A invisibilidade das mulheres na história

As questões de ministério e liderança feminina nunca foram ponto pacífico dentro das ADs no Brasil. Na Convenção Geral de 1930 em Natal, no Rio Grande do Norte, tentaram enquadrar as mulheres e dar uma solução satisfatória ao caso, todavia, sem sucesso aparente.

Na contramão da sociedade, onde as mulheres conquistavam seu espaço e influência (sempre as duras penas), os líderes das ADs sinalizaram o oposto, ou seja, delimitaram a área de atuação do chamado “sexo frágil”. Segundo os convencionais de 1930, as irmãs teriam “todo o direito de participar da obra evangélica, testificando de Jesus e a sua salvação, e também ensinando quando for necessário”.

Porém, quando se tratava de liderança, a democracia eclesiástica era limitada: “Mas não se considera que uma irmã tenha função de pastor de uma igreja ou de ensinadora, salvo em casos excepcionais mencionados em Mateus 12. 3-8 (uma referência ao princípio de necessidade). Isso deve acontecer somente quando não existam na igreja irmãos capacitados para pastorear ou ensinar".

Mulheres nas ADs: muitas no anonimato

Contudo, os debates sobre essa decisão sempre foram questionados. E conforme o movimento pentecostal crescia e se transformava mais as discussões aumentavam. Enquanto alguns líderes defendiam a atuação das mulheres, outros mantinham a linha conservadora.

Foi o caso do pastor Francisco de Assis Gomes. Nas páginas do Mensageiro da Paz, o pai do famoso pregador Gesiel Gomes, escreveu um texto intitulado “A mulher e sua missão”, onde deixou bem claro a sua posição sobre a função das irmãs da igreja.

Para Gomes, a mulher foi “feita para ser adjutora do homem” e não “competir com ele em todas as suas atividades”. Como legítimo representante da velha guarda assembleiana, Francisco reagia nas linhas do periódico contra os ventos da modernidade: “O moderno sistema de colocar a mulher no mesmo nível do homem, quer nos trabalhos ou governo administrativo, que não sejam de sua competência feminina, não deixa de ser uma contraproducência”.

Todavia, Gomes mencionou um caso emblemático sobre a atuação feminina na obra. Segundo ele, as igrejas em Santa Inês, Olhos D’Água e Miritiba no Maranhão foram fundadas por “uma mulher”, que Assis não cita o nome, apenas seu trabalho pioneiro. Na sequência, porém, ele dá o nome e sobrenome dos homens que realizaram os batismos, ceias e pastorearam as congregações.

O breve relato do pastor Francisco de Assis Gomes (1909-1996) é uma síntese involuntária da própria narrativa histórica das ADs no Brasil. Os homens e suas titulações eclesiásticas são realçadas, enquanto que as irmãs seguem no esquecimento por descuido ou circunstâncias desconhecidas; caso da crente no Maranhão.

Gomes registrou o fato de “uma mulher” evangelizar, pregar e abrir congregações no interior do maranhense, mas que não batizava ou liderava as igrejas “por não ser bíblico”. E quantas irmãs pentecostais ainda permanecem no anonimato histórico ou invisibilidade histórica?

Fontes:


MENSAGEIRO DA PAZ, 15 de abril de 1973, Rio de Janeiro: CPAD, p.2 e 11. (Leia aqui o texto na íntegra)

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina Aparecida Oliveira dos Santos. Assembleia de Deus: Ministérios, carisma e exercício de poder. São Paulo: Fonte Editorial, 2013.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: a expansão das Assembleias de Deus no Brasil urbano (1946-1980) - Assis, 2015.

PETHRUS, Lewi. Lewi Pethrus – Biografia. Rio de Janeiro, CPAD: 2004.

Comentários

  1. Biblicamente falando, a mulher nunca foi submissa ao homem, mas, ao marido cujo contexto é restrito ao núcleo familiar. Portanto, não se pode se aproveitar de um contexto cultural judaico e submeter a mulher ao anonimato como se Deus fizesse acepção de pessoas. A mulher tem os mesmos direitos e qualidades do homem na questão ministerial. Jesus após a ressurreição apareceu primeiramente a uma mulher que foi a primeira a proclamar o evangelho na cidade onde muitos se converteram por causa do testemunho dela..

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