A pequena cidade de Ferros, situada a menos de 200 quilômetros de Belo Horizonte (MG), ficou eternizada na minissérie Hilda Furacão exibida pela Rede Gobo de televisão em 1998, realizada com base na obra homônima do escritor Roberto Drummond.
Um dos aspectos ressaltados na história, foi a grande influência do pároco católico sobre a vida social dos habitantes da pacata Santana dos Ferros (Drummond usa no livro o nome antigo da cidade). No romance, o padre (interpretado pelo grande Paulo Autran) mandava e desmandava, sempre em nome da fé e dos bons costumes.
Essa realidade de grande poder católico e perseguição aos infiéis, foi sentida pelos membros da Assembleia de Deus. Um alvoroço tão grande, que chamou à atenção da imprensa na época. O jornal Diário Carioca (RJ) narrou aos seu leitores na edição do dia 26 de junho de 1962 a grande confusão liderada pelo padre, o qual liderando uma multidão "invadiu e destruiu" o templo da AD.
O caso é narrado com riquezas de detalhes no livro Entre Rosas e Espinhos: biografia do pastor Antônio Rosa da Silva, do escritor Jacó Rodrigues Santiago. Rosa na época era um jovem obreiro e estava noivo com casamento marcado. O trabalho do futuro pastor era levar capas para realização do batismo em águas em Santana.
Entre boatos e ameaças, no domingo pela manhã, quando os crentes ainda estavam na igreja, a turba se aglomerou na frente do templo. Gritando "Viva a senhora Santana, viva!" ou "Viva o padre Cassimiro!", a multidão armada com facas, porretes e armas de fogo, avançou enfurecida clamando "Fora com o pastor! fora com os protestantes!".
Segundo Santiago, o "padre com sua batina preta balançando, saltava no chão com tanto ódio dos crentes". Por segurança (se havia alguma), as portas do templo foram rapidamente fechadas. Mas pelas janelas, terra com pontas de faca eram jogadas. "De repente, uma pedra atravessou a nave do templo ao púlpito" e por pouco não atinge no rosto o evangelista Antônio Rosa.
Liderados pelo padre, mas com a intermediação de um Juiz de Paz, a multidão deu um prazo de alguns minutos para que os crentes saíssem do templo. Assustados, os assembleianos conseguiram com muita dificuldade sair da igreja. Logo que deixaram o templo, os fanáticos quebraram tudo o que viam pela frente. A casa pastoral foi depredada por completo.
Tamanha confusão, além de ser destaque nos jornais do Rio, causou problemas para a imagem da Igreja Católica na região, pois o padre Cassimiro foi processado e tempos depois removido da paróquia. O jovem evangelista Antonio Rosa, anos depois acabou sucedendo o pastor José Alves Pimentel na liderança da AD campo de Ipatinga e Coronel Fabriciano em Minas.
Perseguições como a relatada na biografia ainda eram comuns no interior do Brasil nesse período. Em algumas localidades, o poder da Igreja Católica se estendia muito além da comunidade de fieis. E os tumultos contra os "protestantes" marcaram a história de muitas denominações evangélicas por conta desses embates contra fanáticos que não aceitavam outra igreja na região.
Boa história para recordar a dominação do catolicismo no interior do país e os revesses dos pioneiros. Na minissérie Hilda Furacão não apareceu nenhuma perseguição aos pentecostais, mas o crentes de Santana dos Ferros sentiram o drama ao vivo e a cores.
Fonte - inclusive as fotos:
SANTIAGO, Jacó Rodrigues. Entre Rosas e Espinhos: Biografia do Pastor Antônio Rosa da Silva. Ipatinga: GCOM Comunicação e Marketing, 2016.
Um dos aspectos ressaltados na história, foi a grande influência do pároco católico sobre a vida social dos habitantes da pacata Santana dos Ferros (Drummond usa no livro o nome antigo da cidade). No romance, o padre (interpretado pelo grande Paulo Autran) mandava e desmandava, sempre em nome da fé e dos bons costumes.
Essa realidade de grande poder católico e perseguição aos infiéis, foi sentida pelos membros da Assembleia de Deus. Um alvoroço tão grande, que chamou à atenção da imprensa na época. O jornal Diário Carioca (RJ) narrou aos seu leitores na edição do dia 26 de junho de 1962 a grande confusão liderada pelo padre, o qual liderando uma multidão "invadiu e destruiu" o templo da AD.
O caso é narrado com riquezas de detalhes no livro Entre Rosas e Espinhos: biografia do pastor Antônio Rosa da Silva, do escritor Jacó Rodrigues Santiago. Rosa na época era um jovem obreiro e estava noivo com casamento marcado. O trabalho do futuro pastor era levar capas para realização do batismo em águas em Santana.
Entre boatos e ameaças, no domingo pela manhã, quando os crentes ainda estavam na igreja, a turba se aglomerou na frente do templo. Gritando "Viva a senhora Santana, viva!" ou "Viva o padre Cassimiro!", a multidão armada com facas, porretes e armas de fogo, avançou enfurecida clamando "Fora com o pastor! fora com os protestantes!".
Segundo Santiago, o "padre com sua batina preta balançando, saltava no chão com tanto ódio dos crentes". Por segurança (se havia alguma), as portas do templo foram rapidamente fechadas. Mas pelas janelas, terra com pontas de faca eram jogadas. "De repente, uma pedra atravessou a nave do templo ao púlpito" e por pouco não atinge no rosto o evangelista Antônio Rosa.
Liderados pelo padre, mas com a intermediação de um Juiz de Paz, a multidão deu um prazo de alguns minutos para que os crentes saíssem do templo. Assustados, os assembleianos conseguiram com muita dificuldade sair da igreja. Logo que deixaram o templo, os fanáticos quebraram tudo o que viam pela frente. A casa pastoral foi depredada por completo.
Tamanha confusão, além de ser destaque nos jornais do Rio, causou problemas para a imagem da Igreja Católica na região, pois o padre Cassimiro foi processado e tempos depois removido da paróquia. O jovem evangelista Antonio Rosa, anos depois acabou sucedendo o pastor José Alves Pimentel na liderança da AD campo de Ipatinga e Coronel Fabriciano em Minas.
Perseguições como a relatada na biografia ainda eram comuns no interior do Brasil nesse período. Em algumas localidades, o poder da Igreja Católica se estendia muito além da comunidade de fieis. E os tumultos contra os "protestantes" marcaram a história de muitas denominações evangélicas por conta desses embates contra fanáticos que não aceitavam outra igreja na região.
Boa história para recordar a dominação do catolicismo no interior do país e os revesses dos pioneiros. Na minissérie Hilda Furacão não apareceu nenhuma perseguição aos pentecostais, mas o crentes de Santana dos Ferros sentiram o drama ao vivo e a cores.
Fonte - inclusive as fotos:
SANTIAGO, Jacó Rodrigues. Entre Rosas e Espinhos: Biografia do Pastor Antônio Rosa da Silva. Ipatinga: GCOM Comunicação e Marketing, 2016.