Os Escolhidos - fragmentos da história assembleiana

O livro "Os Escolhidos: a saga dos evangélicos na construção de Brasília" do jornalista Jason Tércio relata histórias surpreendentes sobre a Assembleias de Deus no Brasil. O objetivo do autor é contar como se deu a evangelização e instalação dos vários segmentos evangélicos no período da formação da nova Capital Federal. Nas páginas de "Os Escolhidos", se encontram diversas informações do trabalho pioneiro de batistas, presbiteranos, metodistas e, principalmente, assembleianos na grande obra do governo Juscelino Kubitschek.

Filho de um pioneiro assembleiano (seu pai Venâncio Rodrigues do Santos foi pastor e escritor na AD) Tércio numa linguagem acessível e objetiva, conta as aventuras e desventuras dos primeiros evangélicos em Brasília. Segundo o pastor Joanyr de Oliveira, que prefaciou o livro, Tércio "retrata um mundo que lhe é muito familiar".


Brasília foi projetada para ser a meta-síntese da administração JK, e o símbolo máximo do seu slogan "50 anos em 5". Trabalhadores de todo o Brasil se aventuraram na construção de uma utopia no Planalto Central brasileiro, da cidade que representasse o futuro de desenvolvimento, otimismo e capacidade de superação do país e  seu povo.

Ironicamente, na futura Capital, as ADs conseguiram sintetizar seus quase 50 anos em 5 também. Como fizeram isso? Tércio detalha com propriedade em sua obra, as divergências, negociações e rivalidades dos ministérios assembleianos com suas administrações personalistas. Brasília refletiu a fragmentação ministerial assembleiana, numa cidade sonhada para unir e não para dividir. 

Para os leitores dessas linhas, transcrevo alguns trechos significativos. Muitas outras informações se encontram no livro, mas deixo aqui um pequeno apanhado sobre os líderes e ministérios da AD. Dados não divulgados pela história oficial, mas que vale a pena compartilhar.

Paulo Leivas Macalão: um pitoresco olhar sobre o mítico líder.

Baixo, corpulento, era um dos principais líderes da Assembléia de Deus no Brasil, tendo expandido seu trabalho evangélico com proverbial rigidez. Obreiros de seu ministério que demonstrassem personalismo e um mínimo de independência eram severamente repreendidos, às vezes punidos com transferência para outra igreja ou simplesmente excluídos. Se ele não simpatizasse com alguém ou percebesse que o crente pretendia apenas usar sua influência, Macalão o neutralizava com um gesto simples, porém bastante eficaz - cumprimentava com as pontas dos dedos. 

Os acordos de limites de jurisdição eclesiástica: o livro relata os acordos informais feitos entre os líderes para depois serem desrespeitados:

No acampamento da construtora Castor, na Granja do torto, os trabalhadores crentes continuavam fazendo cultos num barraco erguido por eles. Discutiam a necessidade de fundar mais um templo da Assembleia de Deus. Havia, porém, uma barreira: acordo recém firmado entre Madureira e outros ministérios assembleianos estabelecera limites territoriais - onde existisse igreja de Madureira não haveria outro ministério, e vice-versa. No escritório da igreja de São Cristóvão, Rio, o pastor-presidente, Alcebíades Vasconcelos, seu vice, Túlio Barros Ferreira, e Paulo Macalão tinham se reunido, com um mapa do Brasil sobre a mesa, delimitando sua respectivas áreas de atuação.

Criação de ministérios autônomos: a nova Capital despertava um ímpeto de independência nos novos obreiros que ali estavam. Esse foi o caso do pastor Francisco Miranda.

Assim Miranda criou uma igreja autônoma, presidida por ele, sem vínculo com sede em São Cristóvão [...] A independência unilateral foi proclamada na noite de 15 de janeiro, sexta-feira, durante um culto, transformado em assembleia extraordinária, para tratar, segundo Miranda informou, de assuntos administrativos urgentes... Os auxiliares de Miranda logo passaram a considerar seu método administrativo muito personalista e centralizador. Nas conversas informais após os cultos, brotava a discórdia, prenunciando uma tempestade. 

Fonte:

TÉRCIO, Jason. Os Escolhidos - a saga dos evangélicos em Brasília. Brasília: Coronário, 1997.

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