Sylvio Brito - o candidato de Madureira

Atualmente, os assembleianos se acostumaram a ver uma verdadeira miríade de candidatos para os mais diversos cargos eletivos. Desde a mobilização das ADs em 1986, com a proposta de eleger o máximo de representantes para a Assembleia Nacional Constituinte, o número de "chamados", "escolhidos", "vocacionados" ou, simplesmente, "interessados" na vida pública não para de crescer.

Segundo Isael de Araújo, as questões políticas dentro das ADs, nas décadas passadas, eram vistas como mundanas ou "coisa do Diabo". Freston observou que as carreiras políticas entre os evangélicos (tradicionais ou pentecostais) eram basicamente de natureza individual, sem apoio institucional das igrejas que os membros/políticos frequentavam.

Porém, dentro das generalizações sempre existem as famosas exceções. E uma dessas exceções, que nos dias de hoje virou regra, foi destacada por Marina Correa no livro "Dinastias Assembleianas". Na obra, a pesquisadora expõe uma carreira política que, por algum motivo, foi nunca registrada na história das ADs: a do Pastor Sylvio Brito.


Fonte: Dicionário do Movimento Pentecostal (CPAD)


Brito era de família pioneira do movimento pentecostal no Rio de Janeiro e sempre teve uma trajetória marcante e polêmica dentro das ADs. Foi na casa de sua família, na década de 1920, no bairro de São Cristóvão, que o pentecostalismo carioca nasceu. Em 1933, sua irmã, Zélia casou-se com o jovem obreiro Paulo Macalão, que naquele momento desenvolvia seu ministério nos subúrbios do antigo Distrito Federal e, futuramente, expandiria sua rede de igrejas pelo Sudeste do país.

Ainda na década de 1930, Brito mudou-se para São Paulo, onde passou a auxiliar a AD na capital e, tempos depois, conseguiu a proeza de se tornar o primeiro líder brasileiro na AD da Missão (atual Belenzinho) e o primeiro pastor da AD de Madureira (hoje AD Brás) na pauliceia. De volta ao Rio, fundou a AD da Barra da Tijuca. Há informações de que em 1953, ele participou das discussões da CGADB em Santos, SP.


Nos anos 50 do século XX, o Ministério de Madureira crescia numericamente, se expandia na região Sudeste e Centro-Oeste e organizava instituições que lhe dava ares de instituição sólida e tradicional. Exemplo disso foi a criação da Confederação da Assistência Social Evangélica de Madureira e Instituições Congêneres (atual CIBE), da Escola São Paulo e da interação do Ministério em eventos ecumênicos de cunho evangélico.

Portanto, a participação política do Ministério com candidato próprio e apoiado pela cúpula da igreja, como hoje em dia é feito, não parecia algo improvável. Com tantas iniciativas de caráter social e assistencial, buscando dar visibilidade e recursos para planos futuros, Macalão apostou no cunhado — homem dinâmico e fiel ao ministério — para, quem sabe, facilitar a captação de recursos indispensáveis para os projetos denominacionais.

Sylvio Brito foi, possivelmente, o primeiro caso dentro das ADs de uma candidatura política feita com o suporte de uma das ramificações da igreja, que por tanto tempo projetou uma imagem de "apolítica". Seria ele, já naqueles tempos, uma versão antiga do Cezinha de Madureira, na Capital Federal? Os jornais da época registraram a tentativa de Silvio para conquistar uma cadeira na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro e o ligavam ao Pastor Macalão, que por sua vez era aliado do polêmico Adhemar de Barros.

Não por acaso, Brito candidatou-se a vereador pelo Partido Social Progressista (PSP), conhecido como o partido "ademarista", agremiação política criada pelo ex-governador de São Paulo, com a intenção de viabilizar seus projetos eleitorais. Ao que tudo indica, Silvio foi o "testa de ferro" do Pastor Paulo Leivas e a simbiose Brito, Macalão e Barros nunca foi devidamente explorada pelos seus biógrafos.

Em tempos de tantas manifestações de líderes políticos de apoio a candidatos à presidência da República, governador e outros cargos majoritários e legislativos, revisitar essa história é mais que necessária. Como disse o sábio no livro de Eclesiastes "... não há nada novo debaixo do sol".

Nota: O livro "Dinastias Assembleianas" teve a participação do Professor Mario Sérgio de Santana, editor deste blog.


Fontes:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina A. O. Santos. Dinastias Assembleianas: sucessões familiares nas igrejas Assembleias de Deus no Brasil. São Paulo: Recriar, 2020.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. 2 ed. São Paulo: Recriar, 2019.

FRESTON, Paul. Protestantes e Política no Brasil: da Constituinte ao Impeachment. Tese de Doutorado em Ciências Sociais, UNICAMP, 1993.

Comentários

  1. A simbiose Brito-Macalão-Barros teve outros desdobramentos.
    Em 1954 foi noticiado pelo MP que Chagas Freitas era um dos visitantes da festa de 1 ano do templo da AD Madureira, como "Diretor dos Jornais 'A Notícia' e 'O Dia'". Esses dois jornais, dos quais Adhemar e Freitas eram sócios, eram parte da estratégia "ademarista" de viabilizar-se nacionalmente. Chagas Freitas voltaria ao templo de Madureira em 21 de abril de 1972, dessa vez como governador da Guanabara e já rompido com Adhemar de Barros, para a comemoração dos 150 anos de independência do Brasil.

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