O general Macalão, positivismo e o Ministério de Madureira

No livro Traços da vida de Paulo Leivas Macalão, Zélia Brito relata sobre a chamada ministerial do Pastor Paulo e da constante resistência do pai do futuro líder de Madureira, o General João Maria Macalão, em aceitar a mudança de planos do filho. O caçula da família gaúcha, deveria conforme a vontade do seu genitor, seguir a carreira militar.

Segundo Zélia, enquanto o jovem Paulo ainda estava no processo de conhecimento do evangelho, o General João Maria o confrontava com os livros de Darwin. Esse tipo de enfrentamento era típica para um militar de origem positivista, formado na Escola Militar do Rio Grande do Sul nos últimos anos do Império Brasileiro e no período da implantação da República.

O positivismo, corrente filosófica francesa que teve início no começo do século XIX, defendia o conhecimento científico como único saber verdadeiro. Todas as outras formas do conhecimento humano não comprovadas cientificamente eram consideradas crendices e vãs superstições.

No Rio Grande do Sul, o positivismo tinha um grande farol: Júlio de Castilhos (1860-1903), político e antigo governador do Estado. Castilhos tinha como meio de divulgação dos ideais positivistas A Federação, o "alcorão partidário" dos republicanos gaúchos, do qual João Maria era assinante. E é através do jornal, que as afinidades do pai do pastor Paulo com os políticos e militares positivistas podem ser percebidas.

Fragmento A Federação de 1893

Macalão lutou na Revolução Federalista ao lado do então governador Júlio de Castilhos. O conflito, uma verdadeira guerra civil, foi marcado por disputas sangrentas e degolas. Em maio de 1893, A Federação noticiou detalhes da primeira vitória dos legalistas junto ao arroio Inhanduí, em Alegrete, município sul-rio-grandense. O desempenho do tenente João Maria (e de outros oficiais) é descrito em linguagem heroica. Segundo o "alcorão partidário", o tenente Macalão dirigiu a artilharia contra os inimigos com "indômita coragem e sangue frio".

Anos depois, em 1907, João Maria participou de um almoço com importantes líderes políticos e militares gaúchos em consideração ao General Salvador Pinheiro Machado. Entre discursos e felicitações feitas em homenagem a célebres políticos, "o devotado republicano, ilustre capitão João Maria Macalão" teve a honra de brindar ao "imortal Floriano Peixoto", mais conhecido na história como "Marechal de Ferro".

Pôde-se averiguar em tudo isso, que o futuro general galgava postos e respeito num ambiente de grandes líderes positivistas. Posteriormente, participou da Revolução de 1930, no mesmo ano em que seu filho caçula era separado ao pastorado por Lewi Pethrus, no Rio de Janeiro. Possivelmente, na casa do jovem Paulo, muitas discussões giravam sobre o futuro da República brasileira.

Uma das principais características do positivismo na esfera política era a defesa de um governo forte e centralizador, capaz de modernizar a sociedade e educar os cidadãos. Isso poderia se dar com ou sem democracia. A Era Vargas (1930-1945) reproduziu a filosofia defendida por Castilhos, ao enfraquecer o legislativo, as oligarquias estaduais e monopolizar no executivo as principais ações para o desenvolvimento da nação.

É dentro desse contexto, de transformações políticas e sociais e de muita proximidade com o poder, que o jovem obreiro Paulo Leivas iniciou seu ministério. Ao longo dos anos, o Ministério de Madureira vai absorver as mesmas características políticas do seu tempo: a centralização.

É nesse contexto, como bem observou o sociólogo Gedeon Alencar, que as ADs vão construir seu modelo ministerial. Macalão segue essa linha intensamente e vai ser criticado por isso, e chamado ironicamente de "papa". E o gigantismo de seu Ministério e expansão vai ser a razão de intensos debates na Convenção Geral.

Fragmento do A Noite de 07 de agosto de 1933

Mas, voltando ao general João Maria, tudo indica que ao final da vida o militar se rendeu ao evangelho. Quando o inaugurou no dia 1º de janeiro o templo da AD em Bangu, o general parabenizou-o, levando o Pastor Paulo as lágrimas. Meses depois, no dia 06 de agosto de 1933, aos 66 anos de idade, o General João Maria Macalão faleceu. Suas últimas palavras teriam sido; "Deus escreve direito por linhas tortas".

Dos três filhos, Fernando, o mais velho, tornou-se diretor de uma grande empresa do Rio de Janeiro; Maria teve um casamento respeitável; e Paulo, que deveria ser militar, aventurou-se em ser soldado de Cristo. Linda história!

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

SILVA, André Luiz. História da Assembleia de Deus em Bangu – 2006 – Edição do Autor.

MACALÃO, Zélia Brito. Traços da vida de Paulo Leivas Macalão, Rio de Janeiro: CPAD, 1986.

NETO, Lira. Getúlio : dos anos de formação à conquista do poder (1882-1930), São Paulo : Companhia das Letras, 2012.

A Federação - Órgão do Partido Republicano disponível em http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/

O site da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro o acesso é gratuito e o sistema de buscas é prático.

Comentários

  1. Na verdade, Deus escreve cert por linhas certas, pois tudo está sob o controle do Senhor. Pr. Paulo Leivas já estava nos planos de Deus sob a missão dele aqui na terra, que por sinal executou muito bem. Parabéns pelo texto.
    Esdras Souza.

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