As Assembleias de Deus e a geopolítica das convenções

Gedeon Alencar, em sua obra “Matriz Pentecostal Brasileira”, afirma que relacionar as cidades ou igrejas hospedeiras da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) seria uma "forma didática de entender os sistemas geopolíticos das entranhas dessa igreja". Receber uma CGADB é sinal de poder econômico e político da liderança da igreja escolhida.

Alencar observa que a "politização geográfica" da Convenção Geral nasceu em 1930, em Natal/RN, com a intimação feita pelos pastores da região Norte/Nordeste para resolver problemas que atrapalhavam o "progresso e harmonia da causa do Senhor" - conforme a convocação publicada no Boa Semente.

O sociólogo também chama a atenção para o fato de que nenhuma CGADB foi realizada no Ministério de Madureira. Paulo Macalão até tentou hospedar a Convenção Geral de 1971, no templo da Rua Carolina Machado, mas a Junta Executiva resolveu escolher a cidade de Niterói/RJ.

A CGADB de 1971 não foi realizada em Madureira, porém, o pastor Alípio da Silva, vice de Macalão no Ministério, foi eleito presidente da Mesa Diretora da Convenção Geral. Compensação pela perda da oportunidade de hospedar o encontro nacional?

Curiosamente, quando a liderança das ADs resolveu realizar a CGADB na região Centro-Oeste, escolheu-se o estado de Goiás, onde o Ministério de Madureira era (e ainda é) hegemônico, para sediar o evento em 1985. Todavia, a igreja que recebeu a convenção foi justamente a AD Ministério de Anápolis, cujo líder, o pastor Antônio Alves Carneiro, era um dissidente de Madureira há muitos anos.

Com a ascensão do pastor José Wellington Bezerra da Costa à presidência da CGADB, as reuniões convencionais estrategicamente foram organizadas nas igrejas dos líderes aliados. Mesmo na época do centenário da denominação, a proposta das duas convenções assembleianas no Pará ligadas à Convenção Geral para sediar o evento foi negada.

CGADB no Pará em 2019: imagem do blog do Tiago Bertulino

Com a criação em 2017 da Convenção da Assembleia de Deus no Brasil (CADB), novas estratégias surgem. A última vez que a cidade de Belém/PA recebeu a CGADB foi em 1955. Com a disposição nos últimos anos do pastor Samuel Câmara em fazer oposição ao atual status quo da Convenção Geral, nem se cogitava escolher Belém do Pará ou Manaus/AM para as reuniões nacionais. Os Câmaras, suas igrejas e convenções, praticamente inexistiam para o Mensageiro da Paz.

Agora, mais de 60 anos depois, a cidade de Ananindeua na região metropolitana de Belém do Pará, próxima ao berço do pentecostalismo assembleiano no Brasil recebe a CGADB em 2019. Ironicamente, a CADB fará em junho sua convenção na cidade de São Paulo/SP no distrito e na igreja de Santo Amaro ligada a nova entidade. Como se sabe, São Paulo é a base do Ministério do Belenzinho comandado pela família Bezerra da Costa.

Percebe-se nas escolhas dos locais para sediar as convenções concorrentes uma "guerra fria" versão assembleiana. Um conflito de interesses, de busca de legitimação pela história e símbolos caros aos crentes mais antigos. Assunto para a próxima postagem...

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael de. Frida Vingren: uma biografia da mulher de Deus, esposa de Gunnar Vingren, pioneiro das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil. Curitiba: Editora Prismas, 2017.

Comentários

  1. Atrevidamente completo o penúltimo parágrafo somando que CADB vem a São Paulo berço do Ministério do Belém, justamente na AD Santo Amaro dissidentes do Ministério de Madureira capitaneada pelos clã Ferreira. Entre mortos e feridos, a guerra fria permanece nas sutis provocações.

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  2. Deus criou a Igreja, os homens criaram as convenções. A Igreja sal e luz da terra; as convenções meio para se perpetuar no poder. Parabéns pela postagem.

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  3. Que o Senhor Jesus levante homens fieis a Ele e sua Palavra !

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  4. Estes ministérios e convenções agem como as facções milicianas. Brigam pelo poder para alimentar o ego e conquistar territórios e tudo em nome de Deus.

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