Firmino, o sétimo contra os "reinos" da AD em Belém

Conforme visto nas últimas postagens, a gestão do pastor Firmino de Anunciação Gouveia, foi marcada por enormes desafios. Em seus primeiros dias à frente da AD em Belém ele enfrentou oposição à sua posse, mas o problema foi solucionado com o tempo. Depois vieram os projetos de criação do Instituto Bíblico, o investimento em missões e a construção das congregações em todos os bairros da cidade.

A construção do grandioso templo-sede em Belém na conturbada década de 1980, foi também um empreendimento desgastante. Tão exaustivo, que em 1985, Gouveia decidiu entregar a liderança da convenção regional (era costume o pastor da Igreja-Mãe acumular as duas funções) para o seu vice-presidente, o pastor Josias Carmelo da Silva.

Ao que tudo indica, mesmo depois de ter inaugurado o novo templo, Firmino tentou, mas conseguiu reaver a liderança da COMIEADEPA. Depois do pastor Josias, foi eleito para o cargo Gilberto Marques à convite do próprio Josias Carmelo. Essa quebra de tradição gerou, posteriormente, muitos embates internos na convenção paraense.

Gilberto Marques e Firmino Gouveia: distanciamento institucional no Pará

A postura do pastor Josias em estimular o surgimento da nova liderança do pastor Gilberto pode estar relacionada com sua destituição do cargo de administrador da AD em Belém. Na época, o vice-presidente gerenciava de forma segura e equilibrada os negócios da igreja e, segundo o próprio Firmino, nesse período a “igreja não atravessou nenhuma crise”.

Mas em 1990, no mesmo ano em que Marques chegou à presidência da COMIEADEPA, o pastor da AD em Belém teve a orientação divina para reassumir plenamente as funções administrativas da igreja. Assim, promoveu mudanças significativas na gestão ao extinguir as secretarias comandadas pelos obreiros locais.

Para ele, as secretarias constituíam-se em “reinos”, onde cada secretário era um “senhor” ou “rei” em particular e gerenciava os recursos destinados conforme sua vontade. Contrariando os elogios dados ao pastor Josias Carmelo, Firmino informou também que a igreja tinha enormes dívidas e a “administração estava esfacelada”.

No final de 1990, Gouveia propôs a eleição de uma nova diretoria com poderes limitados. Na reforma estatutária veio a extinção das secretarias contrariando, obviamente, alguns obreiros locais. Na prática, o pastor da igreja se fortalecia e retirava poderes do corpo ministerial.

Essa autonomia maior facilitou a inserção da igreja nas áreas de mídia (rádio e televisão) e em novos projetos evangelísticos (Vale da Bênção). Conforme o próprio Firmino, agora ele não “tinha satisfação a dar a ninguém, a não ser a própria igreja no final do ano”.

Todas essas mudanças vieram depois do pastor Gouveia ter entregado a liderança da COMIEADEPA para o seu vice-presidente Josias Carmelo em 1985, e da eleição do pastor Gilberto Marques para presidente da convenção estadual, em 1990. Assim, gradualmente, a Igreja-Mãe em Belém vai começar a se distanciar cada vez mais da COMIEADEPA.

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011 (2ª edição ampliada). São Paulo: Recriar; Vitória: Editora Unida, 2019.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

BORGES, Jonas. Firmino Gouveia, um empresário de Deus: sua vida e sua obra. Belém: Semin, 1997.

CORREA, Marina. Assembleia de Deus: Ministérios, Carisma e Exercício de Poder. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

COSTA. Moab César Carvalho. O Aggiornamento do Pentecostalismo Brasileiro: as Assembleias de Deus e o processo de acomodação à sociedade de consumidores. São Paulo: Recriar, 2019

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Brasil -1930 a 2021 (Edição Revista e Ampliada). Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

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