Presbíteros - o ministério da resistência

Toda denominação religiosa possui sua hierarquia. As ADs, ao longo dos anos cristalizaram a sua: cooperador/auxiliar, diácono, presbítero, evangelista e pastor. Atualmente, em alguns ministérios outras nomenclaturas foram admitidas como a de apóstolo, bispo (a) e pastoras.

Cooperador, diáconos e presbíteros dentro da denominação, caracterizaram-se por serem ministérios voltados para a igreja local, enquanto que evangelistas e pastores tem seu foco mais no contexto regional ou nacional das ADs. Mas é o presbítero ou o presbitério, o alvo das maiores controvérsias na história da AD, tanto teologicamente como administrativamente.

O historiador Maxwell Fajardo, em seu livro Onde a luta de travar, destaca que os presbíteros (chamados anciãos nos primeiros tempos), na CGADB de 1933, foram autorizados a ministrar os sacramentos antes efetuados somente pelos pastores, no caso unção dos enfermos e batismo nas águas. Era a padronização das atividades do presbitério entre as diversas ADs espalhadas pelo Brasil.

Nelson e Nyströn com o presbitério da AD em São Cristóvão (RJ)

Na mesma década, o missionário sueco Nils Kastberg, em um artigo publicado no Mensageiro da Paz, em 1936, defendeu a necessidade de mais presbíteros para a igreja. O sueco também argumentava, que o presbíteros deveriam atuar como pastores, pois a única diferença entre eles era o fato do pastor ser um "presbítero de tempo integral".

Com o passar do tempo, porém, a Convenção Geral colocou por interesses ministeriais, a função de presbítero em submissão ao pastor local. Enquanto Kastberg propunha (em tese) a limitação e a divisão do poder pastoral com o presbitério, as deliberações da CGADB restringia o acesso destes obreiros ao poder administrativo.

Mesmo com divergências sobre as funções dos presbíteros, o certo é que ao chegar em determinadas igrejas, presbitério era sinônimo de "problemas" para muitos pastores. Podia o grupo de obreiros contrapor os poderes dos pastores e interferir na administração local.

Caso emblemático foi o da AD em São Cristóvão (RJ) na década de 1950, a mesma anos antes liderada por Kastberg. Alcebíades Vasconcelos, ao assumir a igreja carioca conta em sua biografia, que se deparou com um "presbitério todo-poderoso", o qual comandava a igreja e do qual deveria ser "100% dependente".

Aliás, Vasconcelos criticou essa interferência do colegiado de obreiros comparando-o com o "sinédrio judaico". Em sua gestão em Manaus entre 1972/88, diante de problemas com alguns presbíteros, Alcebíades, após estudos bíblicos para justificar a decisão, extinguiu o cargo.

Em outros ministérios as coisas foram diferentes: com o crescimento das igrejas, o presbitério foi de certa forma "vulgarizado". Relaxou-se as exigências bíblicas para a separação dos presbíteros, gerando ordenações em grande número. Tal ação, diluiu o poder do colegiado e facilitou o controle por parte do pastores-presidentes dos obreiros (pastores, evangelista e presbíteros) sustentados diretamente pelas igreja locais.

Nas igrejas menores, o presbitério ainda concentra determinada força, pois o pastor não dispõe de tantas alternativas para contrapor o poder desses obreiros. Como disse um saudoso pastor catarinense, antigamente, o presbítero era visto como um "coronel" com grande influência sobre os membros na congregação.

Mas hoje, há para os líderes das ADs um perigo maior que o antigo presbitério. É o membro consciente dos seus deveres e direitos, com formação jurídica e intelectual, o qual simplesmente contesta os mandos e desmandos do pastor. Por não depender financeiramente da igreja, e desfrutar de considerável prestígio social, esse tipo de membro não é facilmente cooptado com cargos ou privilégios.

É o poder do presbitério "reencarnado" e o fantasma de muitas administrações eclesiásticas.

Fontes:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil - Curitiba: Editora Prisma, 2017.

