João Maria Macalão - o general revolucionário

Um traço da vida e obra do fundador do Ministério de Madureira, Paulo Leivas Macalão (1903-1982) é sua origem social abastada, numa época em que o pentecostalismo estava identificado com as classes sociais mais humildes e desprezadas pelo poder público.

Macalão nasceu em Santana do Livramento, município do Rio Grande do Sul fronteiriço com o Uruguai, quando seu pai João Maria Macalão, capitão do Exército Brasileiro, servia no 7º Regimento de Cavalaria (RC) da região. A mãe, Georgina Leivas Macalão era uma jovem conhecida dos círculos sociais mais abastados de Pelotas, "onde a todos encantava com a virtuosidade do piano".

João e Georgina casaram-se em Pelotas e tiveram três filhos: Fernando, Maria Isidora e Paulo. Os nomes dos rebentos foram escolhidos para homenagear santos católicos. No caso de Paulo, a história mostrou que o nome foi apropriado e profético, pois assim como Paulo, o Apóstolo dos gentios, o caçula da família se destacou na evangelização de muitos povos.

Infelizmente, o menino Paulo cedo perdeu a sua mãe. Georgina, doente e depressiva, faleceu quando seu caçula tinha apenas 5 anos de idade. O pai na impossibilidade de cuidar dos filhos ainda pequenos, resolveu enviá-los ao Rio de Janeiro para ficarem aos cuidados de um tio materno. A transferência das crianças gaúchas deve ter se dado por volta de 1908.

Longe dos filhos, ainda no Rio Grande do Sul, João Maria foi promovido de capitão a major "por merecimento", em março de 1911. Zélia Brito, no livro Traços da vida de Paulo Leivas Macalão comentou que seu esposo relembrava das constantes lutas e perseguições do pai a contrabandistas na região de Santana do Livramento.

O Paiz, de 21 de março de 1913

De fato, os jornais da época relatam que em abril de 1912, o major Macalão liderando "uma força de 50 praças" se juntou a outros soldados para perseguir cerca de 200 contrabandistas perigosos e bem armados. Pelo bom trabalho do major, o Ministro da Fazenda sugeriu ao Ministro da Guerra elogios ao oficial (e sua tropa) por se portar "briosamente" em combate.

Em 1913, João foi transferido do 7º RC de Livramento para o 1º RC em Itaqui. A transferência de Macalão causou "ótima impressão", pois segundo o jornal O Paiz, João Maria era um "oficial inteligente e de notável preparo profissional". Por suas qualidades e competência, em 1914, foi condecorado por seus trabalhos e, em 1916, foi promovido a tenente-coronel.

Zélia informou ainda, que João Maria, anos depois voltou ao Rio para "comandar o Batalhão de Guardas" no bairro de São Cristóvão. A residência escolhida pelo militar junto à Intendência da Guerra em São Cristóvão era muito próxima da casa da família Brito, local de cultos e orações frequentados por Paulo Leivas em seu processo de conversão.

Diário Carioca, 12 de novembro de 1930

Morando na antiga Capital da República, João Maria foi participante da Revolução de 1930, e da ascensão do conterrâneo Getúlio Vargas ao poder. Tanto que a imprensa da época registrou a participação (e o preparo) do "General" Macalão no "Churrasco da Vitória", onde um "grupo seleto de gaúchos antigos devotados à causa revolucionária" promoveu um encontro festivo na casa de um famoso jornalista. Os militares "devotados à causa revolucionária" também poderiam ser chamados de conspiradores, mas como o movimento de 30 terminou vitorioso, a narrativa histórica lhes foi favorável.

Tempos depois, em fevereiro de 1932, o revolucionário João Maria foi reformado (aposentado). Segundo o regulamento do Exército, ao passar para a reserva, o oficial recebe automaticamente uma promoção. Assim de coronel, Macalão foi promovido a General de Brigada.

JB, 20 de fevereiro de 1932

É possível que o coronel revolucionário, por seu trânsito entre os mais graduados militares, já fosse chamado de general informalmente. Afinal, seria o generalato a próxima e previsível promoção do militar gaúcho. Na notícia do "Churrasco da Vitória" ele também é intitulado de general.

Enquanto João Maria vivia momentos históricos no Batalhão da Guarda, suas atenções também se voltavam para o filho caçula. Paulo, que deveria seguir carreira militar, cada vez mais estava voltado para outras causas. Da estranha seita evangélica próxima à sua casa em São Cristóvão, o jovem agora se embrenhava pelos subúrbios do Rio. Mal sabia ele, que o caçula da família faria história dentro das ADs no Brasil.

Assuntos para uma próxima postagem...

Fontes:

MACALÃO, Zélia Brito. Traços da vida de Paulo Leivas Macalão, Rio de Janeiro: CPAD, 1986.

Os demais fragmentos dos jornais Diário Carioca, O Paiz, Jornal do Brasil e outros, foram acessados no site da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O acesso é gratuito e o sistema de buscas é prático. 

http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/

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