Pastor Gilberto Marques - de empresário a “peão de Jesus”

A morte do pastor Gilberto Marques de Souza, presidente da Convenção de Ministros e Igrejas Evangélicas das Assembleias de Deus do Pará (COMIEADEPA), aos 81 anos de idade, causou profunda comoção entre os líderes e membros das ADs em todo o Brasil. 

Por mais de 30 anos o veterano obreiro presidia a COMIEADEPA e era aliado estratégico do pastor José Wellington Costa Júnior, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), ocupando o cargo de 1º vice-presidente da instituição.

Apesar de ter feito carreira ministerial no Norte do país, o saudoso pastor era mineiro da cidade de Frutal. Nascido numa família de 10 irmãos, Marques se converteu aos 12 anos de idade, em 1954, na cidade de Olímpia (SP). Logo sua casa tornou-se uma congregação da AD, sendo ele e seus familiares os primeiros membros da igreja local. Dois anos depois, recebeu o batismo no Espírito Santo. 

Em janeiro de 1969, casou-se com Maria Alice Morais de Souza, com quem teve três filhos. Neste mesmo ano, enquanto trabalhava como representante editorial, Gilberto recebeu sua chamada para o ministério na cidade de Caraguatatuba, litoral do estado de São Paulo. 

Pastor Gilberto Marques de Souza (1942-2024)

Anos depois, estabeleceu-se em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo. Nesse período, estudou no IBAD e desenvolveu a “Canadá Decorações”, estabelecimento especializado na ornamentação interna de ambientes residenciais, comerciais e escritórios de indústrias. Naquele período de expansão econômica no Vale do Paraíba, a empresa tornou-se uma das principais do ramo na região.

Próspero materialmente e envolvido nos negócios terrenos, o futuro líder teve uma chamada específica para trabalhar no Norte do Brasil. Convicto da sua vocação, vendeu a  empresa e se aventurou em terras paraenses. Ao chegar no estado com fama de empresário bem-sucedido, logo as portas para o ministério lhe foram abertas pelo pastor Firmino da Anunciação Gouveia. 

Em janeiro de 1979, trabalhando em Belém como auxiliar na AD em Icoaraci, veio a ordenação ao pastorado. Em seguida, presidiu a AD de Soure, na Ilha do Marajó, onde permaneceu até 1982, no ano seguinte mudou-se para a AD de Igarapé-Açu. Entre 1983 a 1990, pastoreou a AD de Capanema. Ainda em 1990, liderou a AD de Maguari, em Ananindeua, um campo com 54 congregações e cerca de 6 mil membros e congregados. 

Mesmo se considerando um “forasteiro”, Gilberto, mineiramente, pavimentou sua ascensão na COMIEADEPA: primeiro supervisor de área, depois 2º secretário, em seguida chegou à 1º vice-presidência e, finalmente, em 1990, presidente convenção estadual. Em pouco mais de 10 anos, o empresário que, segundo suas próprias palavras, virou “peão de Jesus” conquistou seu espaço no ministério paraense com a habilidade e carisma de veterano negociante.

Na CGADB, o pastor Marques integrou o Conselho Regional Norte, em dois mandatos (1990 e 1999) e foi eleito 1º secretário da Mesa Diretora, em 1997, 5º secretário, em 2003. Na AGO de 2007, foi eleito 6º vice-presidente e desde então sempre tem sido reeleito como um dos vice-presidentes da Mesa.

Como todo bom oligarca assembleiano, antes de morrer preparou um filho para a sucessão e outro para a política (deputado federal). No seu velório e sepultamento, a elite eclesiástica e política do Pará se fez presente para honrar o saudoso líder.

Assim, a tristeza e o luto provocados pelo desaparecimento de um renomado líder sempre trazem à consciência de todos as limitações desta vida terrena, onde o poder, riqueza e influência política não se levam para o além túmulo. Já dizia o sábio: “É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério!” (Eclesiastes 7:2).

Na próxima postagem: as disputas no interior da COMIEADEPA e a criação da nova convenção no Pará. 

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011 (2ª edição ampliada). São Paulo: Recriar; Vitória: Editora Unida, 2019.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina. Assembleia de Deus: Ministérios, Carisma e Exercício de Poder. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleias de Deus no Brasil (2ª edição revista e ampliada) Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

Vídeos:

CGADB na TV PGM 51 - Entrevista com o pastor Gilberto Marques:

https://www.youtube.com/watch?v=40j5Dylq_V4

COMIEADEPA; NOSSA HISTÓRIA: 

https://www.youtube.com/watch?v=ek-v9sIrBzo

Comentários

  1. É, sem dúvida alguma foi um grande líder, sempre presente à sua ordem como Presidente da COMIEADEPA, que entre as Convenções ela é a mais antiga. Primeira vez na história que uma "Filha" é mais velha que a "Mae"

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