Comentários

  1. Aqui em PE há um ministério no qual o presbítero nem dá a benção apostólica, nem ministra a Ceia. Depende de um pastor. Na Bíblia ele é um pastor, sem distinção.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sério? Sou pernambucano de Petrolina, e já fui presbítero da Ad-Madureira, mas não sabia de tal feito aqui no meu estado...Até desconfio de qual ministério seja..Deve ser o mesmo do "conforme orientação do nosso pastor eu...".Rsrsrsrsrs

      Excluir
    2. Excelente observação Pr. Daladier.

      Excluir
  2. Biblicamente o cargo de presbítero/ancião deveria sobrepor, mas nas ADs presbíteros são simples auxiliares. Gostaria de destacar o paragrafo do artigo: "Mas hoje, há para os líderes das ADs um perigo maior que o antigo presbitério. É o membro consciente dos seus deveres e direitos, com formação jurídica e intelectual, o qual simplesmente contesta os mandos e desmandos do pastor. Por não depender financeiramente da igreja, e desfrutar de considerável prestígio social, esse tipo de membro não é facilmente cooptado com cargos ou privilégios.

    ResponderExcluir
  3. Paz seja com todos,

    Infelizmente, ao longo da história recente da igreja, em especial no meio pentecostal e neopentecostal, a figura do Presbítero foi esvaziada de sua importância. De segunda autoridade da igreja depois dos Apóstolos no NT - o Apóstolo Pedro chegar a se denominar Presbítero,a obreiros que pouco ou nada ditam no caminhar da igreja. Nas igrejas reformadas, o Presbítero ainda goza de prestígio, sendo visto como um co-pastor. Em algumas dessas igreja, o pastor quando não está exercendo a docência, é muita as vezes chamado novamente Presbítero, nesse meio, acredita-se se o pastorado um dom acrescido ao Presbítero.

    Em Cristo

    ResponderExcluir
  4. Bispo pastor e Presbítero é a mesma coisa.Não querem ter bispo pois diz que é coisa da igreja católica,mas o Espírito disse Paulo convém que o bispo seja....Então bispo existe pois é o mesmo pastor e Presbítero Paulo chegou em Éfesios e mandoo chamar os bispos e ancioese da igreja, olha amigos como pode cada denominação fazer uma coisa diferente da outra para suavizar e dizer para seus membros nos temos mas visões do que eles. Para mostrar-se sua seusenha membros que sai melhores e membros da primeira escolha Deus.

    ResponderExcluir
  5. Presbítero é um pastor e ponto final. Batiza, ministra a ceia, apresenta crianças entre outras celebrações, então, é um pastor. Quando o enviam para o campo missionário no interior do Brasil, ele faz tudo. Tem ação pastoral. A diferença é que o presbítero não é o pastor administrador, mas faz parte do colegiado de ministros da Igreja Local.

    ResponderExcluir
  6. Acredito que nós seres humanos convertidos pelo sangue de Cristo em certas ocasiões não conseguimos distinguir a diferença entre estatuto eclesiástico e a PALAVRA DE DEUS que é um testamento para todos aqueles que creem nos livros das escrituras sagradas, pois eu acredito que foi um ero grotesco das lideranças da ADs acabar com o ministério de presbitérios, que um cargo neo-testamental que está na Bíblia, se os presbíteros no passado agiram com prepotência e arrogância, eles vão prestar conta com Deus e não com as convenções eclesiásticas, o problema em si, não esta no cargo e sim no homem. E porque se tem esse equivoco de relacionar os presbíteros apenas como anciões da igreja? se pesquisarmos a etimologia da palavra presbitério vamos encontra palavras relacionadas como governantes, administradores e superintendente, sendo assim Deus chamou estes lideres para administrar ou governar, e pastorear a Igreja conforme 1 Timóteo 5.17-21

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O caso Jimmy Swaggart - 30 anos depois

Iconografia: quadro os dois caminhos

Assembleia de Deus e a divisão em Pernambuco (continuação)