O Aggiornamento do Pentecostalismo

Defendida por Moab César Carvalho Costa, no dia 16 de novembro de 2017, a tese de doutorado em História, O Aggiornamento do Pentecostalismo: as Assembleias de Deus no Brasil e na cidade de Imperatriz-MA (1980-2010), é mais uma excelente contribuição acadêmica para melhor entender as transformações ocorridas nos últimos anos na maior igreja pentecostal do Brasil.

É muito comum, os crentes mais antigos comentarem sobre as mudanças na denominação. A expressão "naquele tempo era (ou não era) assim" é corriqueira entre os nostálgicos irmãos. Moab, através de apurada pesquisa bibliográfica e de campo, mais o levantamento de diversos dados e fontes históricas, tenta responder o porquê das recentes alterações nas ADs.

Para essa tarefa, Costa usa o termo italiano aggiornamento ou aggiornare, que significa “atualização”. Esta foi a palavra de orientação do Concílio Vaticano II (1962-1965), convocado pelo Papa João XXIII. O objetivo era claro: a cúpula da Igreja Católica precisava criar condições para que a igreja voltasse a crescer em número e influência, não perdesse mais fiéis e mantivesse a hegemonia no campo religioso.


Segundo o autor:
O termo aggiornamento  do pentecostalismo, utilizado nesta pesquisa, difere em alguns aspectos do realizado pela Igreja Católica, e é aqui empregado como uma atualização e renovação de crenças e práticas das igrejas pentecostais clássicas, principalmente das ADs, com objetivos específicos de acomodação à sociedade de consumidores, bem como de manutenção e crescimento da influência no campo religioso brasileiro em virtude da possibilidade de atrair e fidelizar novos prosélitos – indivíduos dotados de maior autonomia e de maior possibilidade de trânsito religioso proporcionado pela pulverização do campo religioso brasileiro a partir da chegada das igrejas neopentecostais. (p.24-25)

Para melhor compreensão dessas ideias, Costa faz a seguinte periodização: de 1911 a 1980, quando o controle dos padrões comportamentais das ADs sobre os seus membros era rígido, e a identidade assembleiana, sólida. Nesse momento, o Brasil estava em processo de grandes transformações: a população migrava do campo para a cidade, mas os valores e mentalidades ainda permaneciam tradicionais, assim como nas igrejas. É o momento da consolidação do ethos sueco-nordestino nas ADs.

Moab ao centro e os membros da banca (16/11/2018)

Na segunda fase: de 1980 a 2010, às mudanças na sociedade brasileira são intensas, resultante da crescente urbanização e globalização cultural e econômica. No campo religioso, a concorrência se acelera com o aparecimento das igrejas neopentecostais com suas práticas e mensagens voltadas para o aqui e agora. Essa combinação, faz do novo crente mais do que um adorador, e sim, um consumidor. Cresce e se desenvolve, a instituição religiosa que oferece os melhores serviços religiosos e satisfação para a alma.

É nesse contexto, que as ADs forçosamente se adaptam ao novo cenário religioso e econômico. Os antigos padrões de santidade e culto dão lugar aos novos modelos litúrgicos. Alguns denominam essas transformações de contextualização, outros de mundanismo. Moab intitula de aggiornamento, que nada mais é que o desmonte do ethos sueco-nordestino mantido por décadas na denominação.

Moab César Carvalho Costa pertence à AD em Imperatriz (MA) desde 1990, e muito das transformações ocorridas nas ADs ele mesmo vivenciou como membro e obreiro. Dos estudos da sua própria igreja local, Moab expandiu suas análises para os Ministérios nacionais.

A tese, é um amplo retrato da transição histórica das AD nas últimas décadas. Leitura obrigatória e instigante em todos os sentidos. 

Tese disponível

https://drive.google.com/file/d/1nMUxh2MoAJ1YnaDC4klPJHTH3cDSU9Xl/view

https://drive.google.com/file/d/1nMUxh2MoAJ1YnaDC4klPJHTH3cDSU9Xl/view e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, como requisito parcial para obtenção do Título de Doutor em História. São Leopoldo 2017.

Comentários

  1. As Assembleias de Deus deveriam voltar as origens porque do jeito que está vai acabar se misturando ao mundão das igrejas mercenárias que mais parecem empresas que igrejas. Vi um post no blog BUSK BÍBLIA falando da visão que as igrejas Assembléia de Deus fazem dos céus e do paraíso… é aquilo mesmo? Muito diferente do que eu pensava, muito interessante!

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