A Assembleia de Deus na paisagem dos subúrbios do RJ

Os subúrbios da cidade do Rio de Janeiro com sua população, cores, ritmos musicais e religiosidades, sempre foram alvo das observações dos escritores e jornalistas cariocas. Interessados em sua geografia, formação e crescimento, alguns cronistas do antigo Distrito Federal, procuraram dar visibilidade a essas regiões afastadas do centro da cidade.

Exemplo desse constante interesse, foi a matéria do extinto jornal Última Hora, edição do dia 19 de agosto de 1957. Nela, o repórter Eugênio Lira Filho procurou retratar os subúrbios cariocas em um belo dia de domingo. O roteiro escolhido foi o Engenho Novo, Cascadura, Méier, Madureira e Quintino.




Registrou-se nas páginas do Última Hora, que a população suburbana naquele domingo de sol estava alegre e festiva. A maioria dos jovens correu à praia ou ao futebol, as moças foram à missa e os pais de família aproveitavam as horas de ócio para bater papo, ler jornal e ouvir rádio. Senhoras aceleravam para fazer compras e cuidar do almoço.

Para cada bairro visitado, Lira Filho destacou algumas cenas tristes e pitorescas. O Engenho Novo foi descrito como um local infeliz e sem jardins; no Méier, o táxi era um Cadillac; Cascadura era o paraíso do comércio ambulante, e no Quintino, o jornalista assistiu a uma inusitada sessão de rock ad roll, até então uma novidade musical no Brasil e no mundo.

Madureira com suas Escolas de Samba e forte comércio carecia de melhoramentos em seu mercado principal e na limpeza pública. "O famoso largo de Madureira é um amontoado de detritos: lixo por toda parte" - observou o repórter. A cena da "decrépita carroça da Limpeza Urbana" puxada por "burros magros e trôpegos" era a própria imagem do descaso do poder público em relação ao bairro.




Mas, em meio a intensa movimentação de Madureira, da sujeira das suas ruas e do perigo das linhas férreas atravessando o subúrbio, o repórter notou a presença de um grande templo evangélico, com sua torre imponente e chamativos vitrais. Era a Catedral da Assembleia de Deus - Ministério de Madureira, inaugurada no dia 1º de maio de 1953.

Talvez Lira Filho, ao perguntar sobre o grande edifício religioso, tenha obtido informações equivocadas. Afirma-se que o templo era da Assembleia de Deus em Madureira, mas ao mesmo tempo diz tratar-se de uma "Igreja Protestante Presbiteriana".

Porém, nas demais referências, a matéria é certeira. Diz o periódico que a Assembleia de Deus congregava "milhares de fiéis não só nos subúrbios - como em todos os bairros do Rio." Observava-se também à obediência aos "hábitos rígidos e o discreto padrão de vida" dos crentes da época. E para completar, o cronista diz que os cultos públicos com "cânticos e sermões, enchiam as tardes dos subúrbios do Rio. Mais forte que o desencanto dos homens - é a Fé em Deus".

Por esse motivo às Assembleias de Deus cresceram, pois estava sempre onde o povo estava. Nas vilas, favelas e subúrbios a fé pentecostal expandia-se e, como na matéria do Última Hora, ficava impossível não notar seus frutos espirituais e materiais.

Fonte:

Ultima Hora, Rio de Janeiro, segunda-feira, 19 de agosto de 1957, p.8/acervo digital da Biblioteca Nacional do RJ, disponível no site http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/

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