AD em Maringá - o sonho que virou pesadelo

Nos últimos dias, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus do Campo Eclesiástico de Maringá (IEADCEMAR) tem sido notícia pelas acusações de improbidade administrativa, dívidas milionárias e comprometimento do patrimônio da denominação na cidade. Cerca de 12 templos da igreja já foram leiloados, membros e obreiros denunciam o que seria o "pior momento da sua história".

Contudo, é preciso voltar ao ano de 2005 para compreender as origens da crise em Maringá. Nesse ano, assumiu a AD local o pastor Robson José Brito, substituindo o veterano pastor João Barbosa de Macedo, o qual estava na liderança da igreja desde 1977. Para seu sucessor, o ex-militar e pioneiro pentecostal no Paraná, escolheu o esposo da sua filha mais nova, Rute.

Jovem, com formação superior, carismático e de excelente oratória, Robson Brito foi professor de cursos preparatórios para vestibular e ex-líder da juventude na igreja. O sogro viu no genro o sucessor ideal e, a contragosto da Convenção paranaense, Robson foi escolhido como o novo pastor da IEADCEMAR.

Afinal, a AD em Maringá era um campo eclesiástico importante e cobiçado; uma potência eclesiástica. Segundo o pastor Osmar Soares, um dos denunciantes da atual situação, a igreja "era o sonho de todo e qualquer pastor", financeiramente sólida e estável.

Seis anos depois (2011) de assumir o campo, Brito realizou algo que há muito desejava: comprou a Rádio Tododia (ex-Catedral). Contudo, para adquirir a estação, o pastor teve que ousar financeiramente e tomou empréstimos volumosos dando como garantia propriedades da igreja. Ao que tudo indica, a má gestão dos recursos fizeram da dívida contraída pela igreja uma verdadeira bola de neve.

Em 2014, a situação financeira da denominação já era assunto na mídia impressa e virtual. A crise foi manchete do jornal O Diário do Norte do Paraná e de constantes matérias na internet do Maringá Post. Na época, informava-se que a dívida chegava a casa dos 17 milhões de reais (atualmente estimada em 23 milhões), valor muito superior ao patrimônio da igreja.


Nesse processo, a IEADCEMAR enfrentou uma cisão no campo de Sarandi. Motivo: o templo da igreja estava empenhorado como garantia do pagamento das dívidas. Para contornar a situação, o pastor Robson permitiu a emancipação de 6 campos eclesiásticos anteriormente ligados à AD em Maringá. A fragmentação o enfraqueceu ainda mais diante dos seus adversários. 

Revoltas devido ao estado de endividamento da instituição, queda brutal das contribuições financeiras, penhora de templos e bens e a iniciativa do pastor Brito em apoiar a candidatura do seu irmão Luciano ao cargo de deputado federal, contrariando as orientações da Convenção Estadual, fizeram da liderança da IEADCEMAR alvo constante de denúncias, cisões, protestos e acusações mútuas. Sobrou até para o Diabo alguma culpa no cartório...

Outro fator agravou a situação: enquanto o pastor Ival Teodoro da Silva era presidente da Convenção das Igrejas Assembleia de Deus no Estado do Paraná (CIEADEP), os problemas ainda eram tratados em seu âmbito local. Aliado do pastor Robson, Ival tentava amenizar a situação. O atual presidente da CIEADEP, o pastor Perci Fontoura, já tem outra postura diante da crise: é nítida agora a "vontade" da Convenção de se envolver no caso.

Diante das negativas do líder da IEADCEMAR, em todas as instâncias (jurídicas e eclesiásticas) de reconhecer a grave crise que assola a igreja, a CIEADEP tem pressionado o pastor Brito a renunciar ao cargo de presidente vitalício da AD em Maringá. Aliás, a vitaliciedade de Robson é outra questão que desagradou a CIEADEP na época de sua posse no campo maringaense.

A pressão dos últimos dias levou Robson a aceitar um afastamento de 30 dias. Não é a renúncia desejada por alguns, mas é uma tentativa de contornar a grave situação. Estuda-se uma possível transferência do pastor de Maringá para outra cidade como forma de sanar a crise de legitimidade do atual presidente.

Em meio a tudo isso, quem sofre mesmo são os membros da igreja. Principalmente os veteranos, os quais veem o sacrifício de muitos pioneiros ser destruído em pouco tempo. Os sonhos de algumas congregações de terem seus novos ou próprios templos já foram desfeitos. 

Nem sempre a vitaliciedade é garantia de permanência eterna na presidência das igrejas. A história mostra, que impérios e governos não resistem por muito tempo diante de crises econômicas, quanto mais igrejas e seus senhores feudais. 

Fontes:

https://maringapost.com.br/

http://www.jmnoticia.com.br/

Comentários

  1. Triste mas previsível resultado da falta de visão e da arrogância de certos "ungidos".

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  2. A crise de ser e de ter. Triste sofrimento para as ovelhas. Mistura de nepotismo com má gestão. Terrível. Não é um quadro inédito nas ADs Brasil afora.

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