Matheus Iensen - chegou a hora de partir (2ª parte)

Matheus Iensen já era conhecidíssimo por sua atuação no rádio e pelo ministério de louvor, quando foi apoiado pela Convenção das Igrejas Assembleias de Deus do Estado do Paraná (CIEADEP) para concorrer a uma vaga de deputado federal e participar da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), a qual elaboraria no processo de redemocratização, uma nova Constituição para o país.

Segundo Paul Freston e seu livro "Evangélicos na Política Brasileira", a escolha do nome de Iensen encaixava-se no perfil de muitos outros candidatos apoiados pelas ADs: a do cantor ou pregador conhecido e detentor de capital político para alavancar uma candidatura e a do empreendedor bem sucedido; sinal da benção de Deus sobre seus negócios.

Freston também salienta, que a mística da ANC ajudou na mobilização das minorias na defesa de seus valores. Assim, o discurso dos candidatos evangélicos em defesa da família ou sobre a suposta ameaça a liberdade de culto era a tônica das campanhas pentecostais e evangélicas em geral.

Não por acaso, na biografia de Iensen destaca-se que o cantor-deputado "contribuiu muito para mudar o quadro caótico que se visualizava após o período ditatorial" e que "promoveu, com destaque, a defesa dos ideais cristãos". Com esse discurso amplificado pelo Sistema Iensen de Comunicações, o apresentador e dono da rádio Marumby conseguiu dois mantados seguidos na Câmara Federal (1987-1995)


Porém, há um fato da história familiar dos Iensen que é desconhecida do grande público evangélico. Na década de 1950, um ex-cunhado de Matheus, Mamédio Seme Scaff foi vereador e prefeito em Marilândia do Sul, no interior do Paraná. Em 1962, Scaff teve apoio das ADs no Paraná para concorrer a deputado estadual e Iensen trabalhou na campanha vitoriosa do cunhado. Em Curitiba, Matheus tentou, sem sucesso, uma vaga de vereador antes de 1986.

Eleito para na ANC, Iensen apresentou 180 emendas, das quais 46 foram aprovadas. A mais famosa delas foi a emenda que garantiu cinco anos de mandato para o então presidente da República José Sarney. Oficialmente, em sua biografia, Matheus justifica a emenda dos cinco anos como necessária para garantir a transição democrática e o término da Constituinte sem sobressaltos que uma campanha presidencial ainda em 1988 poderia gerar.

Freston, porém, destaca que a aprovação da emenda dos cinco anos para Sarney, foi resultado do "toma lá, da cá" da política brasileira. Vários deputados (evangélicos ou não), inclusive o autor da proposta, ganharam concessões de rádio e televisão. Tempos depois, um deputado estadual da AD no Paraná afirmou, que a concessão da rádio seria para a igreja e não para o deputado governista.

Outro projeto de Iensen muito controverso, foi o de abolir os direitos autorais sobre músicas sacras com base em textos bíblicos reproduzidas em rádio. O Mensageiro da Paz (edição de agosto de 1988) informa, que "Matheus Iensen foi sensível aos apelos" da liderança evangélica. Freston por sua vez, indica que a emenda lhe "trouxe desgaste".

Em 1990, Matheus fez dobradinha com o seu filho João Falavinha Iensen, que conseguiu uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná. Nas eleições de 1994, João elegeu-se deputado federal e seu irmão, Vanderlei Falavinha Iensen foi eleito deputado estadual em 2002. Nas últimas eleições municipais, o seu neto João Rafael Iensen tentou uma vaga para vereador em Curitiba.

Nos últimos anos, Iensen estava aposentado e recolhido em seu apartamento em Curitiba. Recebia visitas e participava dos cultos da AD na cidade. Um dos sobrinhos do cantor sacro resumiu nas redes sociais de forma exata quem foi Matheus Iensen:
O cantor evangélico, pastor, ex-deputado federal constituinte, mas principalmente, meu querido tio Matheus nos deixou na madrugada deste dia para voar rumo ao horizonte da glória eterna, silenciando sua bela voz na face da terra até aquele dia. Homem rígido, venceu dificuldades extremas durante toda a sua jornada neste mundo, ultrapassou seus próprios limites, construiu um ministério radiofônico que abençoou tantas vidas que nunca saberemos enumerar, mas que o Senhor conhece. Sofreu muitas batalhas, algumas calado, outras como um guerreiro indomável, mas sempre no temor do Senhor. Não foi perfeito, como ninguém o é, mas uma coisa eu sei: Tio Matheus combateu o bom combate, acabou a carreira e guardou a fé. Que suas obras o sigam e que o grande nome do Senhor Jesus Cristo que sempre foi glorificado na sua vida, também o seja na sua morte. O Senhor deu, o Senhor tirou. 
BENDITO SEJA O NOME DO SENHOR!
Fontes:

CARVALHO, Roberto de. IENSEN, Andréa. Matheus Iensen: minha vida, minha história. Curitiba, 2001.

FRESTON, Paul. Evangélicos na política: história ambígua e desafio ético. Curitiba: Encontrão Editora, 1994.

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