alguns segmentos, mas a liderança refutou sua candidatura.

No Mensageiro da Paz de setembro de 1986, uma matéria expôs alguns dos candidatos assembleianos a constituinte. No texto é destacado algumas informações e projetos políticos dos futuros constituintes, e na apresentação de Benedita, no registro de suas palavras e ideias, há a revelação de uma candidata que é uma verdadeira anomalia perto dos candidatos oficiais da Assembleia de Deus.

A vereadora Benedita da Silva, líder do seu partido na Câmara do Rio de Janeiro e membro da AD do Leblon, tem procurado levar sempre à comunidade evangélica a necessidade de um envolvimento maior do crente com a verdadeira justiça social. 

"Minha prática política é baseada na minha prática espiritual. Por isso quero que todos tenham direitos", ressaltou Benedita da Silva em entrevista recente ao MP. Ela disse, ainda, que, como mulher, negra e cristã, tem sofrido uma série de discriminações e preconceitos. Mas isso não a impede de continuar procurando defender a justiça para o povo: "Não compreendo como existem cristãos muito ricos e não dividem a riqueza com os empregados, deixando até de pagar férias, 13º salário... E à noite estão nas igrejas, dirigindo cultos."

"Essa discussão tem muita importância para mim, mesmo que tenha algum político evangélico e latifundiário querendo defender suas terras. Minha participação será sobretudo, a de uma serva do Senhor na Constituinte." (MP setembro de 1986)

É lógico que o tempo passou, e Benedita da Silva "amadureceu" politicamente. Chegou a ser a primeira mulher negra eleita senadora e governadora de um estado brasileiro (RJ). Foi ministra no governo Lula, e novamente consegue em 2010 se eleger deputada federal. Foi alvo de polêmicas envolvendo seus familiares e a si mesma. Nesse  percurso deixou de ser assembleiana, e hoje é filiada a igreja Presbiteriana.

Porém (provavelmente por um cochilo dos editores) suas críticas feitas no MP são de uma atualidade impressionante. São observações que revelam algumas facetas obscuras de políticos evangélicos, e revelam que infelizmente se aceitam certas injustiças sociais dentro do próprio rebanho. Ou seja, certas posturas conservadoras, são na verdade, o desejo de manter seus próprios privilégios e de uma minoria.

Comentários

  1. Pobre, sem cultura, lutando por ideais que a maioria só luta no papel, tinha tudo para dar errado, menos numa coisa, a garra, a força de vencer, de ajudar, de mudar a situação, são poucos os que a compreendem e dão apoio, quando na verdade deveriam abraçar seus ideais, parabéns Benedita, seu próprio nome diz...parabéns meu amigo.

    ResponderExcluir
  2. Não existe cristão legítimo que venha a abraçar causas de Esquerda.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo Fábio, vale lembrar que a própria Assembleia de Deus declarou apoio ao Bolsonaro...

      Excluir
    2. PRA MIM, ELA CONTINUA SENDO UMA ESQUERDISTA SEM NOÇÃO, QUE GRITA: "LULA LIVRE", E TENTA DEFENDER O INDEFENSÁVEL. UM CORRUPTO CONDENADO PELA JUSTIÇA BRASILEIRA. E LUTA CONTRA UM GOVERNO QUE TENTA RECONSTRUIR UM PAÍS DESTRUÍDO PELO PT, PARTIDO DELA, E ELA ENTÃO TAMBÉM TEM CULPA NESTA DESTRUIÇÃO DO PAÍS.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O caso Jimmy Swaggart - 30 anos depois

Iconografia: quadro os dois caminhos

Assembleia de Deus e a divisão em Pernambuco (continuação)