Paulo Kolenda Lemos - antigo pastor em Santa Catarina

Na postagem anterior foi destacado o ministério do Pastor Paulo Kolenda Lemos na cidade de Itajaí, SC, e do seu esquecimento institucional. O antigo líder da AD pioneira no estado deveria constar na galeria dos pastores-presidentes da igreja. Mas ainda há tempo para essa reparação histórica.

Todavia, o Pastor Paulo também liderou outras igrejas catarinenses. No início do ano de 1950, ele deixou Itajaí e mudou-se para Joinville, onde foi recebido como pastor-auxiliar do missionário norte-americano Virgil Smith, que na época pastoreava a AD joinvilense. Na "Cidade dos Príncipes" a família aumentou com o nascimento de mais duas filhas: Lurdes e Marta. 

Tempos depois da chegada de Lemos, o missionário Smith viajou em férias para os Estados Unidos. Coube a Paulo e ao seu tio J. P. Kolenda, a tarefa de cuidar da igreja em Joinville durante os meses em que Virgil e sua esposa Ramona ficaram na América do Norte. 

Com a volta do casal missionário ao Brasil, em outubro de 1951, Virgil, Paulo Lemos e Osmar Cabral, representaram a AD joinvilense na Convenção Geral das ADs em Porto Alegre, RS. A viagem para a capital gaúcha foi em parte subsidiada pela igreja em Joinville.

Pastores Antonieto Grangeiro, João Ungur e Paulo Kolenda Lemos: líderes em SC

No início de 1952, Lemos é designado para cuidar da AD em Jaraguá do Sul, que na época pertencia ao campo de Joinville. Ao se despedir de Joinville, Paulo recebeu da igreja uma boa oferta em gratidão ao trabalho desenvolvido na cidade. Porém, o tempo em Jaraguá foi curto, pois naquele mesmo ano Paulo Lemos foi enviado para Blumenau.

Em fevereiro de 1952, o pastor Paulo Lemos assumiu a AD em Blumenau. Waldemar Kinas, um dos obreiros mais antigos da AD blumenauense escreveu ao Mensageiro da Paz (edição da 1ª quinzena de novembro de 1953) que o sobrinho de J. P. Kolenda continuava "dedicado e esforçado no trabalho de evangelização" no Vale do Itajaí. Nesse afã de ganhar almas para Cristo, Paulo liderou a construção do templo da AD em Pomerode em 1955 e tal foi sua dedicação, que chegou à vice-presidência da convenção catarinense.

Contudo, a vida de um obreiro assalariado pelas igrejas não era fácil. Com prebendas irrisórias, muitas vezes a família do pastor passava por privações em todos os sentidos. Havia (e em muitos casos ainda existe) a mentalidade de que o obreiro deveria passar por necessidades, ou seja, precisava ser provado juntamente com sua esposa e filhos para ser "aprovado" no ministério. 

Nesse contexto, a esposa de Paulo Lemos, a irmã Gecy, que diga-se de passagem cooperava tocando violino, bandolim e acordeon na igreja, montou um atelier de costura com o qual ajudava nas despesas da casa. Isso em si já era um tabu, pois a família do pastor deveria viver somente dos ganhos que a igreja lhe proporcionava. Com a suplementação da renda familiar bancada por Gecy, que agora era (para usar um termo moderno) uma "empreendedora", as murmurações não tardaram a surgir. 

Afinal de contas, os Lemos tinham na década de 1950 rádio com vitrola num tempo em que aos fiéis era vedado o uso dessa mídia. Os filhos do casal, agora acrescidos de mais um rebento (Paulo Afonso), usavam roupas e sapatos melhores que a média dos membros da igreja. A doação por parte de familiares dos EUA de uma geladeira à gás deu mais motivos para falatórios sobre o estilo de vida da família pastoral.

Segundo as memórias dos filhos de Paulo e Gecy, o grande motivo da discórdia com o ministério foi quando o presidente da convenção em Santa Catarina propôs que, em caso de transferências de pastores, os móveis deveriam ficar nas casas pastorais. Os Lemos encararam isso com muito desagrado depois de todo o esforço para conquistar alguns bem materiais. 

Assim, no primeiro semestre de 1957, depois de pastorear a AD em Blumenau por cinco anos, Paulo Kolenda Lemos rompeu com o ministério catarinense e voltou para Joinville onde se tornou pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular. É claro que isso foi um escândalo para a época. Quase sempre esse tipo de atitude era acompanhada por visões e profecias premonitórias, além de fortes suspeitas sobre questões morais do obreiro dissidente. 

Posteriormente, Paulo mudou-se para o interior do estado de São Paulo e anos depois foi para Brasília. No Distrito Federal, os Lemos montaram uma empresa ligada à confecção de uniformes escolares e industriais. Como empresário, Paulo ajudava algumas igrejas, mas não atuou mais como pastor, falecendo no dia 20 de outubro de 1993, aos 78 anos, em Brasília. Gecy faleceu em 2011, aos 92 anos. 

Não discute-se aqui a inocência, erros ou controvérsias de Paulo Kolenda Lemos, mas sim a sua importância para a AD em Santa Catarina nas décadas de 1940 e 1950 do século passado. Este é o ofício do historiador!

Fontes:

ADAMI, Saulo; SILVA, Osmar José da. André Bernardino da Silva: pioneiro da Assembleia de Deus em Santa Catarina. Blumenau: Nova Letra, 2011.

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas, História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Os principais líderes, debates e resoluções do órgão que moldou a face do movimento pentecostal brasileiro, Rio de janeiro: CPAD, 2004.

LOUREIRO, Satyro (et al.). 1931-1981 50 anos: o jubileu de ouro das Assembleias de Deus em Santa Catarina e sudoeste do Paraná. Itajaí: Maracolor, 1981.

Mensageiro da Paz edição da 1ª quinzena de novembro de 1953.

Mensageiro da Paz edição da 2ª quinzena de abril de 1956.

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