CONFRADESP - vitaliciedade e estatuto

Nos dias 03 e 04 de julho de 2018, realizou-se mais uma Assembleia Geral Extraordinária da Convenção (AGE) Fraternal Inter-Estadual das Assembleias de Deus do Ministério do Belém em São Paulo (CONFRADESP), presidida desde sua fundação em 1983, pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa.

Uma das novidades da AGE, foi a confirmação da vitaliciedade - o que na prática já existia - do pastor José Wellington na presidência da CONFRADESP. A vitaliciedade, contudo, só é garantida ao seu atual presidente; os demais cargos e o próprio sucessor do pastor Wellington devem ser escolhidos em eleições internas na convenção. Dessa forma, o líder do Ministério do Belém, junta-se ao clube de obreiros assembleianos contemplados oficialmente com o cargo de pastor-presidente vitalício.

Diretoria da CONFRADESP

Outra questão discutida nos bastidores, mas retirada estrategicamente da pauta nas reuniões plenárias, foi a proposta de mudança do estatuto da CONFRADESP, que pretendia dar à Convenção maiores poderes sobre as igrejas filiadas. Seria algo parecido com o modelo da Convenção Nacional do Ministério de Madureira (CONAMAD), cujo estatuto elaborado em 1958, pelo pastor Paulo Macalão dificultava autonomias indesejadas por parte de alguns "rebeldes".

A proposta de mudança estatutária, procura evitar prováveis dificuldades na sucessão do pastor José Wellington. No alto dos seus 84 anos, Wellington prepara seu filho primogênito para sucedê-lo no Ministério do Belém em São Paulo. Ao que tudo indica, no âmbito local, a sucessão e liderança de Duéto não será questionada.

Todavia, o mesmo talvez não aconteça em nível estadual. A CONFRADESP abriga em seus quadros pastores de grandes igrejas no interior paulista. Veteranos, que de maneira alguma vão abrir mão do direito de decidir os rumos das igrejas que presidem e, principalmente, de escolher seus sucessores em família.

Grandes Ministérios vivem o dilema de possuírem sucessores sem carisma suficiente para aglutinar em torno de sua liderança antigos e novos obreiros. Um estatuto que dê mais força aos presidentes das convenções é o caminho para se tentar evitar futuras fragmentações.

Os que conhecem a fundo as Convenções com seus pastores e igrejas afirmam que as cisões serão inevitáveis no futuro. Tanto a CONFRADESP e a CONAMAD convivem com tensões internas só amenizadas pelas figuras emblemáticas de José Wellington e Manoel Ferreira. Porém, os dois cardeais são vitalícios, mas não eternos.

Além do mais, a história recente das duas principais convenções assembleianas mostra que, com ou sem Wellington e Ferreira, algumas igrejas já deram seu grito de independência. As ADs em São José dos Campos, Santo Amaro, São Bernardo do Campo e Perus, todas em São Paulo, são exemplos de cisões turbulentas, mas vitoriosas em seus propósitos.

Paulo Macalão, de Madureira, criou o "Estatuto Padrão" e formou sua Convenção Nacional em 1958. Cícero de Lima por sua vez era contrário à formalização de convenções, preferia somente a organização de Ministérios. A CONFRADESP foi fundada em 1983, após à morte de Cícero com dinâmica diferente da CONAMAD. Agora, por força das circunstâncias, quer ser semelhante a sua congênere.

São as idas e vindas da história...

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael. José Wellington – Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. 

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina Aparecida Oliveira dos Santos. Assembleia de Deus: Ministérios, carisma e exercício de poder. São Paulo: Fonte Editorial, 2013.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil - Curitiba: Editora Prisma, 2017.

FIDALGO, Douglas Alves. De Pai pra Filhos”: poder, prestígio e dominação da figura do Pastor-presidente nas relações de sucessão dentro da “Assembleia de Deus Ministério de Madureira”. Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da UMESP. Orientador: Prof. Dr. Dario Paulo Barrera Rivera.

Comentários

  1. Dois dedos gerais de prosa (sem se ater à CONFRADESP):
    1) A AD é arminiana na soteriologia e calvinista na administração eclesiástica. Ou seja, uma vez presidente, para sempre presidente. Isto enquanto se prega que Deus está no controle. Fazendo "pé-de-meia"?
    2) A presidência vitalícia é uma maneira de resguardar o poder, a influência e a arrecadação em família. E ai de quem questionar. Nada tem de bíblica. É carnalidade pura e insegurança;
    3) Este modelo não se sustenta a longo prazo. Com o esclarecimento da membresia tende a ser cada vez mais questionado. Pululam por toda parte os ministérios independentes. Em muitas cidades o perfil da população evangélica tem mudado. Aqui em Recife tem, segundo o censo do IBGE 2010, em números redondos, 380.000 evangélicos e 134.000 assembleianos, ou seja, menos da metade de evangélicos, sem contar os ministérios assembleianos sem vínculo com Convenção. Talvez vivamos pra ver a reviravolta;
    4) Até os sumo sacerdotes eram eleitos;
    5) O Gedeon Alencar já demonstrou que onde a AD americana atuou na América Latina, as igrejas são congregacionais, no modelo batista, só aqui essa jabuticaba fincou estacas. Ou eles estão certos ou nós!

    Vamos embora que a jornada é muito longa e não há mais tempo de chorar por mais ninguém!

    Abração, nobre Mário Sérgio!

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  2. Outra coisa: salvo engano, até 1957/58 a AD brasileira não tinha pastor presidente, muito menos vitalício!

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