As Assembleias de Deus fragmentadas do Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro ainda era a Capital da República do Brasil quando, em 1925, o missionário sueco Gunnar Vingren e sua esposa Frida organizaram oficialmente a Assembleia de Deus no bairro de São Cristóvão, Zona Norte da cidade. Conduzida pelos obreiros escandinavos, o trabalho pentecostal expandiu-se por toda a região do antigo Distrito Federal e o estado fluminense.

Ainda na década de 1920, Paulo Leivas Macalão deu início ao seu ministério nos subúrbios do Rio. Não era uma divisão formal, pois Macalão desenvolvia suas atividades evangelísticas em cooperação com os suecos, mas o próprio Vingren havia registrado em seu diário o perfil independente do jovem obreiro.

Em 1941, finalmente, o Ministério de Madureira obteve sua personalidade jurídica. Informalmente, porém, a distinção Missão e Madureira já tinha se imposto nas ADs do Rio, e por conta das circunstâncias, com mais força em São Paulo. O saudoso pastor José Pimentel de Carvalho, em histórica entrevista ao O Assembleiano em 1987, ao comentar sobre a unidade das ADs, declarou estar apenas observando o "fracionamento" que ele considerou "irreversível" iniciado por volta de 1940. Provavelmente, o veterano obreiro relembrava o caso de Madureira.


Templo da AD: Ministérios "fracionados"


As autonomias promovidas pelo pastor Alcebiades Vasconcelos na AD em São Cristóvão em 1959, é dado como o marco inicial da fragmentação no Rio. Na época, Vasconcelos, tentando contornar possíveis cisões na igreja, apresentou um plano de autonomia e emancipou as congregações do Leblon, Lapa, Rio Comprido, Vila Isabel, Tijuca, Todos os Santos, Bonsucesso, Caetés, Olaria, Ilha do Governador, Penha e Cordovil.

De lá para cá, as ADs, não só no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil passaram por transformações que aceleraram o processo de "fracionamento" citado pelo pastor Pimentel de Carvalho. O historiador Maxwell Fajardo conceitua essa dinâmica de "esgarçamento institucional", ou seja, a denominação se fragmenta, sem, contudo, romper com sua base comum.

Marina Corrêa, por sua vez, ao analisar a lógica e organização dos Ministérios compara a multiplicidade de ramificações assembleianas a um sistema de franquia. Afinal, a "marca" Assembleia de Deus é sinal de retorno garantido e ajuda a enfrentar a concorrência no campo religioso brasileiro.

Concorde ou não com os conceitos de fracionamento, esgarçamento ou franquia, a realidade se impõe: segundo O Globo, há 2.819 registros na Receita Federal de igrejas nomeadas Assembleia de Deus com sobrenomes diversos. É o milagre da multiplicação do pequeno núcleo de fiéis da década de 1920.

No olhar do pastor José Wellington Bezerra da Costa, esse modelo de concessão de autonomias no Rio gera igrejas que ficam "patinando para o resto da vida, porque o que seus membros contribuem mal dá para o pastor comer". Assim, a fragmentação teve seu preço: o enfraquecimento institucional das ADs cariocas. Excetuando o Ministério de Madureira, as ramificações geraram igrejas com pouca expressão no contexto da política eclesiástica das ADs.

Não por acaso, que a Convenção Geral nas últimas três décadas tem sido dominada por oligarquias de outras regiões do país, principalmente de São Paulo. Da antiga influência carioca na denominação pentecostal, ficou a sede da CGADB e a CPAD no Rio de Janeiro. Lembranças de tempos áureos dos irmãos cariocas.

Fontes:

ALENCAR, Matriz Pentecostal Brasileira: Assembleias de Deus 1911-2011, Rio de Janeiro: Ed. Novos Diálogos, 2013.

ARAÚJO, Isael. José Wellington – Biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. 

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

CORREA, Marina Aparecida Oliveira dos Santos. Assembleia de Deus: Ministérios, carisma e exercício de poder. São Paulo: Fonte Editorial, 2013.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil - Curitiba: Editora Prisma, 2017.

O ASSEMBLEIANO. Joinville ano II nº6 dez 87/jan.88 p.5

O Globo. Domingo, 24 de junho de 2018. disponível em:
https://oglobo.globo.com/rio/igrejas-no-rio-sao-registradas-em-asilo-escritorio-ate-estacionamento-22814658

Comentários

  1. Infelismente, no caso do Rio, a culpa foi de Vingren. Deveriam ter lutado pela unidade do movimento pentecostal no então Distrito Federal e seguir a orientação da Suécia de " Igrejas Livres". Uma igreja só emancipada por município.

    Dar autonomia a igreja de Bangu gerou todo o problema. O missionário Vingren deveria ter usado de suas atribuíções e ter remanejado PLM.

    Muitos alcançados pelo trabalho de Madureira. Mas vejam o que virou?

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  2. ...E eu também não consigo entender como.o Rev. Alcebíades, homem tão culto, não conseguiu resolver o problema em 1958. Eu saberia o que fazer com todo o respeito ao grande homem de Deus que foi A.P. Vasconcelos.

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