Agnello, o simples

Simplicidade. Eis uma virtude muito louvada, mas pouco desejada ou praticada. Segundo os melhores dicionários, simplicidade é ser (ou algo) desprovido de complicação, ou sofisticação. Ao falecer no dia 23 de setembro de 1990, o pastor Agnello José da Costa foi descrito pelo jornal O Assembleiano como um homem simples.

Para quem não sabe, Agnello foi um pastor da Assembleia de Deus em Santa Catarina. Liderou poucas e pequenas igrejas nas cidades do Estado, entre elas Mafra, São Bento do Sul e Canoinhas. Porém, como informou a extinto jornal "pastorear não era o seu forte". Percebendo essa característica, a Convenção Estadual "resolveu separá-lo exclusivamente para realizar trabalhos de ensino nas igrejas".


Agnello em pé ao centro com obreiros da AD catarinense
Sapateiro de profissão, Agnello tinha uma oficina na antiga rua do Norte, atual e movimentada João Colin em Joinville. Encontrou o Carpinteiro de Nazaré ainda nos anos 50 no antigo templo sede da AD na cidade. Logo após sua conversão, o recém-convertido sapateiro, desejou ardentemente descer às águas batismais em um dia de culto noturno. O pastor Satyro Loureiro, que na época pastoreava a AD, teve que batizá-lo naquela mesma noite no tanque interno da igreja.

Consta que sua leitura era somente a Bíblia, as revistas da Escola Bíblica Dominical, O Mensageiro da Paz e O Obreiro, da CPAD. Porém, depois de sua morte se descobriu para surpresa de muitos, que Agnello possuía uma pequena biblioteca em sua casa. Assim, mesmo sem grandes recursos literários, e sem ser um grande e eloquente pregador, o pastor sapateiro - segundo detalhou o periódico - pregava sermões que "nunca duravam menos de três quartos de hora, e não obedeciam à homilética, mas tinham a marca da profundidade espiritual, de uma vida de comunhão com Deus".

Por esse motivo, era respeitado como ensinador em Santa Catarina. Na verdade, seus sermões longos, diretos e de aplicação prática, em muito agradavam os crentes mais humildes. Ao término de cada ensinamento, o velho pastor concluía com um enfático amém. Eram muitos durante a mensagem, perdia-se a conta de tantos. Quando chegava em uma congregação, o período de oração era encurtado para que a reunião não fosse além da hora prevista para terminar.

Agnello era de certa forma folclórico. Representante legítimo de uma era, e de tempos de aprofundados estudos bíblicos e de muita simplicidade, ou seja, de pouca sofisticação ou glamour. Havia no simples obreiro uma grande identificação com o povo. Identificação essa que, na atualidade, se perdeu na vida de muitos líderes eclesiásticos. Faleceu de câncer no Hospital Betesda no Distrito de Pirabeiraba em Joinville aos 75 anos.

Fonte:

Texto adaptado do jornal O ASSEMBLEIANO. Joinville, ano IV, p. 11. novembro de 1990.

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