Assembleia de Deus em Mato Grosso - contra o aggiornamento

Causou espanto e, em muitos casos, indignação para muitos evangélicos, a divulgação da resolução da Mesa Diretora da Convenção de Ministros das Assembleias de Deus do Estado no Mato Grosso (COMADEMAT), na qual reafirma "o seu ponto de vista no tocante aos sadios princípios" implantados pelas Assembleias de Deus no Brasil.

O documento é praticamente a cópia de outras normativas muito conhecidas pelos estudiosos assembleianos,  mas que gradativamente estão sendo relaxadas ou até mesmo abandonadas por muitas igrejas e ministérios. As igrejas do Mato Grosso, assim, pretendem ir na contramão do "aggiornamento" do pentecostalismo brasileiro, conceito trabalhado pela historiador Moab César Carvalho em seu livro "O Aggiornamento do Pentecostalismo Brasileiro".


Uma rápida pesquisa nos acervos do Mensageiro da Paz apontam para a persistente postura tradicional do pastor Sebastião Rodrigues de Souza. Eleito presidente da CGADB para o biênio 1993/95, o informativo assembleiano de março de 1993, celebrou a eleição do líder de Cuiabá como a afirmação do "perfil conservador da igreja".

Em outros textos no Mensageiro da Paz, o então presidente da Convenção Geral falou das suas experiências com a igreja e sobre a televisão, o qual segundo ele, era para Deus um "aparelho maldito". O ancião não admitia que um crente salvo pudesse ter esse tipo de mídia e discorria sobre os trajes femininos, maquiagens, jóias, anéis e correntes, considerados "vaidades" abomináveis diante de Deus. O futebol do mesmo modo era alvo de críticas por parte do líder da CGADB.

No Encontro Nacional de Líderes das Assembleias de Deus (ELAD) em janeiro de 1994 como presidente da CGADB, o pastor Sebastião debateu com os demais líderes sobre o uso da televisão. Afirmou ter "recebido determinação divina" para alertar os pastores sobre o aparelho".

Entre as propostas de renúncia da TV e de suas programações ou o uso da mídia para evangelização, os debates foram intensos. Algumas igrejas estavam com projetos em andamento na área televisiva e a Rede Boas Novas em Manaus/AM já era uma realidade. A contradição naquele momento era visível e forte acerca do assunto.

No final das contas, ninguém pode negar que o pastor Sebastião foi coerente com suas pregações, mas fica a dúvida: as normas do documento serão de fato obedecidas sempre, mesmo depois da morte ou jubilação do líder de Cuiabá? A determinação draconiana será respeitada por todos os membros independente da sua posição social?

Assembleianos observadores e críticos sabem que, muitas vezes a severidade, a "doutrina" e os sacrifícios de "santidade", quase sempre é imposta para as ovelhas das periferias. E que nem mesmo a família e os auxiliares mais próximos da liderança conservadora se submete a tamanho fardo por eles defendido.

Em resumo: usos e costumes nas ADs é um assunto que nunca sai de moda e ainda vai render muito na denominação.

Fontes:

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

COSTA, Moab César Carvalho. O Aggiornamento do Pentecostalismo Brasileiro: as Assembleias de Deus e o processo de acomodação à sociedade de consumidores. São Paulo: Editora Recriar, 2019.

DANIEL, Silas, História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Os principais líderes, debates e resoluções do órgão que moldou a face do movimento pentecostal brasileiro, Rio de janeiro: CPAD, 2004.

Comentários

  1. Isso não é pra santificar a igreja(irmão)não.E sim talvez seria um "delirio" espiritual.Veio a lembrança do missionário DAVI MIRANDA. O povo só ira afastar do mal ou pecado(ou como queira chamar)se voltar ao ensino genuino da palavra de DEUS.Se voltarmos a oração,jejum e a consagração isso sim ,o povo irá fazer diferença nesse mundo corrompido pelo pecado.

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  2. Prezado amigo, quem sou eu para julgar ou duvidar das determinações divinas dadas ao pastor Sebastião Rodrigues de Souza, um líder que foi grandemente usado para o desenvolvimento da Assembleia de Deus no Mato Grosso. Porém, temos algumas coisas a considerar: os costumes assembleianos foram implantados pelos primeiros pastores brasileiros, por causa da cultura da época deles. Os missionários suecos e americanos vieram de outra cultura e acho que não se preocupariam em implantar costumes na igreja brasileira. Sabemos que costumes são locais, regionais e temporários. Exemplo: uso do chapéu pelos homens e vestidos longos e com mangas compridas pelas irmãs, adotado pelo Ministério de Madureira. Quem usa isso hoje? Agora, temos que ter o padrão dos fiéis. Tem que haver uma diferença entre os cristãos, inclusive na forma de vestir e do comportamento. Se não houver um cuidado, os homens hoje que já estão adotando o uso da barba, poderão daqui uns dias começar a usar "brincos" na orelha e ir de bermuda para os cultos. Então, não pode haver exagero na cobrança de certos costumes, mas também a liderança tem que ficar atenta para a entrada de certas coisas que realmente serão nocivas ao rebanho. Lembrando que o líder matogrossense toda vida foi contra a TV, mas será que ele também é contra o uso da internet, facebook, whatsApp, etc...????

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  3. Aprende-se em Teologia Prática que a Sã Doutrina deve abranger tanto a nossa Ortodoxia (Doutrina Correta) quanto a nossa Ortopraxia (Prática de vida coerente com a Doutrina).

    Nesse sentido, não é possível separar Doutrina de Costumes; a primeira sempre se manifestará concretamente nos segundos.

    Que vantagem existe em conhecer a Doutrina do perdão, se não houver a prática de estar disposto a perdoar? Ou qual vantagem existe em conhecer a Doutrina das obras da carne, se não houver a prática de estar disposto a evitá-las e crucificá-las?

    Consequentemente, de que adianta conhecer a doutrina da Salvação, junto com seus desdobramentos (arrependimento, conversão, justificação, santificação) se não existir uma prática que delimite claramente o nosso comportamento (tanto em disposições internas quanto em atitudes externas) como Povo Santo e Exclusivo de Deus das demais pessoas não-crentes?

    Diante disso, torna-se necessário que a Prática da Palavra seja incentivada, não só nos usos e costumes correspondentes à indumentária, evidentemente, mas todas as áreas do nosso comportamento devem evidenciar a conformação de nossa vida à Imagem do Filho de Deus e à Santidade, sem a qual, ninguém verá ao Senhor.

    Por mais que alguns costumes assumidos por algumas AD's sejam expressões locais, há uma fundamentação bíblica para eles, e por consequência, há Princípios Éticos Divinos presentes em tais Usos e Costumes, sendo estes, por isso, observáveis.

    Obs: No caso analisado, apenas consideraria a proibição da bateria um exagero, no caso, uma ampliação metafórica indevida do texto bíblico usado como base.

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