Gilberto Malafaia - lutas e combates na AD

Gilberto Malafaia estudou no Seminário Teológico Betel, para espanto dos seus companheiros, e deixou o Ministério de Madureira por se opor a "autoridade". Ajudou a fundar o IBP (Instituto Bíblico Pentecostal) mesmo com a oposição de muitos pastores que diziam ser "pecado" estudar teologia.

Ao sair de Madureira, congregou na AD da Penha (RJ) com o pastor José Santos. Se por um lado o pastor Gilberto deixou o Ministério de Paulo Leivas Macalão por discordar da rigorosidade dos usos e costumes, por outro, ele foi congregar numa AD conhecida como "a igreja do pecado".

Ao chegar na Penha foi sentar-se no banco. Três meses depois teria o ministério de presbítero reconhecido, mais tarde foi consagrado pastor. Chegou a ser vice-presidente do pastor Santos até que em 1972, 30 membros da Igreja Metodista Wesleyana insatisfeitos com a denominação, procuraram Malafaia para estabelecer uma nova igreja em Jacarepaguá, bairro da zona oeste do Rio. A igreja se tornaria a AD em Jacarepaguá. 


Malafaia com outros líderes na CPAD: "inflexível"

A pequena congregação foi favorecida pela rápida urbanização e pelo crescimento da população de classe média na região. A colaboração de alguns políticos também ajudou. Pastor Malafaia apoiou e recebeu ajuda do antigo senador Benjamim Farah e do deputado federal pelo antigo Estado da Guanabara, mais tarde Rio de Janeiro, Lysaneas Maciel.

Aliás, Lysaneas era conhecido como ferrenho opositor da Ditadura Militar, tendo inclusive o seu mandato cassado nos anos 70 por sua forte atuação na luta pelos direitos humanos. Assim como Benedita da Silva, Maciel destoava dos demais representantes evangélicos por não seguir a linha "politicamente correta" do conservadorismo político. Um apoio realmente inusitado para a época.

Segundo o Dicionário do Movimento Pentecostal, na década de 1970, pastor Gilberto começou a se destacar nas Convenções Gerais das ADs, seja como membro da diretoria e comissões, ou como debatedor dos mais diversos temas. Ainda presidiu o Conselho Fiscal da CGADB e, conforme o relato de seu filho mais velho, Samuel, ajudou a sanear a CPAD, a qual passava por um momento de turbulência administrativa.

Turbulência na CPAD? É possível que Samuel se referisse sobre o nebuloso capítulo dos questionamentos a respeito das finanças da Casa Publicadora levantados na Convenção Geral de 1975, quando Altamires Sotero da Cunha era o diretor geral da editora. Uma comissão especial foi criada para "examinar in loco toda documentação concernente" à CPAD. Ao final das investigações constatou-se que Sotero Cunha "procedeu com RETIDÃO e HONESTIDADE".

Mas as enfáticas declarações da comissão no jornal Mensageiro da Paz sobre a lisura dos negócios da direção da editora não foram suficientes para evitar o desgaste do seu diretor-geral. Afirma-se que Gilberto pressionou pela saída de Sotero Cunha da CPAD. Na CGADB de 1977, Cunha pediu demissão após discursar sobre as realizações da empresa em sua gestão.

Segundo Silas Malafaia, seu pai era estrategicamente colocado em determinados cargos porque "ele não tinha medo de investigar". E mais: "queria vasculhar, queria buscar o que era certo e o que era verdade". Tal obstinação "assustava", pois com a sua "sede de justiça" tornava-se "inflexível". Silas ainda lembrou: "Eu vi meu pai tirar gente poderosa das Assembleias de Deus, gente muito poderosa de quem todo mundo tinha medo de tocar, o meu pai não."

Silas estaria se referindo ao conhecido empresário e diretor geral da CPAD? Somente quem testemunhou os fatos pode responder essa pergunta. Anos depois, pastor Malafaia se chocaria com o diretor de publicações da CPAD, Nemuel Kessler. O embate foi motivado por questões internas envolvendo sua esposa, a professora Albertina Malafaia. Kessler acabou demitido.

Gilberto Malafaia também foi articulador da derrota da chapa de Madureira na CGADB de 1987, no Estado da Bahia. Tornou-se ferrenho opositor do Ministério onde iniciou sua carreira eclesiástica. Posteriormente deixou de apoiar o atual presidente da Convenção Geral.

Admirador de Nelson Mandela, Gilberto Malafaia, assim como o líder sul-africano, teve uma carreira de muitas batalhas e uma vida longeva. Coincidentemente os dois faleceram aos 95 anos de idade "velhos e fartos de dias". (Jó 42.17)

Fontes:

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007

COSTA, Jefferson Magno. Pastor Gilberto Malafaia - Homem de fé, visão e coragem. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2014.

Mensageiro da Paz, abril (nº4) de 1975.

Comentários

  1. Olá,
    Vi que citou uma edição bastante antiga do Mensageiro da Paz. Sabe onde eu poderia ter acesso a outras edições remotas?
    Obrigada

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  2. Mande mensagem no e-mail profmssantana@hotmail.com

    Posso te ajudar.

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