Ministério de Madureira - política e ataques da imprensa na década de 1950

Nas últimas postagens, observou-se as relações do Pastor Paulo Leivas Macalão com o polêmico Adhemar de Barros. Ligação essa que resultou no lançamento do cunhado de Macalão, o também pastor Sylvio Brito para o cargo de vereador pelo Brito, no Rio de Janeiro pelo Partido Social Progressista (PSP), identificado pela imprensa como o partido ademarista.

Entretanto, a imprensa da época, representada pelo Gazeta de Notícias, não poupou o líder pentecostal, fazendo fortes denúncias. O ataque foi mencionado no Mensageiro da Paz (2º quinzena de maio de 1951), na matéria sobre a inauguração da Escola "São Paulo", quando fez referências ao "inimigo" que havia se levantado para caluniar o Pastor Paulo. Vale observar que todas as ilações feitas sobre a fortuna, luxo e enriquecimento de Macalão nunca se comprovaram. Outro ponto importante: inexistiu na matéria qualquer abertura para o contraditório, ou seja, o espaço destinado para a defesa do acusado.

Gazeta de Notícias: Adhemar, Zélia e Macalão na primeira página

Foi na edição do dia 06 de abril de 1951 que a Gazeta de Notícias expôs na primeira página a seguinte manchete: "Uma Raposa pastoreia o rebanho... O pastor Paulo Leivas Macalão fez pacto com o Diabo". No texto da matéria, o jornal colocava em dúvida a honestidade do pastor carioca que, segundo o periódico, contava com cerca de seis mil membros. Apontado como um "chantagista vulgar" e esbanjador das economias dos seus próprios discípulos, Macalão ainda era acusado de utilizar a "Escola São Paulo" para enriquecimento próprio.

A Gazeta também fez críticas à construção do templo do Ministério de Madureira, localizado na Rua Carolina Machado, o qual traduzia "as ambições descabidas" do pastor. Macalão foi ainda apontado como proprietário de um "luxuoso palacete servido por elevador, ar refrigerado e por outras comodidades que só milionários podem ter e não um religioso, que faz profissão de pobreza". Além disso, afirma-se que ele era dono de várias moradias na Vila Valqueire, bairro de classe média da Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Nas questões políticas, a Gazeta denunciava que os membro da AD em Madureira votaram em massa nos candidatos escolhidos pelo Ministério, "demostrando falta respeito à Constituição Brasileira". Na continuação, a crítica do editor parece ter sido direcionada para a conduta da liderança eclesiástica nos dias atuais: "Como se vê, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus, desvirtuando seu sentido religioso, passou a ser um centro de propaganda política e campo de transações comerciais do esperto pastor Paulo Leivas Macalão."

De linha editorial favorável ao governo de Getúlio Vargas, a Gazeta não apoiava Adhemar de Barros e suas incursões políticas no meio evangélico. Atingir Macalão enfraquecia Barros que estrategicamente aproximava-se do líder de Madureira e abraçava todas as outras crenças. Freston (1994) também fala da aproximação do político paulista nos anos de 1950 com outro pastor pentecostal, o fundador da Igreja O Brasil para Cristo, Manoel de Mello.

Como se percebe, na antiga Capital da República, desenvolveu-se há 70 anos simbioses político-eclesiásticas vistas com abundância na atualidade. Não seria a experiência da AD em Madureira no Rio um protótipo das práticas pentecostais na seara política dos últimos anos no Brasil?

Fontes:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina A. O. Santos. Dinastias Assembleianas: sucessões familiares nas igrejas Assembleias de Deus no Brasil. São Paulo: Recriar, 2020.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

FRESTON, Paul. Protestantes e Política no Brasil: da Constituinte ao Impeachment. Tese de Doutorado em Ciências Sociais, UNICAMP, 1993.