CGADB 1964 - entre o glamour e tensões

Entre os dias 16 a 21 de novembro de 1964, a Assembleia de Deus na cidade de Curitiba recebeu a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). O país vivia os primeiros meses do Regime Militar (1964-1985) e o pastor José Pimentel de Carvalho (1916-2011) estava somente há dois anos na liderança da igreja curitibana.

Silas Daniel, no livro da História da CGADB, destacou que a organização do evento naquele ano havia superado todas as demais até então realizadas. Isso só foi possível com a mobilização de toda a igreja e a formação de comissões e departamentos para receber os obreiros vindos de todo o país.

Além das comissões de relações públicas, hospedagem e tesouraria, a AD curitibana ofereceu aos convencionais lavanderia, departamento de correios e passagens, barbearia, engraxates e local para atendimento médico. O departamento de Assistência Social prestava informações através de alto-falantes instalados para essa finalidade.

Panorama de um dos cultos da CGADB de 1964 em Curitiba

O cuidado das flores e sua renovação ficou a cargo de algumas irmãs destacadas para tal serviço. Cartazes com citações bíblicas ficaram sob a responsabilidade dos jovens. Outro detalhe revelador do cuidado da igreja hospedeira com os visitantes: o tradicional cafezinho e chimarrão foram servidos a todo momento para animar as conversas dos nobres ministros evangélicos.

Para atender e acomodar os mais de 400 pastores e evangelistas, a igreja construiu um novo refeitório e ampliou a cozinha do templo central. A capacidade de acomodação do templo também foi ampliada com a construção de uma galeria e a antiga residência do pastor foi liberada para dormitório com a edificação de uma nova casa pastoral.

Deve ter sido um alívio para muitos convencionais as obras feitas em Curitiba. Afinal, as convenções precedentes eram caracterizadas pela extrema simplicidade de suas acomodações. Na primeira CGADB ocorrida em Natal, no Rio Grande do Norte, os pastores ficaram acomodados em "situações precárias, devido às dificuldades vivenciadas pela capital potiguar naquela época" - informa Silas Daniel em seu livro.

Na biografia do pastor Carlos Padilha consta que praticamente nas Convenções Gerais anteriores "ninguém ficava hospedado em hotel", mas em casas de conhecidos ou dormiam nos bancos da própria igreja hospedeira, "inclusive alguns membros da mesa diretora". Maior conforto era destinado ao presidente da CGADB, o qual era acomodado na casa do pastor-presidente da igreja local.

A organização e as homenagens com direito a desfile das bandeiras estaduais, declamações, coral e hino de saudação aos obreiros de todo o Brasil, emocionaram os pastores. A CGADB em Curitiba foi considerada um marco e exemplo para as convenções futuras.

Mas, em contraste com toda a beleza do evento, os bastidores foram problemáticos. As tensões ministeriais no Ceará, Brasília e Campina Grande, na Paraíba, estavam no auge. Do começo ao fim das reuniões plenárias, as discussões foram acaloradas e até o pastor Paulo Macalão teve seus momentos de impaciência.

Com o tempo, as Convenções Gerais ficaram cada vez mais grandiosas e caras; e os arranjos políticos e eclesiásticos, complexos e tensos. De um lado, o glamour das celebrações e homenagens; do outro, os inconfessáveis interesses de bastidores.

Na cobertura midiática dos eventos, os jornalistas da CPAD desdobravam-se para narrar de forma conciliadora o inconciliável. Basta ver as matérias do Mensageiro da Paz...

Fontes:

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

PADILHA, Jesiel. Carlos Padilha: combati o bom combate. Duque de Caxias, RJ: CLER - Centro de Literatura Evangélica Renascer, 2015.

Revista A Seara - março/abril de 1965, nº 43 - Rio de Janeiro: CPAD.

Comentários

  1. É um modelo desgastado. Os membros da AD estão contando as horas para uma renovação.

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