Sylvio Brito - pastor pentecostal e vereador no RJ

Na postagem anterior, observou-se que Sylvio Brito foi, possivelmente, o primeiro caso dentro das ADs de uma candidatura política feita com o apoio de um dos mais importantes ministério da igreja. Como na atualidade, o "vocacionado" e "escolhido" para a missão parlamentar foi um familiar do principal líder eclesiástico: Sylvio Brito, cunhado do Pastor Paulo Leivas Macalão. 

Como se percebe, desde tempos antigos as carreiras políticas desenvolvidas com apoio institucional da igreja estão atreladas ao controle e afinidades com as lideranças dos ministérios. Mais do que representantes dos segmentos evangélicos em geral, os atores políticos no pentecostalismo atuam na defesa de interesses muito específicos, além de garantir para as famílias eclesiásticas status na sociedade.

Brito candidatou-se ao cargo de vereador no Rio de Janeiro pelo Partido Social Progressista (PSP), identificado pela imprensa como o partido ademarista. Conquistou 1.685 votos, empatando com outro candidato do PSP, Alfredo Tranjan. Como era mais velho que seu colega de agremiação política, ganhou a condição de ser o 1º suplente do partido.

Nas suas breves passagens pelo legislativo carioca, o pastor pentecostal chamou a atenção da imprensa por uma proposta de grande valor simbólico para os evangélicos: um exemplar da Bíblia Sagrada deveria ficar na Mesa da Presidência da Câmara para juramento solene dos vereadores. Esse tipo de proposição, muitos anos depois, se multiplicaria pelas casas legislativas de todo o país. Grupos sociais minoritários e discriminados sempre gostaram de ver seus símbolos nos espaços públicos e de poder.

Sylvio Brito (à esquerda) em sua juventude com o casal Vingren

Outro ponto destacado pela mídia do Rio foi o discurso moralista do cunhado de Macalão sobre um caso polêmico. A cidade do Rio de Janeiro, na época Capital do Brasil, possuía a Delegacia de Costumes e Diversões, liderada com extremo rigor pelo comissário Deraldo Padilha. Considerado uma lenda viva na cidade devido à sua truculência e preconceito contra prostitutas e homossexuais, Deraldo chegou a ser tema do clássico samba de Moreira da Silva intitulado "Olha o Padilha".

Entre denúncias de arbitrariedades e a forte campanha da imprensa pelo seu afastamento, o temível comissário foi licenciado das suas funções. Mesmo com todas as evidências de abuso de autoridade contra Padilha, Brito usou a tribuna da Câmara para defender o comissário. Segundo o Diário Carioca, o "pastor protestante" afirmou que o agente da lei "era um esteio da segurança da família carioca" e que na verdade, nunca fora compreendido pela população do Distrito Federal. Ainda conforme o Diário, "O discurso do sr. Silvio de Brito foi recebido no plenário como uma demonstração do seu exagerado amor aos preceitos de sua crença, o Protestantismo."

Novamente as comparações entre o momento político atual é interessante: em nome do evangelho, a violência e o preconceito contra determinadas minorias (sendo que os pentecostais também já foram um grupo minoritário) foram, e são, legitimadas por aqueles que deveriam pregar o amor e a tolerância. Mas, diga-se de passagem, a sociedade da época em geral era muito mais pautada por regramentos e costumes do que hoje. 

As ações de Brito (adoção de símbolos caros aos evangélicos e forte ênfase nas pautas morais) seriam muitos anos depois encampadas por políticos assembleianos para agradar o seu eleitorado. Mesmo com todo esse esforço, Brito não conseguiu conquistar uma cadeira na Câmara de Vereadores e muito menos a suplência em outras eleições.

Todavia, a amizade entre Macalão e Adhemar não deixou Brito desamparado ou fora do espectro político: a ele foi dado o cargo de secretário municipal da cidade de São Paulo, na gestão do próprio Barros na prefeitura na capital entre 1957 a 1961. Porém, a relação fraternal entre o líder populista (Adhemar de Barros) e o líder pentecostal (Paulo Macalão), causaria ao pastor de Madureira seus problemas...

Fontes:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina A. O. Santos. Dinastias Assembleianas: sucessões familiares nas igrejas Assembleias de Deus no Brasil. São Paulo: Recriar, 2020.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

FRESTON, Paul. Protestantes e Política no Brasil: da Constituinte ao Impeachment. Tese de Doutorado em Ciências Sociais, UNICAMP, 1993.

Comentários

  1. Gostaríamos que o irmão vizesse uma postagem sobre a igreja presbiteriana que virou Assembléia de Deus no bairro de Santa Cruz na zona oeste do Rio no início do trabalho pentecostal na então capital federal. Assunto interessante.

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